Como Enterrar o Antifascismo: dos Acordos com a Polícia à Criminalização do Ingovernável

Dia 21 de julho, ocorreu uma em São Paulo uma reunião de diversos movimentos sociais e partidos ditos de oposição com órgãos públicos e as forças policiais. Os grupos presentes foram: Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido dos Trabalhadores Socialistas Unificados (PSTU), União Nacional dos Estudantes (UNE), Bengalas Voadoras, CSP Conlutas, União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES) e Partido da Causa Operária (PCO).

A ata do encontro foi postada dias antes do ato na internet por um militante do PCO. Esse registro oficial permite destacar alguns aspectos extremamente relevantes para situarmos a presente criminalização de grupos anarquistas, autonomistas e/ou adeptos de ações diretas e diversidade de táticas nas manifestações de rua. Um processo histórico de criminalização e perseguição política que se intensificou depois das manifestações de junho de 2013 e se tornou o complemento macabro e securitário ao espetáculo jurídico-midiático, com ostensiva participação das redes sociais digitais, que se tornou a política na última década.

O primeiro aspecto diz respeito à jurisprudência gerada por reuniões anteriores visando evitar confrontos entre fascistas e antifascistas, em 2020. Momento no qual as torcidas antifascistas decidiram confrontar os eventos bolsonaristas que passaram a ser semanais na Avenida Paulista. Essa barganha foi capitaneado por Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) e figura importante da Frente Povo Sem Medo. A liderança negociou um acordo com a Polícia Militar do estado de São Paulo que consistia em um revezamento, com os fascistas, dos protestos ocorridos na citada avenida. Isso, na visão de muitas pessoas, não apenas enfraqueceu a luta antifascista como teve efeito de arrefecimento da movimentação que parecia ter um enorme potencial para enfrentar o bolsonarismo na rua e barrar o fascismo.

O que vemos agora é apenas o desdobramento dessa disposição para a barganha e a negociação. A ata registra, como segundo aspecto dessa análise, uma reunião que vai muito além das exigências constitucionais para o exercício da livre manifestação. Os movimentos e partidos acordaram a possibilidade de punição com multa, estipulando a proibição tratada, daquele momento em diante, como lei, de que manifestantes com ideologias opostas ocupem o mesmo espaço ou organizem atos simultâneos. Isso obviamente estabelece um cerceamento que não permitiria que atos fascistas e intolerantes fossem impedidos de ocorrer por uma contramarcha que os repudiassem ou os atacassem, mesmo sendo atos que defendam o nazismo ou a perseguição às minorias.

Além disso, faz parecer que qualquer grupo que se manifeste no mesmo local professe a mesma ideologia, o que termina por igualar PCO e PSDB, como ideologicamente equivalentes. Pois, segundo a decisão da PM, não poderiam estar no mesmo ato. Ignora-se convenientemente que existem níveis de oposição, pacífica-se a multiplicidade das forças políticas, como se não-oposto momentaneamente, ou apenas toleráveis, significasse o mesmo, ou igual.

No entanto, lendo o documento acabamos por descobrir que, aceitando assinar esse acordo, PCO e PSDB descobrem realmente o seu grande solo comum: mediados pela Polícia Militar, eles se aceitam ideologicamente equivalentes (afinal, assinaram o documento!), em repudiar a ação direta e os atos “violentos” então atribuídos por ambos à tática de infiltração. É por repetirem esse discurso que, desde 2013, separaram os “verdadeiros manifestamente” dos “ilegítimos” e dos “vândalos“, juntamente à Polícia Militar, que vemos o que eles realmente têm em comum: aceitam a criminalização das táticas que não controlam, ajudam a criminalizar a espontaneidade da revolta e o imprevisível das manifestações populares. As organizações, mediadas pela polícia repressiva, se constituem como a polícia da paz em nome do governo das ruas.

Quem está do lado da polícia, quer sempre apagar as barricadas.

Exatamente por partilharem da separação bom e mal manifestante, que eles assinam um documento pelo qual pretendem terminar o ato com hora marcada e antes de escurecer, e pelo qual pretendem marchar em ordem previamente comunicada à polícia, como em um desfile cívico onde nada poderia fugir ao planejado e ao controlável. A segurança que eles pretendem ter é a mesma dos que temem uma modificação radical do estado de coisas agora vigente, o que eles mais querem evitar é a força da revolta popular ingovernável. E, para tanto, são ativamente coniventes ao estado de exceção, pedem por ele para garantir que nada fuja ao controle, chegando a se comprometer com que as vias públicas não possam ser obstruídas sem diálogo prévio entre os organizadores do ato e a Polícia Militar. Isso cerceia, muito além do que existe hoje na legislação e na jurisprudência vigente, o direito à livre manifestação. Imaginem, uma ação tão simples, tão primária e espontânea de um protesto popular, como fechar uma rua, não podendo ocorrer sem previamente negociação entre burocratas partidários e os burocratas armados?!

O que restaria de força, de pressão, em uma manifestação popular que não pudesse surpreender nem incomodar, fosse realmente o caso de algo assim acontecer, sem que nenhum intolerável anarquista desobedecesse o acordo firmado, obviamente sem consulta prévia?! Quem precisa de uma ditadura com uma esquerda dessas? Quem pode temer a supressão dos direitos democráticos quando o manifestódromo se tornar a regra, montando um palanque animado com carros de som feito carros alegóricos, muitos sorrisos e discursos falsos?

Os comunistas e a esquerda oficial continuam para sempre legalistas em um Estado que nunca foi e cada vez mais faz questão de sequer fingir que segue seus ritos!

Assinando este documento, os partidos políticos em questão se colocam em pleno acordo com a repressão policial ao mínimo fechamento de uma via, desde que eles não a tenham negociado com a polícia. Como se eles fossem os donos da rua e da manifestação e, realmente, pudessem controlar e conter o incomensurável sempre presente em um protesto. Qualquer ação para além da acordada, será tratada, nos diz ainda o acordo firmado e documentado, com a conivência desses senhores, seus partidos e instituições, como caso de polícia a ser investigado pelo Ministério Público.

De fato, o documento é público e a comunicação de manifestações de rua é uma rotina burocrática das representações sindicais, partidárias e de alguns movimentos sociais. Algo que eles mesmo acabam levando cotidianamente para suas formas de atuação, demonstrando, no fim, que sua forma política é apenas uma imensa burocratização da vida. No entanto, essa reunião, os termos da referida ata e as reações às contestações sobre esse acordo nas redes sociais digitais deixam evidente que as frentes são aliadas da polícia no governo das ruas e que as manifestações “Fora Bolsonaro!” estão capturadas pela disputa eleitoral que visa o controle da máquina estatal. Nada mais do que isso. Esse é o jogo.

É preciso ser explícito: se o objetivo é barrar o fascismo e impedir o fechamento do regime em uma ditadura formal, negociar com a polícia não é e nunca será o caminho.

O colaboracionismo sempre terá muitos nomes, mas se faz pelas mesmas práticas!

Fogo no legalismo!

Nem CPI, Nem Eleições: Só o Povo Nas Ruas Vai Barrar o Genocídio

A pandemia segue matando mais de mil pessoas por dia no Brasil, na maior média diária do mundo. Sem qualquer plano no nível federal para vacinar e barrar o contágio, o saldo de mortes evitáveis continuará crescendo. Pessoas em todo país começam tomar novamente as ruas para enfrentar um governo tão ou mais perigoso que a pandemia. Além do vírus e da crise social que o acompanha, o governo e o congresso promovem ataques históricos às populações indígenas, ameaçando sua permanência em suas terras e entregando o que resta das florestas para a mineração e o agronegócio.

Enquanto isso, a oposição dentro do Senado lidera uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que busca comprovar se a negligência do governo federal foi elaborada intencionalmente para espalhar a Covid-19, com especial impacto mortífero sobre as pessoas pobres, negras e indígenas. A investigação encontra várias provas dessas práticas, além de revelar escândalos de corrupção na compra de vacinas. Com efeito, muita gente renova a esperança de que as “instituições funcionem” para punir os responsáveis por mais de meio milhão de mortes. Quem escolhe protestar nas ruas, encontra sindicatos e partidos da centro-esquerda tentando controlar e canalizar a revolta para lançar seus candidatos nas próximas eleições. Enquanto os nossos morrem, sabemos que não é possível esperar nem por punição nem por eleição.

As Instituições Estão Funcionando Normalmentee Precisamos Pará-las

A democracia é sempre apresentada como a “antítese” da ditadura e/ou do fascismo. Alega-se que a divisão dos poderes serve de freios e contrapesos para regular o poder do chefe de Estado e de governo. Acredita-se que essa fórmula da democracia moderna é suficiente para impedir que ele faça apenas o que bem entende sem limites ou consequências em caso de abuso de autoridade. Mas não é isso o que vemos na prática, especialmente nas Américas, onde praticamente todos os países foram fundados sobre a escravidão negra e o etnocídio indígena. As investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito podem oferecer uma esperança, mas não podemos nos dar ao luxo de confiar nos ritos democráticos.

Tomemos um exemplo recente da chamada “maior democracia do mundo”: Donald Trump saiu ileso de dois processos de Impeachment, em 2020 e em 2021. Em ambos obteve a maioria dos votos no parlamento dos Estados Unidos mesmo após cometer crimes explícitos e bem documentados – como chantagear o presidente da Ucrânia para interferir nas eleições americanas e incentivar seus apoiadores a invadir o Capitólio em janeiro de 2021 com símbolos neonazistas para atacar congressistas e tentar vingar sua derrota nas urnas.

Durante as investigações de crimes eleitorais em 2019 e o primeiro processo de Impeachment de Trump em 2020, parte da população renovou sua confiança de que as instituições e a lei cumpririam a promessa de punir o presidente Trump por seusdesvios. Os protestos que marcaram o governo desde a sua posse foram dando lugar à promessa de que as autoridades resolveriam o problema. Foi somente após o assassinato de George Floyd pela polícia em maio de 2020, que as ruas tornaram a ser o principal palco da ação popular. Uma onda de levantes iniciada em Minneapolis varreu 200 cidades no país, queimando delegacias e centenas de viaturas, ocupando praças e prédios e expulsando a polícia de vizinhanças inteiras.

Manifestantes em frente à 3ª Delegacia de Minneapolis em chamas, após assassinado de George Floyd, 2020.

Figuras proeminentes do partido Democrata acusaram os movimentos insurgentes da rebelião de George Floyd de assustarem o eleitorado, de serem a imagem de “inimigo interno” perfeita para Trump se projetar nas urnas como solução para o caos político e para a crise sanitária – ambos ampliados por ele mesmo e pelas políticas que ele representa. Mas os eventos demonstraram que a população se identificava com os protestos combativos contra a violência e o racismo policial e, como resultado, a popularidade de Trump despencou.

Como afirmam camaradas dos EUA antes da eleição,

“Na verdade, se estudarmos as pesquisas ao longo de 2020, Biden consolidou sua liderança depois que a Rebelião George Floyd começou no final de maio; Trump só começou a recuperar terreno quando os protestos cessaram. Se Trump perder esta eleição e deixar de manter o poder por outros meios, muito do crédito deve ir para os rebeldes por forçarem parte da classe dominante a mudar de lado e apoiar Biden, mostrando que mais quatro anos de Trump podem tornar aos Estados Unidos ingovernável.”

Deixar claro que não haveria paz sob o governo de Trump foi uma forma de dizer que se aliar a ele é desgastar a própria imagem e uma grande quantidade de energia para manter legitimidade e controlar a rebelião. A semelhança entre a esquerda liberal, a direita conservadora e os ricos de toda espécie é que ambos preferem a paz para governar e manter as instituições e os negócios funcionando.

Não foram as instituições democráticas, e sim a coragem das pessoas enfrentando a polícia e milícias supremacistas brancos nas ruas que deixou Trump isolado, contribuiu para a queda da sua popularidade e perda de votos – algo que nenhuma investigação ou Impeachment conseguiu. Se a maior parte das pessoas tivessem aceitado não ir para as manifestações e deixar as poucas pessoas que foram lutarem sozinhas, isoladas, para serem reprimidas, a extrema-direita poderia ter se sobressaído e ganhado ainda mais confiança ocupando essas ruas ao lado das forças policiais. Ambas teriam mais legitimidade e o controle da situação para ajudar Trump a dominar o debate público e vencer a eleição.

Sem a revolta popular demolindo a imagem do governo, esses apoiadores dentro das elites ainda tentariam apoiar um segundo mandato de Donald Trump – mesmo após sua gestão catastrófica da pandemia e a tentativa de invasão do Capitólio por seus apoiadores.

Imitando as trapaças do magnata americano, Bolsonaro e sua corte miliciana prometem contestar o resultado das eleições em 2022 e já está há tempos aparelhando as instituições com mais de 6 mil militares da ativa, muitos deles generais, em altos cargos civis do governo – mais do que a própria Ditadura Civil-Militar de 1964-1985 – e comprando o apoio das polícias militares com prestígio, impunidade para crimes cometidos em serviço e crédito para compra de imóveis. Sem falar de sua campanha permanente para armar cidadãos alinhados à sua ideologia patriarcal e autoritária que já dobrou o número de armas em circulação no país. Carreatas e desfiles de motos caras complementam seu espetáculo performando uma imagem de apoio popular e ameaça à oposição no estilo gangue de macho branco ressentido.

