“Guantánamo Calabro”: Carta de Cesare Battisti

Guantánamo Calabro

Em 16 de maio de 2021, Cesare Battisti, o ex-militante comunista italiano que se exilou no Brasil e foi extraditado ao início de 2019 da Bolívia para a Itália, escreveu do presídio de Rossano Calabro uma carta ao jornal online italiano Carmilla onde conta pela primeira vez os detalhes da extradição ilegal da qual foi vítima e o papel cumprido pelos governos italiano, brasileiro e boliviano nessa ocasião. Ele traz a discussão também por sua escolha, que gerou muitas polêmicas sobretudo na esquerda brasileira, ao se declarar culpado. Uma escolha que levou o ex-presidente Lula a se arrepender de ter-lhe dado asilo (escrevemos sobre isso no artigo “Lula só Fez Autocrítica Onde Estava Certo: Comentários à Declaração Sobre Cesare Battisti“).

Nessa carta Battisti lembra que a base legal do seu asilo não foi a inocência ou estraneidade dos fatos violentos dos quais o então grupo político dele, os Proletari Armati per il Comunismo (PAC) foi autor, mas pela natureza política desses delitos e pela persecução política da qual foi vítima na Itália. A carta oferece também a Battisti a possibilidade de refletir, criticamente e autocriticamente, sobre a dramática fase dos chamados “anos de chumbo” na Itália, a que ele define como “a degeneração de um 68 reprimido em sangue, que durou 15 anos”. Uma época da história que o governo italiano, por meio do tratamento ilegal e lesivo dos mais básicos direitos humanos ao qual somente o próprio Battisti, parece não saber ou querer ainda superar.

Iniciei, a partir de 2 de junho, uma greve de fome e médica” escreveu Cesare Battisti em um texto enviado através de sua filha ainda a ser traduzido.


 

Cesare Battisti escoltado por forças policiais ao desembarcar no aeroporto italiano

Para começar, gostaria de avisar que os próximos pontos dizem respeito a algumas passagens importantes em minha história pessoal, podem não ser exaustivos, nem afirmam sê-lo. É apenas questão de responder, embora de forma fragmentada, às perguntas mais frequentes que me foram feitas até agora por aqueles que, apesar da intoxicação da mídia, não desistiram de querer entender o meu caso. Mesmo que estes dados possam ser apenas parciais, a intenção é a de fornecer informações básicas que possam ajudar aos interessados a tirar suas próprias conclusões. Perdoe-me então, pela descontinuidade de uma edição sem pretensões de ser publicamente coerente. E em qualquer caso, dadas as circunstâncias, um discurso linear e profundo não seria possível para mim. Por esta razão, peço aos interessados para consultar meus escritos en Carmilla ou no meu último manuscrito que está sendo analisado atualmente por “Le Seuil” França.

É natural, mas também óbvio, começar da minha prisão na Itália. Durante meus 20 meses de isolamento prisional em Oristano, dos quais apenas 6 foram em um estado de semi-legalidade, alimentei a esperança de que mais cedo ou mais tarde a Instituição entenderia que não se pode punir ou vingar aplicando a um veterano dos anos 70 o status de prisioneiro de guerra de fato. Isso é o que sugere a privação de direitos estabelecida pelas leis nacionais e pelas regras do direito internacional. Em resposta a pedidos formais por motivos de tratamento desumano, citando medidas de segurança sem precedentes, que, além disso, têm sido aplicadas retroativamente há 41 anos, o Estado responde literalmente: “a documentação solicitada foi retida do seu direito de acesso”. Mas, então, nos perguntamos, qual é a possível defesa? Esta é a razão pela qual entrei em greve de fome em Oristano.

