publicação: PORQUE ELA NÃO TÁ NEM AÍ PRA SUA INSURREIÇÃO

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Um texto que fala sobre machismo num contexto específico estadunidense, na cena anarquista insurrecionária da qual a autora faz parte. Ela faz uma breve análise sobre como condutas sexistas estão presentes mesmo neste contexto, pois as mulheres enfrentam a opressão do patriarcado fora, mas também dentro de espaços anarquistas e libertários. Poderíamos dizer espaços supostamente anarquistas e libertários e não estaríamos sendo radicais, apenas sendo coerentes, pois não é possível que nestes espaços o machismo seja aceito, que seja uma opressão praticada como normalidade ou mesmo “apenas” ignorado. Não é possível ignorar o machismo. Isso só acontece porque existe interesse em manter as mulheres sob domínio dos homens. Lendo o texto percebemos que é uma situação análoga as cenas das quais nós também nos encontramos.

publicação: OS 36 ESTRATAGEMAS

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As 36 estratégias apresentadas aqui são fruto de tradições orais populares da China antiga. Não são o trabalho de uma única autoria, como A Arte da Guerra – embora, mesmo no caso deste último, muitas pessoas também alegam que Sun Tzu não foi seu único autor. Com um pouco de criatividade, quase todas as estratégias podem ser aplicadas a praticamente qualquer situação, de guerrilhas expropriadoras à protestos de rua, de projetos auto-geridos à insurreições populares. Sendo assim, anarquistas também podem tirar proveito desse material.

Sugerimos que o texto seja debatido entre coletivos, grupos de afinidades, comitês ou grupos de trabalho. Lendo em grupo cada estratagema por vez e discutindo como e onde eles podem ser aplicados, que adaptações e mudanças podem ser adicionadas, a leitura pode contribuir para as lutas ou movimentos que o próprio grupo está envolvido. Obviamente, alguns pontos podem parecer inadequados para lutas anarquistas, por soarem autoritários, sexistas, nacionalistas ou mesmo obsoletos. Mas é aí que entra nossa criatividade de adaptar cada ponto sem descartar a ideia fundamental que há por trás dos 36 Estratagemas.

Nossos inimigos no topo das instituições que nos oprimem (ou qualquer outra posição autoritária) já não têm nenhuma misericórdia de nós e podemos contar que eles vão fazer o que for possível para nos deter em nossa tentativa de salvar nossas vidas e nosso mundo. No entanto, devemos considerar que nossa criatividade de adaptação não deve se limitar apenas à linguagem. Quando falamos de estratégias criadas com objetivos militares é tentador imaginar apenas formas de aplicá-las no combate com as forças policiais ou outros conflitos físicos. Na verdade, devemos buscar ocupar principalmente outros campos de batalha, uma vez que o poder revolucionário é muito mais social do que militar. E se consideramos nosso poder de influência no mundo de acordo com nosso poder bélico, já começamos uma guerra perdida.

Outra forma de engano é simplesmente imitar as estratégias e espelhar as estruturas de nossos inimigos, mesmo que em menor escala. Por vezes, parece que os revolucionárixs estão condenadxs a constituir-se sobre modelos idênticos àquilo que combatem. Dessa forma, como resumia em 1871 um membro da Primeira Internacional dos Trabalhadores, “se os patrões estão organizados mundialmente como classe em torno dos seus interesses, o proletariado deveria organizar-se mundialmente, enquanto classe operária e em torno dos seus interesses”.

Como explicava um membro do jovem Partido Bolchevique, o regime czarista estava organizado num aparelho político-militar disciplinado e hierárquico, o Partido deveria então, também ele, organizar-se como aparelho político-militar disciplinado e hierárquico. São infinitos exemplos históricos, todos igualmente trágicos, dessa maldição da simetria. Como o da FLN argelina, que esperava vencer tornando-se semelhante nos métodos ao ocupante colonial que enfrentava. Ou das Brigadas Vermelhas, que imaginavam que seria suficiente abater os cinquenta homens que, no seu entender, constituíam o “coração do Estado” para que conseguissem apoderar-se integralmente do aparelho. Nos dias de hoje, a expressão mais errônea desta tragédia da simetria sai das bocas trêmulas da nova esquerda: seria preciso opor a um império capitalista difuso, estruturado em rede, mas mesmo assim dotado de centros de comando, multidões também elas difusas, estruturadas em rede, mas mesmo assim dotadas de uma burocracia pronta para ocupar os centros de comando, assim que chegar seu dia.

Marcada por uma tal simetria, a revolta só pode fracassar – não só porque oferece um alvo fácil, uma cara reconhecível, mas sobretudo porque acaba por tomar os traços do seu adversário.

Boa leitura e nos vemos nas ruas – ou em qualquer campo de batalha que achar relevante!

publicação: “LUTANDO NO BRASIL – Sobre grandes mobilizações e o que fazer quando a fumaça se dissipa”

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Muitas pessoas no meio anarquista dependem de uma narrativa triunfante, na qual caminhamos de vitória em vitória até o momento em que atingimos algo que realmente valha a pena. Mas os movimentos também têm seus ciclos de vida. Eles inevitavelmente atingem um auge e vão ao declínio. Se nossas estratégias se baseiam apenas em um crescimento infinito estaremos nos condenando a uma derrota inevitável. Isso vale também para as narrativas que determinam nossa moral”

After the Crest” – Crimethinc. Ex-workers Collective, 2013

As ondas de protestos que emergiram em 2013 contra o aumento das passagens no transporte coletivo desafiaram a ordem e o ruído fúnebre das suas cidades. Elas convidaram uma geração inteira para as ruas, promovendo encontros e alianças que seguiram influenciando outras lutas e que podem influenciar  as próxima ondas de agitação. Esses eventos foram ouvidos por todo o planeta da mesma forma como também foram influenciados pelos diversos levantes deflagrados em outros continentes e países de diferentes contextos.