Para entender onde Trump e Bolsonaro se encaixam na política de nossa época, devemos considerar que eles não são a morte das democracias, são sua face mais pura e sem pudores expondo os mesmos elementos policiais, securitários, racistas, genocidas, prisionais e patriarcais que governos democráticos compartilham com os regimes fascistas históricos. Para executarem seus planos autoritários e colocar a vida de milhões de pessoas em risco ainda maior, basta conquistar a maioria dos votos populares e apoio no parlamento para agir com legitimidade e total impunidade. No caso brasileiro, isso é ainda mais explícito uma vez que não houve justiça de transição nem qualquer forma de responsabilização aos militares pelas perseguições, prisões, torturas, desaparecimentos e mortes que praticaram ao longo da última ditadura¹. Hoje, Bolsonaro é apenas o maior representante do mesmo projeto ou “partido militar” que nunca deixou de controlar a República, desde sua fundação em 1889.

Sempre foi evidente, antes mesmo da vitória eleitoral, que Bolsonaro representava um projeto violento que custaria a liberdade e a vida das populações pobres e excluídas. Mas não imaginávamos as dimensões que uma pandemia adicionaria a essa tragédia. A Covid-19 se tornou uma verdadeira arma biológica na matança de pobres e não-brancos se aliando e ampliando o morticínio policial cotidiano. Com 2,7% da população mundial, Brasil já contabiliza 13% das mortes por Covid-19 no mundo. Nessa ofensiva, povos indígenas enfrentam não só a pandemia, mas incêndios na Amazônia, no Pantanal, o avanço do agronegócio, mineração ilegal e extração de madeira sem regulação ou qualquer consequência legal. Pelo contrário, legisladores estão determinados a entregar reservas indígenas ao latifúndio e ao extrativismo em nome do crescimento do PIB, como abordaremos adiante.

Seu plano de extermínio ceifou mais de meio milhão de vidas com o pretexto de salvar a economia” jogando as pessoas no trabalho, nas escolas e nos transportes lotados para se contaminarem com a Covid-19. Até agora, esse plano nada secreto de disseminação do vírus, comprovado e descrito pelo estudo de diversas instituições de pesquisa, ganhou alguma materialidade e testemunhos bem embasados durante os inquéritos da CPI, que apurou também que ao menos 400 mil mortes teriam sido evitadas se o básico tivesse sido feito para promover a prevenção.

Além disso, ficaram evidentes a censura de estudos que atestam o impacto desproporcional da Covid-19 sobre população negra e indígena, demissão ou silenciamento de servidores que se comprometem em aplicar as recomendações sanitárias que funcionaram em todo o mundo (uso de máscara, testagem, isolamento), uma campanha de boicote à vacinação e em favor da “imunidade de rebanho” aliado ao uso de remédios ineficazes contra o vírus e, mais recentemente, o atraso deliberado na compra de vacinas eficazes para poder comprar vacinas superfaturadas por intermédio de paraísos fiscais, evidenciando que a corrupção está muito bem articulada com o negacionismo científico.

Gráfico do pesquisador Pedro Hallal censurado em reunião com membros do Ministério da Saúde.

A CPI trouxe também declarações e comparações com o Holocausto em mais de um momento. Primeiro quando parlamentares compararam a busca por responsáveis pelas mortes na pandemia com o julgamento de Adolf Eichmann, oficial nazista responsável pela logística dos campos de concentração de Hitler. Em outros casos, trazendo a imagem da cidade de Manaus durante a crise de falta de oxigênio no estado do Amazonas, quando centenas de pessoas morreram sufocadas em hospitais sem ter atendimento em casos graves de Covid-19, os mortos eram enterrados em valas comuns e vieram as acusações de que a cidade foi usada como “campo de teste” para uso em massa de medicamentos ineficazes, como a cloroquina. Exagero ou não, o cenário é terrível o bastante para trazer tais paralelos no debate público.

Com esse peso trágico, a investigação no Senado atrai a atenção de quem não quer “apenas esperar 2022” e torce pelos possíveis resultados da CPI da Covid-19, assim como grande parte dos estadunidenses aguardaram em vão uma condenação de Trump ou um Impeachment. Mas o projeto colonial, patriarcal e genocida brasileiro segue mais vivo do que nunca enquanto o mesmo Congresso que investiga a gestão Bolsonaro não faz nada para barrar as leis que viabilizam seu projeto de destruição dos biomas e dos povos.

Rebeliões de um Novo Junho

Desde 29 de Maio e ao longo de Junho e Julho de 2021, movimentos sociais e centrais sindicais convocaram atos nacionais para protestar contra o governo de Jair Bolsonaro. Os protestos levaram dezenas de milhares de pessoas às ruas nas maiores capitais. Muitas pessoas compareceram carregando o nome e a foto de entes que perderam na pandemia. Blocos autônomos, formados por anarquistas, indígenas, torcidas organizadas e antifascistas em geral tomaram espaço em muitas cidades. Alguns foram mais combativos, com barricadas, pixações e ataque à propriedade dos ricos e do Estado. Aos poucos, o luto e a revolta por todas as mortes evitáveis, pela miséria e pela violência que se aprofundam vão tomando espaço.

Alguns movimentos sociais sob a hegemonia dos partidos de centro-esquerda ressoam a perigosa ideia de que somente nas eleições de 2022 poderemos nos livrar de Bolsonaro e seu governo. Lula se tornou novamente elegível após ter suas condenações anuladas por falta de provas e é apresentado como favorito nas pesquisas eleitorais para ser o novo/velho salvador da pátria. Após o grande ato de 29 de Maio, com forte repressão policial contra um ato pacífico em Recife, e os protestos de 19 de Junho, marcado por confrontos em São Paulo, tais organizações convocaram um novo ato apenas para 24 de Julho, mais de um mês depois.

Bloco Autônomo em São Paulo, dia 3 de julho.

No entanto, escândalos de corrupção envolvendo membros do governo federal comprando de vacinas superfaturadas, deram um tom de “urgência” aos atos, que foram marcados às pressas para o início de julho. Dessa forma, muitas renovaram suas esperanças nas instituições, como nas investigações durante o governo Trump nos EUA. Como reflexo, vimos as centrais sindicais, partidos e movimentos da esquerda tentando centralizar o controle e as decisões sobre quando serão os atos de rua.

Muitas pessoas, coletivos e movimentos autônomos criticaram a explícita tentativa de adiar os atos para amortecer a radicalização que começava a surgir e domesticar a revolta para não comprometer sua agenda e seus interesses eleitorais – sempre um dos riscos de depender da centralização dentro dos movimentos luta. Quando as centrais sindicais e partidos decidem que é razoável esperar mais de um mês para o próximo ato e protesto pelas centenas de milhares de mortes evitáveis para, em seguida, decidir adiantá-los quando veio à tona um escândalo de corrupção, elas estão se somando o moralismo que ergueu a extrema direita ao afirmar: a morte em massa é parte do nosso cotidiano, mas a corrupção não, essa é intolerável!

Se queremos derrubar governantes, temos que fazer isso por nossas mãos. Mesmo que o contexto nos leve apenas a conseguir meias vitórias, como um Impeachment ou a derrota eleitoral de Bolsonaro, dificilmente isso acontecerá sem as ruas em chamas. E isso implica enfrentar práticas centralizadoras e legalistas em meio a nossos próprios movimentos e exige abandonar os desejos de governar a revolta. Quando alguém tenta centralizar a influência sobre os movimentos e monopolizar o discurso de legitimidade para então distribuí-la de forma desigual entre quem parte para ação, o próximo passo é sempre a repressão policial.

https://twitter.com/RedeInfoA/status/1411434924645752837

Da Centralização à Polícia da Paz

Muitos movimentos sociais no Brasil dizem se inspirar na radicalidade das lutas recentes na Colômbia, nos Estados Unidos e no Chile, mesmo que para arrancar avanços pontuais – como foi o caso da nova constituição chilena ou da luta do povo colombiano para barrar a reforma tributária de Iván Duque. Mas parece que devemos sempre lembrá-los que tamanha força social só é possível respeitando e promovendo a diversidade de ações nas ruas e em cada tipo de organização. Não é deve ser aceitável criminalizar ou tentar disputar legitimidade reproduzindo o que diz a lei burguesa e sua polícia.

Assim como fazem petistas em seus delírios sobre os levantes de 2013 no Brasil, ou democratas e liberais nos EUA em 2020, a esquerda reformista e a mídia voltam a difundir boatos de que a revolta popular é sempre fruto de “infiltrados – a nova figura mítica temida por quem não tem intimidade com as ruas e teme a revolta mais do que teme a polícia. Para tanto, além de romper de vez com a narrativa que culpa quem se rebela pela repressão, é preciso eliminar do debate público a noção de que não ir paras as ruas e ficar em casa, depois de nos aglomerar no trabalho e no transporte público, é o que vai nos manter a salvo em meio a uma pandemia governada por uma extrema direita sem qualquer pudor de deixar nítido uma política genocida.

Dia 19 de junho em São Paulo, um dos primeiros atos mais combativos, ficou marcado por revelar as consequências das inclinações centralizadoras dentro dos movimentos sociais de massa que aceitam ser base eleitoral e conduzem a práticas policialescas. Membros do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, de onde saiu Guilherme Boulos, candidato a presidência e à prefeitura de São Paulo) atacaram fisicamente um bloco autônomo de luta que incluía indígenas, sindicatos, indivíduos e coletivos anarquistas. Membros do MTST tentavam desfazer barricadas na avenida e denunciar pessoas para a polícia – repetindo os feitos de 2014 quando desmascararam e entregaram pessoas em um black bloc para polícia.

Tal episódio foi condenado por grande parte dos movimentos negros, indígenas e libertários. O MTST é um dos maiores movimentos do país e não é justo julgar todos os indivíduos que compõe, sendo muitos deles também indígenas e negros. Dinâmica semelhante se repetiu nos protestos de 13 de julho no Rio de Janeiro, quando membros de um partido stalinista tentaram tomar a frente do ato expulsando o bloco autônomo formado também por indígenas e anarquistas.

A tentativa de abafar organizações autônomas, não partidárias, indígenas e libertárias dentro da esquerda nas ruas mostra os riscos das práticas e métodos centralizadores e hierarquizados aplicados às dinâmicas de rua. Se blocos ou pessoas agindo autonomamente e expressando sua revolta pela perda dos mortos e pela miséria dos vivos incomodam não só a polícia, mas quem marcha ao nosso lado, então é mais provável que os movimentos abortarão qualquer rebelião muito antes que a própria polícia o faça. A disposição dos que optaram por atacar as barricadas e o protagonismo indígena e a ação de grupos autônomos, e o total silêncio de suas lideranças sobre os ocorridos apenas expõe uma faceta autoritária de parte da esquerda que aceita a revolta apenas se puder controlá-la. Fazer pressão nas ruas e causar transtorno para governantes não é tanto uma prioridade quando se quer apenas uma revolta simbólica voltada para a única forma de transformação social vista como legítima: a das urnas.

O Levante é Pela Terra

Desde o início de junho de 2021, indígenas de ao menos 25 etnias se reúnem em Brasília para protestar contra o Projeto de Lei 490/ 2007 que entrega seus territórios para a exploração econômica predatória e inviabiliza a demarcação de novas terras e incentiva a evangelização dos povos que escolheram viver isolados dos brancos e da cidade. Para ter direito às suas terras, indígenas precisam comprovar a sua posse até o dia que foi promulgada a Constituição Federal de 1988, ao fim da Ditadura Civil-Militar. Um dos maiores ataques aos povos indígenas nesse governo, mas que tem raízes nos governos anteriores e avançou bastante com o PT no poder. O projeto foi redigido em 2007 mas encarna as ambições coloniais de um país fundado sobre a conquista e extermínio indígena, que quer reverter direitos conquistados e apagar a diversidade étnica e cultural dos povos que habitam essas terras muito antes da invasão europeia. É também um avanço rumo ao “ponto de não retorno” de devastação na Amazônia, maior floresta tropical do mundo que, em 2020, teve o maior desmatamento da década e pode não se recuperar totalmente dos impactos atuais.

No primeiro dia de protesto, 8 de junho, cerca de 800 indígenas protestavam para pressionar Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Deputados que aprovaria ou não a PL/490. Na porta da FUNAI, a polícia atacou com bombas e bala de borracha os indígenas quando estes apenas se reuniam e cantavam músicas tradicionais.

No dia 22, dia da votação da lei, a polícia atacou novamente indígenas na porta da Câmara dos Deputados, que revidaram com flechadas e acertaram dois policiais. O confronto adiou a votação para o dia 23, quando foi aprovada pela maioria dos deputados. Os acampamentos em Brasília continuam e já contam com quase 2 mil indígenas de 52 etinias.

