A solidariedade não reconhece fronteiras. Atravessa montanhas, matas, rios, oceanos. Encurta distâncias, aproxima corações incendiários, perfura muros, serra grades, destrói cercas. Hoje, dia 14 de agosto, se marca o dia internacional de agitação e propaganda com anarquistas presxs.
Publicamos essa semana um artigo contextualizando a prisão de Mónica e Francisco num quadro maior de repressão a anarquistas, ao povo Mapuche e toda a dissidência política no Chile. Abaixo um vídeo do coletivo Antimídia sobre a prisão de nossos companheiros:
Para somar nessa campanha, traduzimos 3 cartas dos companheiros libertários Joaquín García Chancks, Marcelo Villaroel Sepúlveda e Juan Aliste Vega, que vêm sendo mantidos encarcerados pelo Estado chileno. Chancks foi condenado a 10 anos de prisão por sua suposta participação em uma explosão na Escola de Gendarmería de San Bernado e outra na Delegacia de San Miguel em 2015. Marcelo e Juan foram sentenciados com 14 e 42 anos de prisão pela suposta participação em expropriações bancárias e pela morte de um policial durante uma fuga em outubro de 2007, no que ficou conhecido midiaticamente como Caso Security.
Um abraço forte e solidário à Mónica, Francisco, Joaquín, Marcelo e Juan.
LIBERDADE!
Carta de Joaquín García Chancks
Parece que a Negação não alcança nenhuma Verdade, Razão ou Lógica imóvel, que da luta contra a falsidade do existente só resulta um caminho semeado de dúvidas, no que o presente e o devir se borram, com uma tinta difusa, uma densa neblina na qual sempre será uma tarefa navegar, mas existe algo que traz novamente a claridade a esta trilha; é a bússola da confrontação que se apresenta como a razão consequente com a noção inseparável de uma simbiose teórico-prática, o ponto de vista de uma existência as vezes errante.
A dinâmica do combate sacode a existência para trazê-la de volta à vida, dotando-a da Fogosidade que o cansaço e a monotonia muitas vezes extingue; a construção de um existência antagonista carrega, então, a capacidade de viver longe da virtualidade imposta pela vida normalmente ditada, o golpe a golpe do ataque agradável, impulsor da mítica destruição criadora e o sofrimento de quando não somos quem golpeia, da prisão, a morte, que flerta com a subversão, são os sabores da vida, vida real, bebidas amargas e ambrosia.
Hoje bebemos desta bebida amarga; dois afetuosxs companheirxs são detidxs e acusadxs pela colocação de múltiplos artefatos explosivos, entre eles o enviado ao ex-Ministro do Interior Rodrigo Hinzpeter e um enviado à 54ª delegacia de Huechuraba. Inevegável que ambos belos ataques falam da continuidade histórica, do golpe da memória que não esquece. O poder transtornado e temeroso.
Festina, com a detenção dxs supostxs responsáveis, que recorde, a revolta não foi o ponto de culminante de um êxtase rebelde, é a criação, o ponto de inflexão de centenas de vidas em combate.
Um grande abraço à distância, cheio de amor, carinho e força para vocês, Mónica Caballero e Francisco Solar.
Viva a anarquia.
Joaquín García Chancks
Carcel de Alta Seguridad Chile,
14 de agosto de 2020.
Carta de Juan Aliste Vega
Há pouco menos de um mês da detenção de nossxs companheirxs Mónica e Francisco pelas mãos do aparato policial de Estado, Guardas do poder e defensores dos interesses da casta burguesa política deste território.
Mónica e Francisco em prisão e reféns deste Estado capitalista que xs julga e sentencia desde o primeiro instante em que midiaticamente a administração fascista instala sua maquinaria jurídica servil em suas consequentes vidas.
São companheirxs que têm posição de caminhar livres e com férteis convicções. Abraço elxs com incondicional força e ternura, com o coração repleto de cumplicidade.
Como inimigo deste Estado, levantando a escrita pela bela insistência de reconhecermos na palavra transformada em ato e o pensar em ação subversiva. Juntxs no abraço de guerra que transcende muros e fronteiras, batida incansável que flui pela eliminação de toda forma de submissão.
E o combate diário frente a qualquer forma de poder. É a anarquia presente kom oxigênio libertário que não deixa de bombear, desde os negros corações, mais razões nesta luta contínua.
A prisão não é alheia a este caminhar, nossas vidas não são mensuráveis em custos, há aprendizado constante, há a decisão inquebrável de confrontação e ação direta, indicador tangível de que é possível não somente batalhar, mas também ser livres.
Juntxs no abraço de guerra que transcende muros e fronteiras nessa luta contínua.
Caminhando com dignidade rebelde e olhar subversivo, dentro e fora da prisão até a liberação total!
Enquanto houver miséria, haverá rebelião!!
Juan Aliste Vega,
Prisionero subversivo
Cárcel de Alta Seguridad Chile,
14 de agosto de 2020.
Carta de Marcelo Villaroel Sepúlveda
É nossa a konvicção!!
Indestrutíveis nossos desejos e infinitos os motivos e razões para seguir, nesta guerra, pela morte do estado, da prisão e do kapital.
Há 21 dias a notícia nos akordou batendo em nossas karas. Foram presxs Mónica e Francisco. Desta vez akusadxs de serem autorxs de diversos ataques explosivos em Santiago no último ano. Klaramente a ofensiva permanente do Estado por meio de seus aparatos repressivos, sua estrutura jurídica penitenciária e sua imprensa servil e empresarial desenha a karicatura sobre nossxs irmãxs komo xs culpadx perfeitxs para quem se espera todo o rigor da lei dominante.
A decisão do poder é o kastigo exemplar para servir de lição e de fase preliminar à resistência ofensiva komo prática insurrecional de ataque ao existente. Nossxs companheirxs hoje enfrentam uma dura luta. O poder, em bloco, fazendo uso de suas ferramentas, adianta duras condenações.
Nossas palavras nascidas de uma longa resistência à estadia forçada na prisão buscam assinalar certezas e convicções. Uma delas é a justeza de nossa ação rebelde e insurreta. Outra é que a luta pela destruição da sociedade carcerária é uma necessidade imperativa. De urgência vital nestes tempos de controle, repressão e morte.
O inimigo espalhado por todo o território atua com todos os capangas na rua, e nesta confrontação inevitável hoje nossxs kompanheirxs aparecem como destinatárixs inevitáveis de todo o peso da lei enquanto passam a formar parte deste contingente de kompanheirxs, que navegamos nesta paisagem sombria da prisão em um kontexto de permanente e interminável konflitividade.
A guerra social se torna comum e necessária por meio da legitimidade da violência multiforme como prática liberadora de rebelião, mas também vai parindo presxs, fugitivxs, fugidxs e mortxs. Esta é a realidade do konflito.
O que não podemos nunca esquecer: virão mais e mais kompas perseguidxs, kaídxs, fugidxs, mas, do mesmo modo, haverão companheirxs passando para a ofensiva, dando continuidade à esta luta pela liberdade, pela terra, kontra o kapital e tudo o que nos impede de viver.
Desta cela, onde meus pensamentos voam até as que habitam hoje, abraço xs kompanheirxs neste novo trajeto morro acima que seguramente saberemos seguir.
Mónika e Francisco e todxs x presxs da guerra social, da Revolta e da liberação mapuche para a rua!
Enquanto existir miséria, haverá rebelião!!
Marcelo Villaroel Sepúlveda
Prisioneiro libertário
Carcel de Alta Seguridad Chile,
14 de agosto de 2020.