Em resposta, o Estado raivoso me transferiu para a pior prisão da Itália, me colocando à força na secção ISIS-AS2. Isso, apesar das ameaças recebidas no passado e no presente, proferidas pelas diferentes frentes jihadistas contra mim. Mas se Cesare Battisti foi designado pela Autoridade Judicial para a segurança média, não tendo o “impeditimento”1, o que ele está fazendo no AS2? Minha presença na secção ISIS implica em grandes dificuldades e pequenas margens de sobrevivência: sem nunca sair da cela para a banho de sol; limitando também a comida, já que são do ISIS os trabalhadores que a distribuem; objeto de ameaças através do portão da grade; privado de computador onde eu posso exercer a minha profissão; vigiado na frente e objeto de CED (medida disciplinar) a cada pequena reclamação; sujeito à censura, alegando suposta “atividade subversiva” (sic) e assim por diante, até ser impedido também no direito de defesa, estabelecido pelo artigo 24 da Constituição. Eu poderia encontrar meus familiares italianos, uma hora por semana quatro vezes por mês, mas, dada a distância do meu local de residência e a idade avançada dos meus irmãos, que varia de 70 a 80 anos, isso raramente acontece. Minha família que vive na França e no Brasil só posso contactá-la com chamadas de vídeo no meu celular uma vez por semana, mas então tenho que desistir das visitas presenciais. Desta forma, passo meses sem contato com meus filhos, para os quais tenho que pedir notícias por carta, quase sempre retidas pela censura porque estão escritas em uma língua estrangeira. Disseram-me até mesmo que meus filhos deveriam aprender a escrever em italiano para receber notícias de seu pai. Isso porque o censor tem dificuldade com o francês ou o português, que são as línguas maternas dos meus filhos. Esse é um tratamento desumano não só para qualquer prisioneiro, mas especialmente para alguém cujo último crime data de 41 anos atrás. E como se isso não fosse suficiente, o governo se compromete a manter um nível absurdo de periculosidade alimentando um processo de criminalização constante a ponto de poder justificar a apreensão do meu computador, onde eu estava completando um romance sobre o conflito em Rojava e o drama dos imigrantes. Apenas para se manter em sintonia com o ditame de reintegração na vida civil.

Vamos dar um passo atrás e chegar à minha fuga do Brasil. As autoridades italianas nunca aceitaram meu refúgio no Brasil. O Estado trabalhou com todas as suas forças, mas também com meios ilícitos como a corrupção e a oferta de privilégios políticos e econômicos, para obter a minha entrega fraudulenta a todo custo! O Brasil abriga uma gigantesca comunidade de origem italiana, equivalente a 35 milhões de cidadãos. Um país dentro do país! Esta importante parcela da sociedade brasileira, além de controlar alguns setores da economia, tem uma forte influência no aparato militar do brasileiro. Há numerosas figuras na ditadura de origem italiana, como o próprio Bolsonaro. Mas pouco importa se o ex-capitão Bolsonaro, que foi expulso do exército, se ele e seus acólitos são súditos inescrupulosos, se não claramente criminosos à frente de milícias sangrentas. A Itália, através da Embaixada, sempre manteve relações privilegiadas com os lobbies militares próximos a Bolsonaro. A ponto de empurrar as empresas ítalo-brasileiras a entrar ativamente na campanha presidencial de Bolsonaro. Em troca de tal amizade, Bolsonaro promete minha extradição. Embora a Constituição o impeça de fazê-lo – você não pode revogar um decreto após 5 anos de sua emissão – Bolsonaro mantém sua promessa. Ao comprar e vender influência na Suprema Corte Federal, é desavergonhadamente ignorada a Constituição e o estatuto de prescrição dos crimes atribuídos a mim, e em dezembro de 2018 é decretada a ordem de extradição.