Os indígenas que permaneceram em seus territórios organizaram ações solidárias junto a outros movimentos autônomos para apoiar e repercutir a luta em Brasília. Bloqueios de rodovias com pneus e fogo foram organizados no dia 25 de junho em São Paulo, por Guaranis da Terra Indígenas do Jaraguá, e no dia 28, Guajajaras, Puris, Xoklengs bloquearam uma avenida no Rio de Janeiro. O mais famoso foi, provavelmente, o bloqueio organizado pelos Pataxós no sul da Bahia no próprio dia 22, bloqueando a rodovia BR101 aos cantos de “Vamos cantar, dançar o catimbó, pra trazer o bolsonaro amarrado no cipó”.

Mais resistência é esperada em agosto para derrubar a PL/490 na Justiça. Porém, fica a lição da articulação indígena que adiou a votação na Câmara e no STF, chamando atenção e solidariedade pelo país e pelo mundo: quando parte dos movimentos sociais urbanos se destaca por desfazer e atacar quem ergue barricadas ou organiza a autodefesa, se distanciando destes para favorecer a repressão, as lutas indígenas provam que ações diretas combativas e a solidariedade entres os diversos povos e movimentos são parte fundamental da luta contra um governo e um estado genocidas.

Nenhuma Paz Pode nos Proteger 

Historicamente, movimentos fascistas como o Integralismo foram barrados pela ação direta, muitas vezes violenta, como no episódio que ficou conhecido como Batalha da Praça da Sé em 1934. Nela, anarquistas, socialistas e comunistas acabaram com um encontro Integralista no centro de São Paulo, roubaram uma metralhadora da polícia e dispersaram violentamente os fascistas, sepultando seu movimento pelas décadas que se seguiram.

Em 2020, protestos no Brasil se deram conta de que era preciso agir diretamente e começaram com chamados das torcidas organizadas e grupos antifascistas barrando atos da direita nas ruas e, posteriormente, denunciando o racismo e a violência policial – o que ganhou fôlego e inspiração com onda de protestos nos EUA. Muitos movimentos e personalidades políticas e artísticas disseram que não se juntariam aos atos e recomendaram que muitos não fossem, alegando que isso “ofereceria ao governo Bolsonaro o pretexto para uma repressão ainda maior” ou até mesmo para “um golpe” (ou auto-golpe). Como vimos durante os levantes por George Floyd, essa narrativa é falha e reacionária em si, pois coloca a responsabilidade da repressão na revolta dos oprimidos. Como se a resposta para um momento de crise e escalada autoritária fosse ainda mais passividade e submissão. Como se baixar a cabeça fosse uma estratégia válida, legítima ou efetiva para enfrentar déspotas como Bolsonaro ou Trump. Algo sem qualquer correspondência na história ou na atualidade.

Para dar fim a um governo, devemos confiar no poder da revolta popular nas ruas para conseguir isso, seja diretamente, seja como vimos nos EUA, destruindo a imagem e o apoio político e econômico de seus líderes, ameaçando a tranquilidade e os negócios de seus aliados, seja como no Chile e na Colômbia, massificando a revolta e tornando-a incontrolável, tanto para a polícia quanto para os movimentos partidários e governistas. Não devemos nos iludir, é claro, com vitórias parciais. Uma nova constituição chilena ou uma reforma policial nos EUA não são nossos objetivos revolucionários de longo prazo e, pelo contrário, podem colocar novas limitações a esses objetivos . Ainda assim, está óbvio que não conseguiremos nem mesmo uma vitória parcial, como a queda imediata de Bolsonaro, se as forças que tentam controlar, pacificar e criminalizar a revolta surgem e crescem dentro dos movimentos sociais do nosso lado das barricadas.

Se queremos a revolta popular massificada nas ruas, temos a certeza de que nem todas as pessoas participando serão parte de uma organização formal – e nem precisam ser para se juntar aos protestos. Nem toda forma de ação é prevista e planejada pelos movimentos sociais. Da Primavera Árabe aos levantes por George Floyd nos EUA, dos protestos contra Lei de Extradição em Hong Kong aos levantes contra o neoliberalismo no Chile, vários exemplos comprovam essa tese. E nem por isso tais agitações deixam de ser uma expressão legítima da revolta dos povos. Em vez de questionar a “organização” ou a “legitimidade” por trás das ações de pessoas ou grupos dispostos tomar a cidade, atacar a propriedade e se defender da polícia nas ruas, devemos nos perguntar como apoiar e oferecer ferramentas para que essa revolta se torne uma força revolucionária ainda mais perigosa para essa ordem social assassina, e ainda mais efetiva em construir alternativas duradouras.

Quanto aos perigos das ações combativas nas ruas, lembramos que no dia 29 de Maio a polícia do Recife não precisou de pretexto algum para atacar um protesto pacífico e cegar duas pessoas que nem participavam do ato. Se um bloco organizado estivesse presente para proteger manifestantes com escudos e capacidade para revidar e afastar a tropa de choque, como fazem com sucesso as linhas de frente no Chile e em Hong Kong, a presença de idosos, famílias ou pessoas com mobilidade reduzidas não seria uma justificativa para promover o pacifismo e apanhar gratuitamente da polícia. No “relógio revolucionário” dos que buscam centralização, controle e pacificação, nunca é hora de erguer barricadas e contra-atacar. Porém quando o fascismo está florescendo e tomando tanto as ruas quanto as instituições, é sinal de que nosso relógio está atrasado e já passou da hora de agir.

Combater e desarticular o fascismo envolve impedir seus eventos de acontecerem, bloquear suas marchas e carreatas para que não ocupem as ruas recrutando mais membros, desmantelar as estratégias para difundir suas ideologias e mentiras. Os atos de junho e julho mostram que milhares de pessoas estão dispostas a ocupar as ruas e impor consequências para os ricos e poderosos. Povos indígenas se articulam contra o governo mais nocivo para sua sobrevivência em décadas e mostram disposição para uma aliança popular e radicalizada.

O que beneficia um governo autoritário não são as ações radicais e combativas nas ruas, mas a falta delas. É também saber que a própria esquerda acha que a revolta popular só pode ser ação de “elementos infiltrados”. Dividindo manifestantes entre legais e ilegais, legítimos ou ilegítimos. Cavando uma divisão e agindo como polícia de si mesmo, a ala legalista da esquerda poupa dois dos principais trabalhos da repressão.

Lutar Será Crime

Nosso sistema penal já é uma máquina de moer vidas e toda prisão deve ser considerada uma questão política. A repressão durante o governo Bolsonaro, porém, vem reafirmando a perseguição ideológica de opositores. Dia 18 de março, em Brasília, Rodrigo Pilha, militante do PT, foi preso pela Polícia Federal por carregar uma faixa escrito “Bolsonaro Genocida” e só foi liberado mais de 100 dias depois ao iniciar uma greve de fome denunciando isolamento, torturas e ainda estar preso mesmo depois de ter direito ao regime semiaberto. Ele e mais quatro companheiros serão processados sob a Lei de Segurança Nacional, entulho jurídico dos tempos da Ditadura. Em São Paulo, nos protestos do dia 3 de julho, o jovem Matheus Machado foi preso arbitrariamente e levado para um presídio por 10 dias depois de achar no chão um capacete policial. Acusado de furtar o item, Matheus também seguirá respondendo em liberdade. Ambos só estão em casa depois de muita pressão popular e nas redes. O uso desses dispositivos legais para enquadrar manifestantes e militantes não é novo e foi usado em 2013 no governo Dilma. Porém, vemos um avanço e um estímulo explícito à perseguição policial e à criação de leis ainda mais duras, como o projeto de lei escrito pelo próprio Bolsonaro, quando ainda deputado em 2016, inspirada no Patriotic Act – absurdo decreto do governo de George W. Bush nos EUA após o 11 de setembro. Outro projeto em curso, a PL272, ataca diretamente a movimentos sociais, considerando crime até mesmo greves, protestos e pequenos atos de vandalismo (já tipificados como dano a propriedade), introduzindo trechos vetados pela Lei Antiterrorismo assinada por Dilma Roussef e seu governo petista logo antes de sua queda em 2016.

É inegável a relação simbiótica e de fundação do moderno projeto de democracia capitalista brasileiro com o que há de mais sombrio de sua herança colonial, escravocrata, aristocrática e ditatorial. Nas leis, na polícia e na política vivemos o resultado dessa história não superada. Especialmente quando muitos dos agentes militares e seus discípulos da época da Ditadura Civil-Militar ainda mantém seus poderes, privilégios e a noção de que podem fazer o que quiserem sem consequências.

As intenções golpistas do presidente são óbvias e muito anteriores ao seu governo. Suas ameaças serão um risco ainda maior se souber que não haverá resistência. Como ele mesmo alegou, são os militares é que “decidem se o povo vai viver numa democracia ou numa ditadura”. Se até o governo Dilma os líderes militares não costumavam opinar frequentemente sobre a política e se diziam “estarem totalmente comprometidos com a democracia”, hoje é rotina declarações que se somam ao tensionamento e às ameaças de Bolsonaro. O chefe da Aeronáutica reagiu às investigações da CPI que apontam para a corrupção de militares ligados ao governo dizendo que “homem armado não ameaça” – o que em si já é uma ameaça.

Nesse cenário, militantes bolsonaristas organizando atos, carreatas e passeios de moto, policiais milicianos aparelhados e os militares controlando a maior parte do poder Executivo representam uma ofensiva autoritária que vai da rua ao topo das forças de segurança e do governo. O atual aparelhamento das polícias militares, até então controladas a nível estadual, e o precedente de golpe orquestrado pelas polícias na Bolívia em 2019 não contribuem para perspectivas otimistas.

Bloqueio de viaduto em Belo Horizonte, 3 de julho de 2021.

Se perdermos a chance de ir para as ruas desmoralizar o governo Bolsonaro e desarticular seus apoiadores – como os povos têm feito de norte a sul do continente –, para apenas esperar uma simples vitória nas urnas em 2022 ou uma condenação após a CPI, corremos o risco de duplicar o saldo de mortes pela pandemia, aprofundar a crise social e securitária, o genocídio de negros e indígenas e ainda ter que enfrentar uma base fascista mais consolidada do que nunca nas ruas num futuro próximo. Por isso, o melhor momento para agir e barrar o fascismo é sempre agora. E a melhor forma é sempre diretamente. Não podemos esperar que o parlamento que aprova os projetos desse governo ou as mesmas elites político-econômicas que abriram as portas para o militarismo protofascista de Bolsonaro sejam aliados em nossa luta para derrubá-lo. Restaurar a política democrática-liberal não é eliminar o fascismo, é apenas voltar com ele para a caserna de onde será recrutado novamente assim que avanços sociais, mesmo que mínimos, ou revoltas populares abalarem o sono dos poderosos.

Quando ocupamos as ruas massivamente, aprendendo com nossos erros e acertos, compartilhando ferramentas para a resistência e a autodefesa, avançamos muito mais numa construção revolucionária do que quando esperamos que líderes e burocratas façam o serviço em nosso lugar. O governo cumpre seu papel assassino, as força políticas que disputam o governo querem pacificar as ruas. Só a revolta pode introduzir um elemento novo, provocar o ingovernável e fazer emergir o mundo novo que trazemos em nossos corações. Se governo é a morte, a fome e a destruição com a política que é a programação racional desses atos, sejamos a revolta ingovernável que afirma a vida e não teme a ruína, pois tudo que aí está foi construído por nós, faremos melhor sem o governo atrapalhando. Mais do que nunca, devemos bradar, nem ditadura, nem democracia, anarquia!

Sejamos quem constrói as barricadas nas ruas para enfrentar o fascismo, não as mãos pacificadoras que as desfazem.


Notas:

1: Ironicamente, em 2021 houve a primeira condenação criminal de um membro repressão da Ditadura Civil-Militar, 36 anos após seu fim. Um delegado foi condenado a 2 anos no regime semi-aberto por sequestro e cárcere privado.

DAS BARRICADAS #3 Entrevista Sobre as Lutas na Colômbia – com Editorial Piedemonte

Dando continuidade à série de entrevistas com pessoas e grupos tomando parte nos levantes no território colombiano em 2021, trazemos uma conversa com Editorial Piedemonte, de Bogotá, coletivo editorial subversivo dedicado à circulação de literatura libertária independente.

Nessa entrevista, terceira de uma série onde conversamos com coletivos atuando em solo colombiano, o coletivo aborda a atualidade do levante que já dura dois meses contra o governo de Ivan Duque e suas medidas tributárias neoliberais que afundam ainda mais na pobreza uma população já tão afetada pela pandemia da Covid-19. O saldo é brutal, com mais de 70 mortos e 300 desaparecidos oficialmente registrados nesses mais de 60 dias de greve geral. Ainda assim, o povo nas ruas prova que se submeter ao governo é mais perigoso do a pandemia. Sua bravura nas ruas levou ao cancelamento da Copa América, que foi transferida para o Brasil.

Que a sua coragem inspire nossas lutas contra o governo fascista de Jair Bolsonaro em nosso território.

Boa leitura, nos vemos nas ruas!

(Abajo, el texto en español.)


PORTUGUÊS

As notícias que nos chegam aqui no Brasil indicam que a insurreição que tomou as ruas se iniciou com uma luta contra a reforma tributária que o governo de Ivan Duque tentou implementar. Todavia, consideramos interessante levar em conta o contexto das lutas recentes nos territórios em que as insurreições acontecem, principalmente porque há menos de 2 anos as cidades colombianas já haviam sido local de manifestações multitudinárias e intensas. Sendo assim, gostaríamos que vocês comentassem um pouco sobre o processo de lutas que está ocorrendo no momento no território dominado pelo Estado colombiano e qual a relação com as lutas que antecederam esse momento.