No entanto, a vitória que barrou o aumento em diversas cidades e não levou ao fim da tarifa nem conseguiu ir muito além da questão do acesso à cidade de uma forma realmente radical. Muitos grupos tentaram transformar os protestos num mar de outras causas, mas quase todas elas em sintonia com as reformas que constam na agenda das elites e que passaram a ser sugeridas pela própria mídia burguesa. Em 2014 veio a resistência contra realização da Copa do Mundo FIFA e em 2015, várias cidades tiveram aumentos ainda maiores do que os de 2013 e nenhum deles foi revogado depois de semanas de protestos nas ruas.

De economia em crescimento, que trouxe milhões de pessoas da miséria para dentro dos níveis de consumo de uma versão precário de “classe-média”, o Brasil entrou agora em uma fase de políticas de recessão e cortes em benefícios sociais. Um emergente com sintomas de doença de país rico. A grande diferença é que os números da miséria e o abismo entre ricos e pobres são absurdamente maiores que os de uma Europa em crise. Além de uma crise financeira, a falta de água nos reservatórios e a seca dos rios está colocando grande parte do sudeste brasileiro frente ao que já pode se tornar maior crise hídrica de sua história.

Em 2013 o Estado se desdobrava para estudar e conter a impressionante difusão de formas mais ou menos organizadas de luta, principalmente táticas radicais como a dos Black Blocs, que surgiu e foi usada em inúmeras cidades. No ano seguinte, a Copa do Mundo foi o golpe final e o pretexto que faltava para uma rearticulação completa das formas de reprimir e criminalizar o protesto e os movimentos sociais. Para conter a organização e o protesto de quem denunciava as fraudes, a violência policial, os desalojos e as leis de exceção necessárias para a realização de um mega-evento mundial, foram oficialmente abertas as portas para um estado de exceção permanente cujo inimigo maior é sua própria população. Agora, com o fantasma da crise tanto financeira quanto de recursos hídricos – quando os níveis dos reservatórios de água da sua maior cidade chegam a 10% de sua capacidade total – o Estado e suas forças armadas discutem abertamente como conter uma população em revoltas generalizadas. Desemprego em massa, migrações forçadas, epidemias e como conter distúrbios civis em caso de total falta de água e alimentos estão nos painéis de discussões e na pauta dos comandos militares e agentes de segurança.

Outros momentos de pico das lutas sociais vieram antes e muitos ainda virão. Compreendemos que as vitórias alcançadas em 2013 nos levaram a um novo momento político onde muitas pessoas se sentiram empoderadas para tomar partido e se organizar. Ao mesmo tempo, um novo terreno foi criado pela repressão de Estado cada vez mais dedicado à contra-insurgência diante de um horizonte de crises econômicas e ambientais que ameaçam tomar o país.

Não será um único levante ou causa específica que vai trazer abaixo toda opressão de um sistema, mas também não será apenas mostrando de forma teórica e didática as contradições e violências de uma sociedade que conseguiremos trazer pessoas para o nosso lado das barricadas. Aliás, será preciso construir muitas outras coisas mais duráveis do que barricadas se quisermos compartilhar e disseminar formas de resistência e organização anti-capitalista e anti-autoritária para sobrevivermos aos tempos de crises e leis de exceção. Para tanto, é preciso praticar, demonstrar e comunizar soluções anarquistas para os problemas que temos agora e os que forem surgindo nos próximos anos. Soluções radicalmente libertárias que satisfaçam nossas necessidades imediatas mas que sejam condizentes com nossos objetivos a longo prazo. Que nos preserve do olhar e das operações policiais mas que estejam acessíveis a todxs que precisam se organizar.

É partindo dessa perspectiva que apresentamos esse projeto, LUTANDO NO BRASIL – Sobre grandes mobilizações e o que fazer quando a fumaça de dissipa. A organização e a primeira parte do texto foram feitos em São Paulo e não pretendem ser a melhor visão geral ou definitiva dos acontecimentos. Mas uma contribuição que analisa o todo sem esquecer de onde constrói sua perspectiva. Esse é o primeiro capítulo de uma série de publicações que, para dar poder aprofundar e compartilhar diferentes formas de ver e agir em cada lugar, conta com textos escritos por pessoas e coletivos de diferentes estados do país a pensar e compartilhar experiências, questões e soluções para lutas anti-capitalistas de agora e que virão.

Nenhuma Paz Vai nos Proteger [Zine]

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Texto extraído do livro Balaklava e transformado em zine para maior difusão:

“O problema fundamental da não-violência vem quando ela atinge o status de um valor inegociável que, em tese, deve ser aplicado em qualquer lugar ou situação, por qualquer grupo, em qualquer contexto, simplesmente por ser a única forma correta de ação. No entanto, sabemos que defender a não-violência como princípio para todas as ações políticas de resistência simplesmente mascara e tenta preservar privilégios de classe, gênero e cor. É uma forma de agir ineficiente, mas também classista, racista e patriarcal. O pior preço pago pelo pacifismo talvez seja jogar a violência cada vez mais sobre as minorias e desempoderá-las quando mais precisam reagir para defender sua própria existência.”

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