O governo de esquerda cessante me garantiu contato direto com o presidente da Bolívia, Evo Morales, que pessoalmente permitiu que o fundador do MST, Juan Pedro Stedile, me recebesse na Bolívia com a concessão de refúgio político. Em uma operação combinada entre o PT (Partido dos Trabalhadores) brasileiro e o Mas (Movimento ao Socialismo) boliviano, fui transferido para Santa Cruz de la Sierra. Aqui fui entregue a um emissário do governo empregado direto do Chanceler. Enquanto esperava a papelada para refúgio, fui alojado em um Centro de Monitoramento: instalações pertencentes ao Ministério do Interior, que serviram de base para espionagem da oposição à Evo Morales! Uma dúzia de operadores de informática trabalharam lá, com os quais tive relações cordiais. De vez em quando chegava um alto funcionário do Estado, então eu tinha que ficar trancado no meu quarto no final do pátio. Tive imediatamente a impressão de que estava sendo observado a cada passo, não apenas por forças supostamente amigáveis. Quando a vigilância se tornou mais rigorosa, apontei para o Chefe de Governo que dirigia o centro, mas ele respondeu de forma evasiva. Quando eu tinha já a certeza de que tinha algo errado, fui pego a alguns passos do centro, enquanto ia às compras. De repente, todos aqueles a quem eu havia sido apresentado para a regularização do asilo tinham desaparecido.

Mesmo assim, eu não perdi as esperanças. Claramente pensei na traição de Evo Morales, mas ainda assim contava com as leis bolivianas que excluem a extradição por delitos políticos e, especialmente no meu caso, por estar prescrito de acordo com as leis bolivianas. Então, eu disse a mim mesmo, o pior que pode acontecer será cumprir algum tempo de prisão durante o processo de extradição. Em vez disso, eu deveria ter suspeitado que o que a Itália queria evitar era exatamente um julgamento regular. Os próprios policiais bolivianos da Interpol, alguns dos quais eu tinha encontrado no Centro de Monitoramento, pareciam bastante envergonhados com o que estava prestes a acontecer. Eles não tiveram dificuldade em me informar que ali tinha um monte italianos, brasileiros e agentes de outro país, que eles não queriam especificar. Eles me disseram claramente que minha pele estava sendo negociada e chamavam seus governantes de malandros. Entendi o que estavam falando na manhã seguinte. Quando uma equipe trajada de negro e com capuzes entrou e me levou para o aeroporto internacional de Santa Cruz de la Sierra.

Colocado e guardado em uma sala cujas janelas se viam da pista, eu estava observando as questões burocráticas entre um núcleo da Polícia Federal brasileira e alguns oficiais da Força Aérea Boliviana. A menos de 100 metros da pista, os motores do turbo propulsor da PF Brasil estavam aquecendo. Um pouco mais tarde eu estava acompanhando o Delegado (Comissário) e sua equipe a bordo do avião brasileiro. Em algum momento, houve um tumulto. Eles me tiraram de lá e voltamos para a mesma sala. Aqui fui entregue à polícia boliviana, enquanto os agentes brasileiros saíam sem mim. Por um momento tinha a esperança que Evo Morales tivesse dado uma contra-ordem. Uma esperança fugaz, até a chegada de um grande grupo de pessoas com cores italianas no pescoço, que me levou ao avião oficial que nos esperava muito longe na pista de pouso. Eu até tentei resistir: “É um seqüestro”, gritei. A resposta foi desarmante: “e daí? Mas desta vez funcionou”. Na Bolívia, como no Brasil, as pessoas gritaram sobre o escândalo e o vergonhoso seqüestro permitido por Evo Morales. Houveram protestos e até mesmo manifestações. Obviamente, não houve nenhuma menção a isso na Itália. Ninguém esperava que Evo Morales, já desacreditado pela base de seu partido, fosse tão longe. Mas o mais surpreendente para a covardia foi a Vice-Presidente Linera, com seu passado, que desapareceu na última hora para evitar dar explicações aos amigos comuns.

Algumas pessoas se perguntaram com razão se esses procedimentos, que não são nada menos do que fraudulentos, não podem ser denunciadas às autoridades internacionais. A esse respeito, gostaria de informar que existem atualmente três procedimentos planejados contra os delitos acima mencionados, cometidos pelo Brasil, Bolívia e Itália. Respectivamente, o primeiro é um apelo à OEA e à ONU por um ato inconstitucional na anulação de um decreto presidencial de mais de 5 anos e a separação forçada da unidade familiar – o filho menor e a esposa que permanecem no Brasil -, o segundo é um apelo à ONU contra a Bolívia por sequestro e expulsão ilegal; o terceiro é um apelo à ONU contra a Itália por receptação ilícita; um apelo ao Tribunal Europeu por tratamento desumano na prisão. Mas um procedimento de petições internacionais leva muito tempo e é urgente para mim sair do inferno de Guantanamo Calabro: eu não tenho um impedimento, o que estou fazendo no AS2?