O anúncio do pacote de reformas tributaria, trabalhista, da previdência e de saúde foi o ponto de ruptura definitivo de um precário equilíbrio na paciência dos povos que habitam estes territórios. De certo modo, os levantes recentes são uma continuação dos processos sociais desenvolvidos em 2019 contra a mesma violência neoliberal. As reformas, em termos gerais, propõem um aprofundamento dos processos de privatização da vida, ao que assistimos desde os anos 1980; um retrocesso nos direitos trabalhistas, civis e a restrição de acesso aos direitos mais fundamentais. Além disso, foi central nas manifestações populares de 2019 o rechaço à política de morte do Estado fascista colombiano: o assassinato sistemático de lutadorxs sociais (mal chamados pelos meios de “líderes sociais”) por parte das forças repressivas do Estado e dos grupos militares por meio dos quais se segue sustentando as oligarquias nestes territórios; o descumprimento dos acordos de paz firmados com a guerrilha marxista das FARC em 2016, após mais de 50 anos de insurgência, que prometiam uma reforma agrária, reparação às vítimas do conflito e reformas que de alguma maneira poderiam abrir outros cenários políticos; ademais, as lutas ambientais ganharam força nos tempos recentes ante o absoluto desprezo do Estado e do empresariado na Colômbia com toda a forma de vida não disciplinada e não produtiva. Da mesma forma, tornaram-se centrais nas lutas que ocorrem os primeiros projetos de fracking [perfuração do solo para extrair gás natural com grande impacto ambiental], a pulverização nas aéreas de cultivos de coca, os bosques e as regiões camponesas com glifosato, bem como a construção de represas e hidrelétricas que deslocam enormes populações humanas e não humanas de seus territórios.

As primeiras ações populares foram convocadas pelos setores que tradicionalmente ocuparam esse papel, o movimento estudantil e sindical reformista, e sob as estratégias e coreografias recorrentes no protesto social, como marchas e protestos nos centros das principais cidades, abaixo-assinados etc. Mas o próprio descontentamento popular rebaixou os limites destas organizações e produziu não somente outras formas de protesto, mas de organização. A forma das organizações de base, os espaços comunitários e os processos de educação popular, entre outros, nos setores marginalizados das cidades permitiram a emergência de outro tipo de situações. As cozinhas comunitárias organizadas espontânea e solidariamente, as assembleias populares autoconvocadas e as ações diretas, como bloqueios e a formação de “primeiras linhas” nos bairros, são mostras de outras potências a serem desenroladas na luta.

Gostaríamos de dizer que foi a pandemia (junto com as medidas fascistas-higienizantes) o que desarticulou essa revolta recente, mas a realidade foi que assistimos não somente a brutal repressão armada (com mais de 15 pessoas assassinadas pela polícia) e legal esperada por parte de uma ditadura, mas também o desgaste do movimento social em suas lutas e a cooptação dos protestos por parte dos sindicatos e organizações acomodadas e reformistas; a pandemia só impediu que reagíssemos com a velocidade suficiente e foram retomadas as ações que no início de 2020 começaram a decair.

Nos parece necessário também abordar os processos e ações em rechaço à brutalidade policial e à instituição depois de múltiplos abusos, jamais resolvidos, e não só no marco da mobilização social. Somente em 2020 a polícia cometeu dois massacres em Bogotá e territórios próximos. Em 4 de setembro 9 pessoas detidas em uma instalação policial em Soacha foram queimadas vivas, no que a polícia quis fazer parecer que foi um acidente ou um incêndio provocado por parte das pessoas detidas, para as quais foi negado ajuda. Em 8 de setembro Javier Ordoñez foi brutalmente assassinado por resistir a uma detenção arbitrária nas proximidades de sua casa, foi torturado em instalações da polícia. No dia seguinte o descontentamento popular se manifestou em boa parte dos bairros populares de Bogotá, sujeitos a violência sistemática da polícia, e foram destruídos vários pontos de vigilância da instituição em uma só noite. A resposta foi desmesurada, criminosa e grotesca, com 13 pessoas assassinadas pela polícia. Odiamos, cada vez mais, a polícia.

A greve geral convocada para 28 de abril deste ano atravessa todas essas lutas, alimentada também pela miséria absoluta imposta pelo Estado aos povos que vivem neste território durante a pandemia. A primazia do capital sobre toda forma de vida se expressou nos resgates aos bancos e empresas multimilionárias, na política de “austeridade” para o gasto social e no progressivo fortalecimento das criminosas formas repressivas do Estado, enquanto as pessoas passam fome nos bairros, nos campos e não há saúde ou educação decentes para quem não possa pagar. Essas revoltas e manifestações populares foram potencializadas e mantidas pela dignidade das organizações dos povos indígenas, sujeitos a um verdadeiro genocídio por ação e omissão por já há 500 anos. Sua capacidade de organização e confrontação tem sido profundamente relevante nos últimos acontecimentos.

Com isso queremos situar alguns dos pontos de apoio e tensões sobre os quais se mantém as lutas presentes.

O território conhecido como América do Sul possui um histórico bastante intenso de revoltas. Na última década, foram várias… podemos lembrar, por exemplo, da insurreição que tomou as ruas das cidades brasileiras em junho de 2013 ou do estallido social que se evidenciou no território chileno em outubro de 2019. Apesar de suas diferenças entre as forças envolvidas e dos efeitos produzidos, em geral diziam respeito a uma luta contra o aumento no custo de vida, o que significa diretamente uma luta pela vida e contra a miséria produzida pelo capitalismo e pelo Estado. E nos parece que a revolta que está ocorrendo no momento no território colombiano tem algumas características em comum. Como vocês analisam essa relação?

Acreditamos que é uma leitura precisa da situação, relacionar os levantes recentes de Abya Yala, contando também os de Equador e Bolívia, como parte de um mesmo sintoma. Os chamados “tarifaços” e “pacotaços” tem sido uma constante dos levantes populares recentes, e a partir desse primeiro rechaço começam a se manifestar realidades mais profundas e desejos que excedam as primeiras formulações desse descontentamento. Dizer “nossa luta é pela vida”, por mais essencialista que as vezes possa nos parecer, não é um slogan desproporcional quando nos deparamos com o empobrecimento permanente de nossas vidas nas engrenagens do trabalho e do desemprego, da violência, do disciplinamento e do espólio de toda forma vivente. Poderíamos reunir sob o rechaço radical ao neoliberalismo todas essas manifestações de descontentamento popular, mesmo que, em boa parte de maneira intuitiva. E aqui queremos insistir que boa parte das formas organizativas inéditas até agora são libertárias de maneira intuitiva, muitas delas baseadas no apoio mútuo e na autogestão das necessidades sem recorrer à organizações políticas tradicionais ou lideranças. Não podemos confiar cegamente nessas emergências, pois vimos como nesses espaços também podem surgir formas de poder autoritárias, mas queremos assinalar nelas a possibilidade de uma articulação e desenvolvimento das potências da prática anarquista, inclusive estando presente nestes territórios, ainda que de modo marginal.

No território dominado pelo Estado chileno, as forças moderadas tentaram colocar fim à revolta de 2019 com um processo constituinte, silenciando o fato de que centenas de compas ainda estão sequestradxs nas prisões, com penas que podem chegar a 15 anos, dezenas foram mortas e feridas. O processo ocorreu e mesmo com uma abstenção significativa, alguns setores consideraram uma vitória, como se a insurreição tivesse alcançado seu objetivo. Como vocês analisam essa tentativa de canalizar a revolta para as instituições?

Acreditamos poder ver uma constante nesse ponto inclusive com as diferenças entre os processos particulares. Sobre o caso chileno, compas anarquistas tem denunciado os interesses dos setores moderados e da própria direita na negociação da constituinte, sabem que a na vitória é melhor ficar em alerta (saben que sobre la victoria más vale estar en guardia). A tentativa de capitalizar os levantes como política eleitoral por parte de setores moderados ou de “centro” ainda encontra forte resistência nos territórios ocupados pelo estado colombiano, embora tenha começado a aparecer consignas lamentáveis do tipo “a revolução se faz nas urnas”. Nos preocupa a capacidade de captura que estes setores têm, no sentido em que não só silenciam de fato as vozes de desejos radicais dos levantes com seu manto de legitimidade democrática, como mencionam xs compas sobre o caso chileno, mas também fecham a possibilidade de debates reais e radicais que devem se dar para construir verdadeiros cenários de justiça e liberdade. A captura dos movimentos sociais por parte da institucionalidade é o aprisionamento de nossos sonhos de liberdade, representa a reviravolta para ajustar o intolerável deste sistema, abre caminho para sua Pax social. Falar de pactos sociais de reconciliação ou de “vitória” quando há companheirxs desaparecidxs, presxs, mortxs pelas mãos do estado e das oligarquias é um excesso e dá continuidade à repressão sistêmica.

Não se trata de querermos expressar nossa radicalidade pela via da negatividade absoluta, mas de que ainda há muito por se fazer. Nestes territórios, inclusive se a resistência decai, será implementada a retaliação aos elementos e setores dissidentes da sociedade pelos meios que já conhecemos. A desaparição forçada, a tortura, o encarceramento, o assassinato, não são práticas que o estado fascista colombiano tenha pudor em exercer jamais para manter sua forma; ademais, em relação às práticas de retaliação por parte do estado, é conhecida a sua associação perversa com grupos paramilitares e sua ação sistemática e sádica de eliminação de oponentes e de práticas que se oponham ou critiquem qualquer status quo imposto pelas oligarquias regionais, situação que deixa em completa ameaça xs companheiros que durante todo este tempo têm resistido. É necessário que estejamos atentxs ao que pode vir.

Toda nossa solidariedade às pessoas que sofrem em sua própria carne a violência da repressão, não façamos delxs mártires, xs queremos vivxs, alegres e resistindo nas ruas e nos campos.

A pandemia do Covid-19 tem afetado sobretudo as classes populares tanto em relação a morte por contágio quanto pelo aumento da miséria e piora nas condições de vida. Ao mesmo tempo, em algumas regiões a pandemia e o risco de infecção tem esvaziado as ruas e, de certo modo, funcionado como uma barreira para as mobilizações de rua multitudinárias. Como vocês analisam essa relação, já que a reforma tributária de Duque, por exemplo, afetaria diretamente o sistema de saúde colombiano?

Embora a pandemia, a possibilidade da própria doença, tenha mantido um grande número de pessoas fora das ruas por um tempo, a própria miséria produzida pelas insuficientes e violentas medidas do Estado as levaram às ruas para ganhar a vida, o medo de morrer de fome é maior o de morrer de uma doença desconhecida. O que foi inicialmente uma barreira também determinou a força do descontentamento social. Talvez nos setores mais abastados, que também fizeram parte do movimento social, o medo do contágio tenha sido maior, mas a indignação foi tanta que as ruas se encheram com mais força do que em 2019, sem paranoia viral. Ainda há massividade nas mobilizações e aparentemente o contágio em termos reais não aumentou como consequência. E sobre o absurdo e a violência da reforma fracassada do sistema de saúde, não pudemos fazer nada menos do que cuspir.

Nos chegam vários vídeos e imagens do terrorismo de Estado com assassinatos, torturas e outras formas de agressão por parte da polícia colombiana. Sabemos que isso não é um fato isolado, pois esta é uma ação regular de todos os Estados, sobretudo quando uma mobilização ataca a ordem e a paz dos ricos. Como se estrutura a policia colombiana e como tem sido o histórico de repressão policial às manifestações?

Nos territórios ocupados pelo estado colombiano a polícia é uma instituição militar, o contexto do conflito interno de mais de 60 anos de duração, somado às estratégias de contra-guerrilha orientadas pelos EUA e a Guerra contra as drogas tem feito a instituição parte do mesmo aparato. A polícia não responde em última instância à uma autoridade civil de Estado no Ministério do Interior, como fariam outras polícias, mas ao Ministério da Defesa (de Guerra). Parte das demandas de quem pretende uma reforma se centra neste fato estrutural, na desmilitarização da polícia. A doutrina do inimigo interior rege sobre todas as suas ações.

A midiatização dos assassinatos, torturas e demais incontáveis abusos por parte das forças repressivas do estado colombiano tem permitido não investigações legais aos responsáveis (demasiadamente inúteis sob a captura institucional do fascismo), mas a tomada de consciência massiva do agir criminoso da polícia, de maneira incontestável. As estratégias de manipulação dos meios de comunicação hegemônicos tem sido profundamente afetadas no interior destes territórios pelos relatos diretos das pessoas envolvidas nesses atos, inclusive sob a censura e o cerco midiático que nos foram impostos. Boa parte dos fatos registrados tem como responsável o Escuadrón Móvil Anti Disturbios (Esmad), criado em 99 como unidade de polícia destinada ao controle de manifestações com uso de armas “menos letais” e obedecendo os parâmetros internacionais de repressão na democracia. Em seus primeiros 20 anos de ação cometeu 59 assassinatos confirmados (pela mesma justiça estatal, fato não menor) no contexto das lutas sociais, além de mutilar, estuprar e ferir uma quantidade incalculável de pessoas. Muitos outros registros de brutalidade policial recentes se centram nas zonas próximas e no interior dos Centros de Atención Inmediata (CAI), utilizados como estações de patrulha e vigilância dentro dos bairros das cidades, e que tem operado como centros de tortura, estupros, capturas ilegais e assassinatos.

Existe algum debate sobre a autodefesa nas ruas? Existe algum debate dos movimentos e coletivos em relação a abolição da policia, por exemplo?

O rechaço à polícia se deslocou progressivamente dos “indivíduos isolados e corruptos” para a própria instituição. É óbvio que os setores moderados demandam do estado, não a abolição da polícia, mas uma reforma, pois veem nela uma instituição com funções sociais que nós não podemos jamais reconhecer. As pessoas e coletividades mais ou menos críticas que recebem alguma atenção por parte dos meios hegemônicos se expressam nesse sentido, tal como xs políticxs que se referem à necessidade de transformação da polícia e pedem a defesa e limpeza da própria instituição. Só no interior das coletividades antiautoritárias está se dando o debate em torno da abolição da polícia. Inclusive na demanda de várias das Primeiras Líneas está sendo pedido apenas uma reforma.

Sobre a autodefesa é um debate complexo, por uma parte desde o mesmo fato de nomear a prática em um contexto no qual os paramilitares e seu projeto fascista esvaziaram de potencia radical o próprio termo (nomeando-se Autodefensas Unidas de Colombia). Acreditamos que é um debate necessário, quando cresce a violência repressiva de maneira sistêmica, fazermos a pergunta sobre a necessidade e as formas de nos protegermos de maneiras não somente defensivas. As Primeras Líneas são uma mostra do debate em cenários amplos, em 2019 o exercício começou em setores estudantis não habituados ao uso da violência, sem conhecimentos práticos para exercê-la ou realmente se defender dela para além de capacetes e escudos, organizadxs sobre um discurso de defesa e, muitas vezes, devemos lembrar, em oposição às práticas e identidades de grupos que reivindicam a ação direta e a violência desde distintos lugares da radicalidade já há tempos. Nestes dois anos, as práticas das Primeras Líneas têm se transformado, se compreendeu à força sobre a capacidade de resposta à repressão estatal. Mesmo que o debate vá para além dos cenários de defesa nas mobilizações, acreditamos que na maioria dos casos não está presente fora destas perspectivas.

Por fim, nos interessa muito as diferentes expressões do anarquismo na região conhecida como América do Sul. Portanto, gostaríamos que vocês falassem um pouco sobre as forças envolvidas nas lutas anárquicas da região colombiana.

Nestas terras não existiu historicamente um movimento anarquista de massas, como no Brasil, na Bolívia, no Chile ou na Argentina, mas tem estado presente ao longo de todos os levantes e protestos desde o início do século XX. O anarquismo está presente de forma marginal nas lutas operárias, nas individualidades que entraram ou saíram dos processos guerrilheiros, no trabalho de artistas, jornalistas, algumas editoras, organizações educativas, grupos de combate de rua e ação direta, bem como demais manifestações de desejo por outros mundos. Assistimos nestas insurreições também a proliferação de ideias e pulsões anarquistas, os cenários de agitação de difusão do pensamento ácrata tem sido menos relevantes que as ações que os grupos tem impulsionado acompanhando estes processos de lutas sociais. Tem sido por meio das práticas que proliferam as ideias e se fortalecem. O acompanhamento e promoção de assembleias locais e populares, as campanhas de solidariedade com xs companheirxs em luta através da arrecadação de fundos, alimentos e insumos de primeiros socorros, o trabalho educativo e organizativo dos coletivos de Educação Popular e a beleza das cozinhas populares, que nos reúnem em torno do alimento para seguir resistindo, são algumas destas práticas que fazem visíveis as forças vivas do anarquismo em momentos como o atual. Apesar do anarquismo seguir sendo uma ideia marginal na prática política, são muitas as individualidades e coletivos voltados para a ação desde práticas antiautoritárias, solidárias e autogeridas.

Por isso, agradecemos a solidariedade que representa esta entrevista, a escuta e difusão em outras regiões golpeadas como nós por esta miséria e de pé, como nós, contra ela. Esperamos que o que tenhamos a dizer daqui pra frente nos distancie cada vez mais da denúncia e que possamos falar com mais força do que conseguimos, do que faremos nosso com nossas próprias forças.

Que viva a anarquia!


PARA SABER MAIS:

Colômbia Perdeu o Medo – A Revolta Segue em Todo o País Enfrentando a Violência de Estado

Video: Revolta e repressão na Colombia, por coletivos Antimídia e Submedia

DAS BARRICADAS #1: MUROS QUE GRITAM, PEDRAS QUE VOAM – entrevista com Taller la Parresia sobre o levante na Colômbia

DAS BARRICADAS #2: Entrevista Sobre as Lutas na Colômbia – com Unión Libertaria Estudiantil y del Trabajo


EN ESPAÑOL

Las noticias que nos llegan indican que la insurrección que tomó las calles comenzó con una lucha contra la reforma tributaria que el gobierno de Iván Duque intentó aplicar . Sin embargo, nos parece interesante tener en cuenta el contexto de las recientes luchas en los territorios donde se producen las insurrecciones, sobre todo porque hace menos de dos años las ciudades colombianas ya habían sido escenario de masivas e intensas manifestaciones. Por lo tanto, nos gustaría que comentaras un poco sobre el proceso de luchas que se está dando actualmente en el territorio dominado por el Estado colombiano y cuál es la relación con las luchas que precedieron a este momento.

El anuncio del paquete de reformas, tributaria, laboral, pensional y de salud, fue el punto de quiebre definitivo de un precario equilibrio en la paciencia de los pueblos que habitan estos territorios. De cierta manera, los levantamientos recientes son una continuación de los procesos sociales desarrollados en el 2019 contra la misma violencia neoliberal. Las reformas, en términos generales, proponen una profundización de los procesos de privatización de la vida, a los que asistimos desde los años 80; un retroceso en los derechos laborales, civiles y la restricción del acceso a los derechos más fundamentales. Además de ello, fue central en las manifestaciones populares del 2019 el rechazo a la política de muerte del Estado fascista colombiano: el asesinato sistemático de luchadorxs sociales (mal llamadxs por los medios “líderes sociales”) por parte de las fuerzas represivas del estado y los grupos paramilitares por medio de los cuales se siguen sustentando las oligarquías en estos territorios; el incumplimiento de los acuerdos de paz firmados con la guerilla marxista de las FARC en 2016, tras más de 50 años de insurgencia, que prometían una reforma agraria, reparación a las víctimas del conflicto y reformas que de alguna manera podrían abrir otros escenarios políticos; además, las luchas ambientales han cobrado fuerza en los tiempos recientes ante el absoluto desprecio del estado y el empresariado en colombia hacia toda forma de vida no disciplinada y no productiva, asimismo los primeros proyectos de fracking,la fumigación aérea de los cultivos de coca,los bosques y el campesinado con glifosato, y la construcción de represas e hidroeléctricas que desplazan inmensas poblaciones humanas y no humanas de sus territorios, se han hecho una parte central de las luchas que nos convocan.

Las primeras acciones populares fueron convocadas por los sectores que tradicionalmente han ocupado ese papel, el movimiento estudiantil y sindical reformista, y bajo las estrategias y coreografías recurrentes en la protesta social, como marchas y plantones hacia el centro de las ciudades principales, pliegos de peticiones, etc. Pero el propio descontento popular rebasó los límites de estas organizaciones y produjo no sólo otras formas de protesta sino de organización. La fuerza de las organizaciones de base, los espacios comunitarios y los procesos de educación popular, entre otros, en los sectores marginalizados de las ciudades, permitieron la emergencia de otro tipo de situaciones. Las ollas populares organizadas espontánea y solidariamente, las asambleas populares autoconvocadas y las acciones directas, como los bloqueos y la formación de “primeras líneas” en los barrios son muestra de otras potencias a ser desarrolladas en la lucha.

Nos gustaría decir que fue la pandemia (junto con las medidas fascisto-higienizantes) lo que desarticuló esta revuelta reciente, pero la realidad fue que asistimos no sólo a la brutal represión armada (con más de 15 personas asesinadas por la policía) y legal esperada por parte de una dictadura, sino al desgaste del movimiento social en sus luchas y a la cooptación de la protesta por parte de los sindicatos y organizaciones acomodadas y reformistas; la pandemia sólo impidió que reaccionáramos con la velocidad suficiente y fueran retomadas las acciones que a comienzos del 2020 comenzaban a decaer.
Nos parece necesario también abordar los procesos y acciones en rechazo a la brutalidad policial y la institución después de los múltiples abusos, jamás resueltos, y no sólo en el marco de la movilización social. Sólo en el 2020 la policía cometió dos masacres en Bogotá y territorios cercanos, el 4 de septiembre fueron quemadas vivas 9 personas detenidas en una instalación policial en Soacha, en lo que la policía ha querido hacer parecer como un accidente o un incendio provocado por parte de las personas detenidas, a las cuales se les negó el auxilio. El 8 de septiembre fue brutalmente asesinado Javier Ordoñez por resistirse a una detención arbitraria en las cercanías de su vivienda y torturado en instalaciones de la policía. Al día siguiente, el descontento popular se manifestó en buena parte de los barrios populares de Bogotá, sujetos a la violencia sistemática de la policía, y fueron destruidos varios de los puntos de vigilancia de la institución en una sola noche. La respuesta fue desmesurada, criminal y grotesca, 13 personas asesinadas por la policía. Odiamos, cada vez más entre nosotrxs, a la policía.

La huelga general convocada para el 28 de abril de este año recoge todas estas luchas, alimentada además por la miseria absoluta impuesta por el Estado durante la pandemia a los pueblos que habitamos estos territorios. La primacía del capital sobre toda forma de vida ha sido expresada en los rescates a los bancos y empresas multimillonarias, en la política de “austeridad” para el gasto social y en el progresivo fortalecimiento de las criminales fuerzas represivas del estado, mientras la gente pasa hambre en los barrios, en los campos y no hay salud o educación decentes para quien no pueda pagarlas. Estas revueltas y protestas populares han sido además potenciadas y mantenidas por la dignidad de las organizaciones de los pueblos indígenas, sujetos a un verdadero genocidio por acción y omisión desde hace 500 años. Su capacidad de organización y confrontación ha sido profundamente relevante en los hechos recientes.
Con esto queremos situar algunos de los puntos de apoyo y tensiones sobre los cuales se mantienen las luchas presentes.

El territorio conocido como Sudamérica tiene una historia muy intensa de revueltas. En la última década ha habido varias… podemos recordar, por ejemplo, la insurrección que tomó las calles de las ciudades brasileñas en junio de 2013 o el llamado estallido social que se hizo evidente en territorio chileno en octubre de 2019. A pesar de sus diferencias entre las fuerzas implicadas y los efectos producidos, en general se trataba de una lucha contra el aumento del coste de la vida, lo que significa directamente una lucha por la vida y contra la miseria producida por el capitalismo y el Estado. Y nos parece que la revuelta que se está ocurriendo actualmente en territorio colombiano tiene algunas características en común. ¿Cómo analizan esta relación?

Creemos que es una lectura precisa de la situación, el relacionar los levantamientos recientes de Abya Yala, contando también los de Ecuador y Bolivia, como parte de un mismo síntoma. Los llamados “tarifazos” y “paquetazos” han sido una constante de los levantamientos populares recientes, y a partir de ese primer rechazo comienzan a manifestarse realidades más profundas y deseos que exceden las primeras formulaciones de ese descontento. Decir “nuestra lucha es por la vida”, por más esencialista que pueda a veces parecernos, no es una consigna desproporcionada cuando nos enfrentamos al empobrecimiento permanente de nuestras vidas en los engranajes del trabajo y el desempleo, de la violencia, el disciplinamiento y el despojo de toda forma viviente. Podríamos reunir bajo el rechazo radical del neoliberalismo a todas estas manifestaciones de descontento popular, aunque aún en buena parte, de manera intuitiva. Y aquí quisiéramos insistir en que buena parte de las formas organizativas inéditas hasta ahora en estos escenarios son libertarias de manera intuitiva, muchas de ellas basadas en el apoyo mutuo y la autogestión de las necesidades sin recurrir a organizaciones políticas tradicionales o a liderazgos. No podemos confiar ciegamente en estas emergencias, porque hemos visto cómo en estos espacios también pueden surgir formas de poder autoritarias, sino queremos señalar en ellas la posibilidad de una articulación y desarrollo de las potencias de la práctica anarquista, incluso siendo su presencia en estos territorios todavía marginal.

En el territorio dominado por el Estado chileno, las fuerzas moderadas intentaran poner fin a la revuelta de 2019 con un proceso constituyente, silenciando el facto de que centenas de compas aún están secuestradxs en las prisiones, con condenas que pueden llegar hasta 15 años, decenas fueran muertas y heridas. El proceso ocurrió y mesmo con una abstención significativa, algunos sectores consideraran una victoria, como se la insurrección tuviese alzado su objetivo. Como ustedes analizan esta tentativa de canalizar la revuelta a las instituciones?