Me dizeram que lendo “Indio”, meu último romance publicado na França, pode-se ver nas entrelinhas a intenção de lidar com o sistema de justiça italiano. Terminei o último rascunho do “Indio” quando ninguém acreditava seriamente que uma pessoa como Bolsonaro pudesse se tornar presidente. Isso quer dizer que algumas de minhas reflexões sobre o futuro incerto do eterno refugiado e perseguido são insuspeitas. A desinformação que nos últimos 15 anos me fez o monstro a ser abatido, impossibilitou qualquer tentativa de lançar luz sobre meu caminho político-militante primeiro, refugiado depois. Tiveram o cuidado de não divulgar minhas tentativas de reconciliação e pacificação com uma suposta nova realidade social na Itália. Eu acreditava que a democracia italiana tivesse amadurecido, que fosse capaz de encarar sua própria história com dignidade e consciência. Estou obviamente me referindo aos “anos de chumbo”, um capítulo dramático de nossa História relegado a uma zona de sombra e tabu, onde a revisão histórica é dominante.

Só para mencionar algumas tentativas de aproximação, a mais séria e formal foi enquanto eu estava na prisão em Brasília, durante o longo processo de extradição. Após algumas reuniões com o pessoal da Embaixada da Itália, onde fiz uma proposta de diálogo para o governo italiano. Foi num momento em que eu já estava certo de não ser extraditado. Propus-lhes que eu aceitaria voluntariamente a extradição se o Governo estivesse disposto a abrir um debate, com pessoal qualificado, para finalmente fazer uma avaliação histórica do período da luta armada, “a degeneração de um 68 reprimido em sangue, que durou 15 anos”. O pessoal da embaixada, ou seja, os espiões, prometeram informar, mas nunca mais apareceram. Enquanto isso, eu também tinha iniciado uma correspondência com Alberto Torreggiani – sabemos que ele foi ferido por seu próprio pai durante o ataque dos PAC (Proletários Armados para o Comunismo, NdT), no qual eu não participei. A correspondência com Alberto Torreggiani, que hoje ele nega por ordem do Estado, ou simplesmente influenciado por reacionários justicialistas, era parte de uma intenção mais articulada de aproximação com as famílias das vítimas dos PAC. Isso no quadro da criação de um clima favorável para retornar, sem ódio, às responsabilidades de todos os componentes do conflito e, quem sabe, finalmente virar aquela página maldita dos “anos de chumbo”. Infelizmente, esta tentativa também colidiu com a intolerância feroz de certos setores políticos e didáticos sempre prontos a alimentar o ódio por interesses partidários obscuros. Não se pode não assistir com desconfiança as pontuais declarações públicas dos parentes das vítimas (obviamente sempre falamos apenas de um lado da barricada) alguns dos quais provavelmente nem tinham nascido na época: 41 anos atrás! E porquê sempre culpar o Battisti, como se tivesse sido ele quem inventou a luta armada? Enquanto os fascistas sob as ordens de alguma instituição estão se divertindo e ninguém grita na rua? Ou será justamente para proteger os assassinos em massa que temos que queimar uma testemunha, para que a desinformação sobre esses anos seja totalmente efetiva.

A praga do Estado nos faz lembrar que devemos ficar calados. A pergunta que deveria ser feita por aquelas pessoas inconscientes que, com raiva nos olhos, exigem a execução para Cesare Battisti, deveria ser mais ou menos esta: “Por que até 2003 ninguém se importava com ele?” Quando Cesare Battisti ainda era apenas mais um entre as dezenas de refugiados italianos ao redor do mundo? Numa época em que ele publicava livros e artigos também na Itália e recebia visitas de personalidades italianas ligadas ao mundo político, cultural e até institucional? O que aconteceu em determinado momento, de modo que de repente ele se tornou o “monstro”, a ponto de alimentar o ódio dos parentes das vítimas – que estava até então adormecido? – e da mídia malandra? É absurdo que nenhum desses justicialistas pense em se perguntar. No entanto, a resposta é simples: Battisti escreve, fala na televisão, dá entrevistas e debates na arena internacional, investiga o passado, é autocrítico, mas ao mesmo tempo denuncia uma guerra civil que o Estado desencadeou e combateu com bombas nas praças e uma repressão sem precedentes. E tem permanecido reticente com a História.