Creemos poder ver una constante en ello, incluso con las diferencias entre los procesos particulares. Sobre el caso chileno, lxs compañerxs anarquistas han denunciado los intereses de los sectores moderados y de la propia derecha en la negociación de la constituyente, saben que sobre la victoria más vale estar en guardia. El intento de capitalizar los levantamientos en la política electoral por parte de sectores moderados o “de centro” es aún resistido con fuerza en los territorios ocupados por el estado colombiano, aunque han comenzado a aparecer consignas lamentables del tipo “la revolución es en las urnas”. Nos preocupa la capacidad de captura que tienen estos sectores, en el sentido en que no sólo silencian de facto las voces y deseos radicales de los levantamientos con su manto de legitimidad democrática, como mencionan lxs compas para el caso chileno, sino que también cierran la posibilidad de debates reales y radicales que han de darse para construir verdaderos escenarios de justicia y libertad. La captura de los movimientos sociales por parte de la institucionalidad es la clausura de nuestros sueños de libertad, representa la vuelta de tuerca para ajustar lo intolerable de este sistema, abre el camino para su Pax social. Hablar de pactos sociales de reconciliación o de “victoria” cuando hay compañerxs desaparecidxs, encarceladxs, muertxs a manos del estado y las oligarquías, es un exceso y continúa con la sistematicidad de la represión. No se trata de que queramos expresar nuestra radicalidad por la vía de la negatividad absoluta sino de que hay aún mucho por hacer.

En estos territorios, incluso si decae la resistencia, será implementada la retaliación a los elementos y sectores disidentes de la sociedad por los medios que ya conocemos. La desaparición forzada, la tortura, el encarcelamiento, el asesinato no son prácticas que el estado fascista colombiano haya tenido pudor en ejercer jamás para mantener su forma; además,en relación con éstas prácticas de retaliación de parte del estado, es conocida la manguala perversa con grupos paramilitares y su accionar de eliminación sistemática y sádica de contradictores y prácticas que se opongan o critiquen cualquier statu quo impuesto por las oligarquías regionales, situación que deja en completa vulnerabilidad a lxs compañerxs que duranten todo este tiempo han resistido. Es necesario que estemos atentxs a lo que puede venir.

Toda nuestra solidaridad para quienes hoy sufren en carne propia la violencia de la represión, no hagamos de ellxs mártires, lxs queremxs vivxs, alegres y resistiendo en las calles y los campos.

La pandemia de Covid-19 ha afectado, sobre todo, a las clases populares tanto por el número de muertes como por el aumento de la miseria y el empeoramiento de las condiciones de vida. Al mismo tiempo, el riesgo de infección ha vaciado las calles en algunas regiones y ha actuado como una barrera para las grandes movilizaciones callejeras. ¿Cómo analiza esta relación, ya que una de las reformas que Duque pretende implementar afectaría directamente al sistema de salud colombiano?

Si bien la pandemia, la posibilidad de la enfermedad en sí, mantuvo a un gran número de personas fuera de las calles durante un tiempo, la propia miseria producida por las medidas insuficientes y violentas del Estado las llevaron a la calle a buscarse la vida, siendo mayor el miedo a morir de hambre que de una enfermedad desconocida. Lo que en un principio fue una barrera determinó también la fuerza del descontento social. Quizás en sectores más acomodados, que también han sido parte del movimiento social, el miedo al contagio ha sido mayor pero ha sido tal la indignación que las calles se han llenado con más fuerza que en el 2019, sin paranoias virales. Hay aún masividad en las movilizaciones y al parecer el contagio en términos reales no ha incrementado por ello.

Y sobre el absurdo y la violencia de la fallida reforma a la salud no podríamos menos que escupir.

Hemos recibido varios videos e imágenes de terrorismo de Estado con asesinatos, torturas y otras formas de agresión por parte de la policía colombiana. Sabemos que no se trata de un hecho aislado, ya que es una acción habitual de todos los Estados, especialmente cuando una movilización ataca el orden y la paz de los ricos. ¿Cómo está estructurada la policía colombiana y cuál ha sido la historia de la represión policial contra las manifestaciones?

En los territorios ocupados por el estado colombiano la policía es una institución militar, el contexto del conflicto interno con más de 60 años de duración, sumado a las estrategias de contraguerrilla orientadas por EEUU y la Guerra contra las drogas, han hecho de la institución parte del mismo aparato. La policía no responde en última instancia a la autoridad civil del Estado en el Ministerio del Interior, como harían otras policías, sino al Ministerio de Defensa (de Guerra). Parte de las demandas de quienes pretenden una reforma se centran en este hecho estructural, en la desmilitarización de la policía. La doctrina del enemigo interno rige sobre todo su accionar.

La mediatización de los asesinatos, torturas y demás incontables abusos por parte de las fuerzas represivas del Estado colombiano ha permitido no investigaciones legales a los responsables (inútiles por demás bajo la captura institucional del fascismo) sino la toma de conciencia masiva del accionar criminal de la policía, de manera incontestable. Las estrategias de manipulación de los medios de comunicación hegemónicos han sido profundamente afectadas al interior de estos territorios por los testimonios directos de las personas involucradas en estos hechos, incluso bajo la censura y el cerco mediático que nos han sido impuestos. Buena parte de los hechos registrados tienen como responsable al Escuadrón Móvil Anti Disturbios (Esmad), creado en el 99 como unidad de policía destinada al control de las manifestaciones con el uso de armas “menos letales” y obedeciendo los estándares internacionales de represión en democracia. En sus primeros 20 años de acción cometió 59 asesinatos confirmados (por la misma justicia estatal, hecho no menor) en el contexto de la protesta social, además de mutilar, violar y herir a una cantidad incalculable de personas. Muchos otros de los registros de brutalidad policial en el marco actual se centran en zonas cercanas y al interior de los Centros de Atención Inmediata (CAI) apostados como estaciones de patrullaje y vigilancia al interior de los barrios en las ciudades, y que han operado como centros de tortura, violación, capturas ilegales y asesinato.

¿Hay algún debate sobre la autodefensa en las calles? ¿Hay algún debate por parte de los movimientos y colectivos sobre la abolición de la policía, por ejemplo?

El rechazo a la policía se ha desplazado progresivamente de los “individuos aislados y corruptos” a la propia institución. Es claro que los sectores moderados demandan del Estado, no la abolición de la policía, sino una reforma, porque ven en ella una institución con funciones sociales que nosotrxs no podemos reconocer jamás. Las personas y colectividades más o menos críticas que reciben alguna atención por parte de los medios hegemónicos se expresan en este sentido, al igual que lxs políticxs que se refieren a la necesidad de la transformación de la policía y piden la defensa y limpieza de la propia institución. Sólo al interior de las colectividades antiautoritarias se está dando el debate en torno a la abolición de la policía. Incluso en las demandas de varias de las Primeras Líneas se está pidiendo apenas una reforma.

Sobre la autodefensa, el debate es complejo, por una parte desde el mismo hecho de nombrar la práctica, en un contexto en donde los paramilitares y su proyecto fascistizante vaciaron de potencia radical a la palabra misma(nombrándose Autodefensas Unidas de Colombia). Creemos que es un debate necesario, cuando crece la violencia represiva de manera sistemática, hacernos la pregunta sobre la necesidad y las formas de protegernos de maneras no sólo defensivas. Las Primeras Líneas son una muestra del debate en escenarios amplios, en el 2019 el ejercicio comenzó desde sectores estudiantiles no habituados al uso de la violencia, sin conocimientos prácticos para ejercerla o defenderse realmente de ella, más allá de algunos cascos y escudos y organizadxs bajo un discurso de defensa, y muchas veces, debemos recordarlo, en oposición a las prácticas e identidades de grupos que reivindican la acción directa y la violencia desde distintos lugares de la radicalidad desde hace ya tiempo. En estos dos años, las prácticas de las Primeras Líneas se han transformado, se ha comprendido, a las malas, la necesidad de la capacidad de respuesta a la represión estatal. Aunque el debate va más allá de los escenarios de defensa de las movilizaciones, creemos que en la mayoría de escenarios no está presente aún fuera de estas perspectivas.

Por último, nos interesan mucho las diferentes expresiones del anarquismo en la región conocida como Sudamérica. Así que nos gustaría que hablaras un poco sobre las fuerzas involucradas en las luchas anárquicas en la región colombiana.

En estas tierras no ha existido históricamente un movimiento de masas anarquista, como en Brasil, Bolivia, Chile o Argentina, pero ha estado presente a lo largo de todos los levantamientos y protestas desde principios del siglo XX. El anarquismo ha estado presente de forma marginal en las luchas obreras, en individualidades que entraron o salieron de los procesos guerrilleros, en el trabajo de artistas, periodistas, algunas editoriales, organizaciones educativas, grupos de combate callejero y acción directa y demás manifestaciones del deseo por otros mundos. Asistimos en estos estallidos también a la proliferación de ideas y pulsiones anarquistas, los escenarios de agitación y difusión del pensamiento ácrata han sido menos relevantes que las acciones que los grupos han impulsado acompañando estos procesos de luchas sociales, ha sido a través de las prácticas que proliferan las ideas y se hacen fuertes. El acompañamiento y promoción de asambleas locales y populares, las campañas de solidaridad con lxs compañerxs en lucha a través de la recolección de fondos, alimentos e insumos de primeros auxilios, el trabajo pedagógico y organizativo de los colectivos de Educación Popular y la belleza de las ollas populares, que nos reúnen en torno al alimento para seguir resistiendo, son algunas de estas prácticas que hacen visibles las fuerzas vivas del anarquismo en escenarios como el actual.

Pese a que el anarquismo sigue siendo una idea marginal en la práctica política, son muchas las individualidades y colectivos volcados a la acción desde prácticas antiautoritarias, solidarias y autogestivas.

Por ello agradecemos la solidaridad que representa esta entrevista, la escucha y difusión en otras regiones golpeadas como nosotrxs por esta miseria y de pie, como nosotrxs, contra ella. Esperamos que lo que tengamos que decir de aquí en adelante nos distancie cada vez más de la denuncia y podamos hablar con más fuerza de lo que hemos logrado, de lo que haremos nuestro con nuestras propias fuerzas.

¡Que viva la anarquía!

DAS BARRICADAS #1: MUROS QUE GRITAM, PEDRAS QUE VOAM – entrevista com Taller la Parresia sobre o levante na Colômbia

Há semanas as ruas do território dominado pelo Estado colombiano estão em efervescência, com paralisação total dos serviços, manifestações de rua, piquetes e barricadas. Uma insurreição tomou a região após o governo de Ivan Duque tentar implementar reformas, sobretudo a tributária, que aumentariam ainda mais a miséria e afetariam sobretudo as classes populares.

Como forma de solidariedade às companheiras e companheiros que estão em luta nas ruas neste momento, enfrentando a polícia e o risco de contágio por COVID-19 para afirmar seu direito à vida, publicamos hoje a primeira parte de “DAS BARRICADAS”, uma série de entrevistas realizadas com individualidades, coletivos e organizações anárquicas de diferentes partes da região colombiana.

Consideramos necessário difundir as análises das próprias pessoas envolvidas na insurreição, não apenas sobre a luta destas últimas semanas, mas levando em conta as recentes lutas dos últimos anos, a configuração das forças envolvidas, o histórico de resistência e da repressão que tenta sufocar as múltiplas formas de vida e de luta.

A seguinte entrevista foi realizada com o Taller la Parresia, compas que partem do uso do grafismo produzido em várias regiões sulamericanas como forma de ação direta e intervenção nos muros da cidade de Medelín, segunda maior cidade ocupada pelo Estado colombiano e localizada no Vale de Aburrá.

Abajo, la versión original de la entrevisa en español.

Taller Parresía em intervenção nas ruas colombianas.

PORTUGUÊS

As notícias que nos chegam aqui indicam que a insurreição que tomou as ruas se iniciou com uma luta contra a reforma tributária que o governo de Ivan Duque tentou implementar. Todavia, consideramos interessante levar em conta o contexto das lutas recentes nos territórios em que as insurreições acontecem, principalmente porque há menos de 2 anos as cidades colombianas já haviam sido local de manifestações multitudinárias e intensas. Sendo assim, gostaríamos que vocês comentassem um pouco sobre o processo de lutas que está ocorrendo no momento no território dominado pelo Estado colombiano e qual a relação com as lutas que antecederam esse momento.

Sim, como vocês comentaram, é um acumulado e não só nosso, mas de todo o povo e de nossxs amigxs na América latina. Vivemos o 2013 no Rio de Janeiro, seguimos as jornadas de nossxs amigxs em Santiago e Valparaíso, estivemos atentxs ao que acontecia em La Paz e em Quito. Tudo isso nos deixou em choque em cada momento.

Além disso, a execução de Marielle Franco, a de Santiago Maldonado, Bertha Cáceres, os 43 de Ayotzinapa e tantxs ex-combatentes que apostaram no processo de paz colombiano, xs líderes sociais, xs milhares de detidxs e desaparecidxs políticos e a todas as pessoas que sofrem o drama do deslocamento/migração venezuelana e mesoamericana.

Porem, para nós tudo se torna mais intenso com a necropolítica do Estado. Seguimos o caso das execuções extrajudiciais, chamados falsos positivos, jovens passados como guerrilheiros mortos em um combate que causou milhares de desaparecidos e execuções seletivas por parte dos militares para dar conta ao financiamento dos EUA. Também o desastre da represa que sequestrou o rio Cauca e a inundação das terras do cânion com centenas de fossas comuns, chamada Hidroituango.

Tudo tem sido muito intenso já há alguns anos, pois o Estado colombiano é uma máfia e se organiza como tal para exterminar seu povo e toda forma de organização e de vida. Além de ter super organizado suas frentes paramilitares e todo o assunto da produção e circulação de cocaína que agora se sabe que está a mando dos cartéis mexicanos.

Em novembro de 2019 nos somamos às jornadas de luta no Chile, em La Paz e Quito, e estranhamos que vocês, em suas cidades, não tenham feito isso. Nos moveu muito essas barricadas que apareceram nas cidades andinas e mesmo em Medelín, onde quase os Andes terminam ou entre os Andes.
Fomos documentando todo o processo insurrecional – o mapeamos e o narramos – porque pensamos que as lutas e nossas ações vão mais além do que esta prisão chamada pátria. Essa foi uma resenha das jornadas de novembro e dezembro de 2019 em Medelín e esta é a forma de confronto que se apresenta com o esquadrão de choque. Outra coisa a comentar é que igual a vocês [no Brasil], nós vivemos uma ocupação militar do território e isso nos expõe muito e faz que a luta seja muito complicada pelo medo e pela capacidade do Estado de exterminar as pessoas que se envolvem nesse processo.

“Governo de Parasitas”

O território conhecido como América do Sul possui um histórico bastante intenso de revoltas. Na última década, foram várias… podemos lembrar, por exemplo, da insurreição que tomou as ruas das cidades brasileiras em junho de 2013 ou do “estallido social” que se evidenciou no território chileno em outubro de 2019. Apesar de suas diferenças entre as forças envolvidas e dos efeitos produzidos, em geral diziam respeito a uma luta contra o aumento no custo de vida, o que significa diretamente uma luta pela vida e contra a miséria produzida pelo capitalismo e pelo Estado. E nos parece que a revolta que esta ocorrendo no momento no território colombiano tem algumas características em comum. Como vocês analisam essa relação?

Sim, há muita fome, muita miséria descarada e as pessoas já não aguentam mais isso. Isso fez com que muita gente se somasse ao trabalho de denúncia, que outros colocassem o corpo para enfrentar o esquadrão anti-distúrbios e a polícia. E as comunidades indígenas, camponesas e negras enfrentassem os militares. Por isso nos dedicamos a analisar o processo de insurreição confrontando com o processo de devastação da América Latina para entender essas táticas, as formas de permanência no espaço urbano e as formas de fazer as denúncias, não apenas localizadas, mas falando axs companheirxs latinoamericanxs.

Muitas causas e questões comuns nos atravessam, a migração/deslocamento, os massacres, o processo de devastação e o extrativismo, as gentrificações, por alguma razão nos separaram, mas nessas mesmas fissuras conseguimos nos conectar, nos conhecer e nos afetar por tudo aquilo que sentimos ser parte de nossa aposta de permanência no território e sobretudo na rua.

Vivemos a intensidade das jornadas de junho no Rio de Janeiro em 2013, voltamos para as olimpíadas e descemos por Montevidéu e Buenos Aires, conhecendo tudo o que estava passando. Quando voltamos para a Colômbia vimos como se negava a possibilidade das pessoas envolvidas na guerrilha de entrarem em um processo de paz e como se tomava de assalto o Estado brasileiro e colombiano. Toda essa experiência nestes acontecimentos nos levou a compreender as coisas de uma forma diferente e que nos mantivéssemos atentos ao que ocorre.

Tudo isso nos levou a buscar no gráfico latino-americano um lugar para narrar e apresentar as denúncias nas ruas e assim temos feito desde 2019 e isso tem servido para nos organizarmos, termos uma disciplina e criar certas formas de consensos para permanecermos juntxs.

A pandemia do Covid-19 tem afetado sobretudo as classes populares tanto em relação a morte por contágio quanto pelo aumento da miséria e piora nas condições de vida. Ao mesmo tempo, em algumas regiões a pandemia e o risco de infecção tem esvaziado as ruas e, de certo modo, funcionado como uma barreira para as mobilizações de rua multitudinárias. Como vocês analisam essa relação, já que a reforma tributária de Duque, por exemplo, afetaria diretamente o sistema de saúde colombiano?

Isso é brutal, como a pandemia tirou tudo que estava escondido e por fim as pessoas sentiram na verdade o que estava acontecendo. Agora não penso tanto no vírus, ainda que siga aí e os contágios e as mortes aumentem, basta ver o que passa com vocês, essa aparição das covas em São Paulo e em Manaus.

E sim, a rua se esvaziou, mas aqui em Medellín foi por uns 3 meses, depois vieram manifestações contra a brutalidade policial que nunca tinham sido vistas antes, o centro era uma barricada e lembrava quando muitos jovens saiam dos quebradas como quando desciam da Rocinha ou das manifestações na Avenida Presidente Vargas, o Rio de Janeiro.

Barricadas em Bogotá

Quando a saúde é um negócio. As vacinas, os tratamentos, as formas de hospitalização, é tudo brutal. Por outro lado tem se explorado o cuidado coletivo e as formas de nos mantermos fortes quanto ao que acontece e afeta nosso corpo.

Agora o Estado colombiano está tirando a saúde pública das classes populares e vão deixá-las sem o serviço de saúde. Está sendo gerado um processo de eugenia e somente sobreviverão aqueles que sejam mais conscientes de seu corpo e tenham a possibilidade de se cuidar.

Este processo de desmonte da saúde pública e da educação está deixando para todas as pessoas problemas muito grandes e muito urgentes de serem atendidos. Por um lado, me parece importante que tenhamos em conta esses processos e os atendamos por conta própria, mas pensando nas classes populares é interessante como têm se voltado para as formas comunitárias de como começaram os bairros; os cultivos, as autoconstruções, as formas de encontro na rua, isso parecia ter sido exterminado, mas começamos a ver que a memória retorna.

Nos chegam vários vídeos e imagens do terrorismo de Estado com assassinatos, torturas e outras formas de agressão por parte da polícia colombiana. Sabemos que isso não é um fato isolado, pois esta é uma ação regular de todos os Estados, sobretudo quando uma mobilização ataca a ordem e a paz dos ricos. Como se estrutura a policia colombiana e como tem sido o histórico de repressão policial às manifestações?

O Esquadrão Antidistúrbios (ESMAD) é uma coisa brutal. Estão muito mais equipado que o choque de ordem, que a Gendarmeria e os Carabineiros. É uma mistura de robocop e batman, e tem uma letalidade brutal. O enfrentamento com eles é quase impossível, mas quando se vê os jovens parados frente a eles, se pensa muito no que se tornou esta luta, uma coisa de desespero absoluto. Além disso, agora com os tanques que os acompanham e foram comprados durante a pandemia, se chamam de Venom e tem um disparador de mais de 24 tiros de todos os tipos de balas recalsadas, granadas de atordoamento (N.T.: conhecidas no Brasil como bombas de efeito moral) e cargas tanto dissuasivas (armamento menos letal) quanto letais.

A polícia está formada por vários organismos, a SIJIN (Seccional de Investigación Judicial) – que são verdadeiros assassinos muitas vezes a paisana, devem estar agora montando uma tremenda perseguição; a polícia de verde; e outra que apoia os antidistúrbios. Isso é algo muito brutal, apoiando as frentes paramilitares fortemente armados, como se pode ver na cidade de Cali há alguns dias.

Já levamos mais de 20 anos com a ESMAD e temos exigido seu desmonte. Somente após 16 anos, agora, condenam um deles por assassinar Nicolas Neira, um jovem anarquista de 15 anos morto em Bogotá.

No momento se conta mais de 40 mortos nesta jornada, alguns assassinados pela ESMAD, outros por paramilitares e policiais. E algo do que não se tem falado é das pessoas desaparecidas, já são mais de 1000 e isso frente ao acumulado da guerra na Colômbia, na qual chegam a milhares. Medelín e Antioquia são as mais afetadas por esse flagelo.

Existe algum debate sobre a autodefesa nas ruas? Existe algum debate dos movimentos e coletivos em relação a abolição da policia, por exemplo?

A palavra autodefesa não é utilizada porque para nosso contexto é parte do que propõem os grupos paramilitares de organização e enfrentamento às guerrilhas e ao povo organizado. Não saberia dizer qual é o tipo de debate, se fala muito dos cuidados e da organização em Minga, que propõem os indígenas de Cauca, que envolve trabalho coletivo e organização horizontal e proteção.

E sim, sobre o assunto policial/militar há muito debate há muitos anos. A campanha pelo desmonte da ESMAD e tantas outras contra o terror de Estado. De fato tudo isso junto com a JEP ( J_uridisccion Especial de Paz_) e a comissão da verdade que foram abertas com o processo de paz. Agora, como o que muda na situação atual? Que a guerra entrou nas cidades entrou nas cidades, querem nos levar a um cenário de guerra civil.

Há muitos anos trabalhamos em questões antimilitaristas, contra a ocupação militar, então tudo isso que vimos nos Estados Unidos com George Floyd, o que passa no México com os desaparecidos e os narcotraficantes, no Brasil com as milícias e as chacinas, nos atravessa por aqui e nos toca…

Cartazes colados por Taller Parresía

Por fim, nos interessa muito as diferentes expressões do anarquismo na região conhecida como América do Sul. Portanto, gostaríamos que vocês falassem um pouco sobre as forças envolvidas nas lutas anárquicas da região colombiana.

O anarquismo já nos acompanha há alguns anos e cada vez mais surgem pessoas afins à causa anárquica. É muito bonito ver isso na Colômbia, pois não temos uma tradição de anarquistas. Também temos mudado muito por conta da guerra, então cada vez mais nos inteiramos do que passa com nossxs irmãxs, estar como no meio do caminho entre São Paulo e São Francisco, na Califórnia, nos permite um intercâmbio muito interessante. Bogotá é uma cidade que tem uma expansão do anarquismo muito interessante de acompanhar. De qual forças se poderia falar? A feminista é muito forte, também a luta ecológica tem tomado muita força. E bem… vemos que proliferam muito agora as ações diretas de arte urbana, um movimento muito ativo de denúncia, além dos indígenas de Cauca e os processos de liberação da mãe terra, as organizações negras e camponesas. Em todo o que temos semeado com todxs xs companheirxs que passaram por aqui e se solidarizaram com as comunidades e coletivos neste território. A luta anárquica pode se encontrar de muitas maneiras muito bonitas de experimentar.

Agora sobre as armas? Para nós isso é muito complicado de abordar. Recentemente um amigx da Flor do Asfalto, uma ocupação na região portuária do Rio de Janeiro onde conhecemos nossxs companheirxs, me falava do cenário de guerra civil que está ocorrendo agora na Birmânia e isso já acontece com nós em apenas 15 dias do último levante.

Por outro lado, essas gerações se formaram com a resiliência – e como analisa o Núcleo de Sociabilidade Libertária (NUSOL) em São Paulo, isso pode ser uma deriva ao fascismo –, outros como nós nas lutas antimilitaristas e na resistência cultural, onde aprendemos e não tenderíamos como nos posicionar de outro modo. Penso que temos vindo fazendo já ha muitos anos. Vamos ver como se desencadeiam os acontecimentos. Por agora se está vendo muito apoio internacionalista, também muitos migrantes colombianos agitando e denunciando, então o importante é não ficarmos sozinhxs.
Há dois dias estava ocorrendo um bloqueio de uma via nacional, chegavam gente de todos os povos do oriente, de Antioquia, do departamento de Medelín… e houve shows, queima de pneus, cozinha comunitária e montamos uma oficina de serigrafia. Então algo passou para que a gente consiga fazer isso, amanhã voltam as manifestações e assim estamos…

“Estado Assassino” – Grafite nas ruas de Medelín denunciando o terrorismo de estado.

PARA SABER MAIS:

Colômbia Perdeu o Medo – A Revolta Segue em Todo o País Enfrentando a Violência de Estado

Video: Revolta e repressão na Colombia, por coletivos Antimídia e Submedia


EN ESPAÑOL

Las noticias que nos llegan indican que la insurrección que tomó las calles comenzó con una lucha contra la reforma tributaria que el gobierno de Iván Duque intentó aplicar . Sin embargo, nos parece interesante tener en cuenta el contexto de las recientes luchas en los territorios donde se producen las insurrecciones, sobre todo porque hace menos de dos años las ciudades colombianas ya habían sido escenario de masivas e intensas manifestaciones. Por lo tanto, nos gustaría que comentaras un poco sobre el proceso de luchas que se está dando actualmente en el territorio dominado por el Estado colombiano y cuál es la relación con las luchas que precedieron a este momento.

Si como comenta ustedes es un acumulado, y no solo nuestro sino con todo el pueblo y nuestrxs amigxs en america latina, vivimos el 2013 en Rio de Janeiro, seguimxs las jornadas de nuestrxs amigxs en chile y valparaiso, estubimos al tanto de lo que acontecia en el alto en la paz, y en quito. todo nos puso en schock en cada momento.

Ademas la ejecucion de Marielle, la de Santiago, Bertha, los 43 de ayotzinapa y tantos excombatientes que le apostaron al proceso de paz en colombia, los lideres sociales, a los miles de detenidos y desaparecidos politicos y a todos que han sufrido el drama del desplazamiento/migracion venezolana y la mesoamericana.

Pero para nosotros todo se vuelve mas intenso con la necropolitica de este estado, hemos seguido el caso de las ejecuciones extrajuciales, llamados falsos positivos, jovenes pasados como guerrilleros muertos en combate que causo miles de desaparecidos y ejecuciones selectivas por parte de los militares para rendirles cuentas al financiamiento de EEUU. Ademas el desastre de la represa que secuestro del rio cauca y en su llenado cubrio las tierras del cañon con cientos de fosas comunes, llamada hidroituango.

Todo ha sido muy intenso de hace unos dos años para la fecha, pues el estado colombiano es una mafia y se organiza como tal para exterminar al pueblo, y toda forma de organizacion y de vida. Ademas de tener super organizado sus frentes paramilitares y todo el asunto del la produccion y circulacion de la cocaina que ahora se sabe que esta al mando de los carteles mexicanos.

En 2019 en noviembre nos sumamos y extrañamos que ustedes en sus ciudades no, a las jornadas en chile, la paz y quito, nos movio mucho estas barricadas que aparecian en las ciudades andinas, y mismo desde medellin, casi donde terminan los andes o entre los andes.

Fuimos documentando todo este proceso insurrecional :: y lo mapeamos y lo narramos :: porque pensamos que que las luchas nuestras acciones van mas alla de esta carcel q nos montaron como la patria.

Esta fue una reseña de las jornadas de noviembre y diciembre del 2019 en Medellin ::  y esta la forma de confrontacion que se presenta con el escuadron antidisturbios;

Algo a reseñar es que igual que ustedes vivimos una ocupacion militar del territorio y esto nos expone demasiado y hace que la lucha muy complicada de llevar, por el miedo y la capacidad del estado de exterminar a los que involucran en este proceso.

El territorio conocido como Sudamérica tiene una historia muy intensa de revueltas. En la última década ha habido varias… podemos recordar, por ejemplo, la insurrección que tomó las calles de las ciudades brasileñas en junio de 2013 o el llamado estallido social que se hizo evidente en territorio chileno en octubre de 2019. A pesar de sus diferencias entre las fuerzas implicadas y los efectos producidos, en general se trataba de una lucha contra el aumento del coste de la vida, lo que significa directamente una lucha por la vida y contra la miseria producida por el capitalismo y el Estado. Y nos parece que la revuelta que se está ocurriendo actualmente en territorio colombiano tiene algunas características en común. ¿Cómo analizan esta relación?

Si, hay mucha hambre, mucha miseria asi descarada y la gente no aguanta mas esto, esto ha hecho que mucha gente se sume al trabajo de denuncia, otros pongan el cuerpo para enfrentar al escuadron antidisturbios, y a la policia. y las comunidades indigenas, campesinas, y negras a los militares. por eso nos hemos dedicado a analizar el proceso de insurreccion confrontado con el proceso de devastación de america latina para entender las tacticas, las formas de permanencia en el espacio urbano y las formas de hacer las denuncias, no solo localizadas sino hablandole a los compañerxs latinoamericanxs.

Nos atraviesan muchas causas y cuestiones comunes, la migracion/Desplazamiento, las masacres, el proceso de devastacion y el extractivismo, las gentrificaciones, por alguna razon nos han separado pero en esas mismas fisuras hemos logrado conectarnos, conocernos y afectarnos por todo aquello que sentimos que es parte de nuestra apuesta de permanencia en el territorio y sobre todo la calle.

Vivimos la intencidad de las jornadas de junio en Rio en 2013, volvimos para las olimpiadas, y bajamos por montevideo y buenos aires, conociendo todo lo que estaba pasando, cuando volvimos a colombia vimos como se le negaba la posibilidad a los guerrilleros de entrar en un proceso de paz, y como se tomaba por asalto el estado brasilero y el colombiano, toda esta experiencia en estos acontecimientos ha llevado a que nos comprendamos de una forma diferente y que nos mantengamos atentos a lo que acontece.

Todo esto nos llevo a buscar en la grafica latinoamericana un lugar comun para narrar y presentar las denuncias en la calle, y asi lo hemos venido haciendo desde el 2019 :: https://caosdisfuncional.medium.com/del-miedo-en-el-meme-al-cartel-en-la-calle-un-virus-que-expande-en-el-valle-de-aburr%C3%A1-9b822626ec11 y esto nos ha servido para organizarnos, tener una disciplina y a crear cierta forma de consensos para permanecer juntxs. https://www.instagram.com/tallerlaparresia/

La pandemia de Covid-19 ha afectado, sobre todo, a las clases populares tanto por el número de muertes como por el aumento de la miseria y el empeoramiento de las condiciones de vida. Al mismo tiempo, el riesgo de infección ha vaciado las calles en algunas regiones y ha actuado como una barrera para las grandes movilizaciones callejeras. ¿Cómo analiza esta relación, ya que una de las reformas que Duque pretende implementar afectaría directamente al sistema de salud colombiano?

Eso es brutal, como la pandemia saco todo lo que estaba escondido y porfin la gente sintio en verdad que estaba aconteciendo. Ahora no pienso tanto en el virus, aunque sigue ahi y los contagios y las muertes aumentan, solo es ver lo que les pasa a ustedes, esa aparicion de las fosas en SP y en Manaus.
y si la calle se vació, mas aca en medellin fue por unos 3 meses, despues vinieron unas protestas contra la brutalidad policial para septiembre del 2020 que nunca antes se habia visto, el centro era una barricada, y recordaba mucho los jovenes saliendo de los barrios como cuando bajaban de la Rocinha o las manifestaciones en la avenida presidente Vargas en Rio.

En cuanto a la salud, es un negocio, las vacunas, los tratamientos, las formas de hospitalizacion. es brutal todo esto. por otro lado se ha explorado el cuidado colectivo, y las formas de mantenernos fuertes en lo q acontece y nos afecta al cuerpo; https://caosdisfuncional.hotglue.me/
Ahora el estado colombiano esta sacando la salud publica a las clases popularles, y los va dejar sin el servicio de salud, se esta generando todo un proceso de eugenesia, y solo sobreviveran aquellos que sean mas concientes de su cuerpo y tengan la posibilidad de cuidarlo.

Este proceso de desmantelamiento de la salud publica y la educacion esta dejando para todos unos problemas muy grandes y muy urgentes de atender, por un lado se me hace importante que tomemos estos procesos y los atendamos por cuenta propia, mas pensando en las clases populares es interesante como se han vuelto a las formas comunitarias de como empezaron los barrios; los cultivos, las autoconstrucciones, las formas de encuentro en la calle, esto parecia exterminado, mas empezamos a ver que esta memoria vuelve.

Hemos recibido varios videos e imágenes de terrorismo de Estado con asesinatos, torturas y otras formas de agresión por parte de la policía colombiana. Sabemos que no se trata de un hecho aislado, ya que es una acción habitual de todos los Estados, especialmente cuando una movilización ataca el orden y la paz de los ricos. ¿Cómo está estructurada la policía colombiana y cuál ha sido la historia de la represión policial contra las manifestaciones?

El escuadron antidisturbios ESMAD es una cosa brutal, estan mucho mas equipados que el choque de ordem, que la guendarmeria y los carabineros, es una mezcla de robocop y batman, y tienen una letalidad brutal, el enfrentamiento con ellos es casi imposible mas cuando uno ve a los jovenes parados frente a ellos piensa mucho en lo que se ha vuelto esta lucha, una cosa ya desesperacion absoluta. Ademas ahora con las tanquetas que los acompañan y que fueron adquiridas en pandemia, se llaman las Venom y tienen un disparador de mas de 24 tiros de todo tipo de balas recalsadas, aturdidoras, y cargas tanto disuasivas y letales.

La policia, esta formada por varios organismos, la sijin que son unos asesinos muchas veces de civil esos deben ahora estar montando tremenda persecusion, la policia de verde, y otra que apoya a los antidistubios, eso es algo muy brutal, apoyando a los frentes paramilitares fuertemente armados, como se puedo ver en la ciudad de cali hace dos dias.

Ya llevamos mas de 20 años con el ESMAD y hemos exgidio su desmonte, apenas ahora 16 años despues condenan a uno de ellos por asesinar a Nicolas Neira un joven anarquista de 15 años en bogota.

Ahora se cuenta mas de 40 muertos en estas jornadas, unos por el ESMAD, otros por paramilitares y policiales. y algo de lo que no hemos hablado es los desaparecidos, ya van llegando a los 1000, y esto frente al acumulado de la guerra en colombia que se cuentan por miles. Medellin y antioquia son los mas afectados por este flajelo (https://caosdisfuncional.medium.com/desaparici%C3%B3n-forzada-en-antioquia-colombia-6a457f765b23).

¿Hay algún debate sobre la autodefensa en las calles? ¿Hay algún debate por parte de los movimientos y colectivos sobre la abolición de la policía, por ejemplo?

La palabra autodefensa no se emplea por que para nuestro contexto es parte de lo que proponen los grupos paramilitares de organizacion y enfrentamiento a las guerrillas y al pueblo organizado. No sabria decir cual es el tipo de debate, se habla mucho de los cuidados y de la organiacion en Minga que proponen los indigenas del Cauca, que involucra trabajo colectivo y organizacion horizontal y proteccion.

y si, acerca del asunto policial/militar si hay mucho debate hace muchos años, la campaña por el desmonte del esmad, y tantas otras contra el terror de estado, de hecho todo esto junto con la JEP, juridisccion especial de paz, y la comision de la verdad que se abrieron del proceso de paz, aunque esto puede fracasar como la experiencia de ustedes con la comision de la verdad, se ha logrado exponer con claridad como es el terror de esta guerra, ahora que cambia la situacion actual? que la guerra entro a la ciudades, nos quieren llevar a un escenario de guerra civil.

Ya hace muchos años trabajamos en las cuestion antimilitarista, en contra de la ocupacion militar, entonces todo esto que vimos en estados unidos con George Floyd, lo que pasa en mexico con los desaparecidos y los narcos, con brasil con las milicias, las chacinas pasa por nosotros aca y nos toca…

Por último, nos interesan mucho las diferentes expresiones del anarquismo en la región conocida como Sudamérica. Así que nos gustaría que hablaras un poco sobre las fuerzas involucradas en las luchas anárquicas en la región colombiana.

El anarquismo ya viene desde hace unos años con nosotrxs, y cada vez mas, muchas gente a fin a la causa anarquica, es muy bonito ver eso en colombia, por que no tenemos una tradicion de anarquistas, tambien hemxs migrado mucho por la guerra, entonces cada vez mas nos enteramxs que pasa con nuestros hermanxs, estar como en la mitad entre san pablo y san francisco en california nos permite un intercambio muy interesante, Bogotá es una ciudad que ha tenido una expancion del anarquismo muy intersante de seguir. De que fuerzas se podrian hablar? la feminista esta muy fuerte, tambien la ecopolitica pienso ha tomado mucha fuerza, y bueno vemos que proliferan mucho ahora las acciones directas del arte urbano, un movimiento de denuncia muy activo, ademas los indigenas del cauca y los procesos de liberacion de la madre tierra, y las mismas organizaciones negras, hasta las campesinas. En todo lo que hemxs sembrado con todxs los compañerxs que han pasado por él y se han solidarizado con las comunidades y colectivos en este territorio. La causa anarquica puede encontrarse de muchas maneras muy bonitas de experimentar.

Ahora acerca de las armas? eso es muy complicado de abordar para nosotrxs. Ahora un amigxs de la flor do asfalto aquella ocupacion en la zona portuaria de Rio donde conocimos a nuestros compañeros, me hablaba del escenario en Birmania de guerra civil como esta acontenciado ahora, y esto ya acontece con nostrxs en apenas casi 15 dias de el ultimo levantamiento.

Por otro lado estas generaciones se formaron con la resiliciencia y como analiza el NuSol en SP esto puede ser una deriva al fascismo, otros como nosotrxs en las causas antimilitaristas y en la resistencia cultural, de ahi aprendimos y no tendriamos otra que posicionar esto, y pienso que lo hemxs venido haciendo hace ya muchos años. Vamos a ver como desencadenan estos acontecimientos, por ahora se esta viendo mucho apoyo internacionalista, tambien muchos colombianos migrantes agitando y denunciando, entonces lo importante es no quedarnos solxs.

Hace dos dias estaba en un bloqueo de via nacional, llegaba gente de todos los pueblos del oriente de antioquia, el departamento de medellin, y hubo concierto, quema de llantas, olla comunitaria, y montamos el taller de serigrafia, Entonces algo ha pasado para podamos hacer todo esto, mañana vuelven las movilizaciones, y asi estamxs…