A luta armada na Itália não nasceu em alguma mente pervertida e não foi praticada por quatro desesperados. Ela surgiu de um grande movimento cultural e político que não podia suportar a opressão de um Estado corrupto e assassino. Um milhão de pessoas nas ruas e todos os cúmplices revolucionários. 6.000 pessoas condenadas; cerca de 60.000 denunciadas; mais de 100 grupos armados organizados; centenas os mortos, a maioria deles nas fileiras revolucionárias. Esse é o contexto social no qual os PAC nasceram. Não foi um partido armado, mas a expressão horizontal combatente da ampla frente de protesto, nas fábricas, no território e na educação nacional. Que seu ideal era comunista é claro pelo próprio nome (Proletários Armados pelo Comunismo), mas eles não tinham a intenção de invadir o Palácio de Inverno, nem de tomar o poder do Estado. Eram núcleos difusos e independentes que respondiam à sua maneira à injustiça desenfreada, à extrema direita que se armava em defesa dos privilégios do capital. Fortificados pela ideia de que o verdadeiro comunismo não poderia ser o expresso pela União Soviética, ao contrário, mas simplesmente aquele de uma sociedade futura inevitável, livre e igualitária, imaginada com extrema clareza no “Manifesto” de Marx e Engels. Apenas isso, sem mais sem menos. Que o momento histórico e o uso de armas tivesse sido correto ou não, os fatos e todos os militantes conscienciosos o disseram. Entre os quais eu me coloco em termos inequívocos. Pode-se admitir o erro, sem cair na indecência daqueles que se iludem de que podem compensar por tudo declarando seu arrependimento. Nunca uma palavra foi tão denegrida. Tenho demasiado respeito pela história e pelas vítimas que ela fez para pensar em me esconder atrás de uma camada de hipocrisia.

Pensava-se que a Itália tivesse superado certas fraquezas e estivesse pronta para enfrentar sua própria História. Em vez disso, 40 anos depois, através de suas mais altas representações, ainda oferece aos cidadãos o mesmo show ignóbil, com a presa arrastada entre a multidão enfurecida; os insultos dos caçadores que evocam a presa; os selfie dos ministros; a folia da televisão; Battisti na arena; desfrute agora Povo! Aqui estão as torturas sofridas, depois de um sequestro triunfantemente reivindicado. A tal ponto que até o Tribunal de Cassação julgou mais ou menos nesses termos: “se a Bolívia cometeu um ilícito, não nos importa, eles nos deram Battisti e nós o levamos”. Nós o levaremos! Mas então vocês são uns traficantes! Mas não basta apreendê-lo e trazê-lo de volta para a prisão. Ele também deve ser tratado como um prisioneiro de guerra sem a proteção do estatuto. Não podemos legalmente dar-lhe 41 bis e impedimento? Não importa, nós os damos a ele de fato, mantendo-o isolado e impedindo-o de receber o tratamento que lhe permitiria ter acesso aos benefícios reservados a todos os presos. E se ele reclamar, nós o linchamos utilizando a mídia; nós o colocamos contra a vingança popular; aplicamos censura; lhe tiramos o seu computador para trabalhar; o colocamos na secção do ISIS onde ele será forçado a permanecer em isolamento voluntário. Aí está a tortura!

Chegamos agora à minha escolha pessoal de julgamento. Estava dizendo que há vários anos eu vinha cogitando uma solução decente para pôr fim a esta perseguição, onde as forças políticas italianas não poupavam meios coercitivos ou pressões. A propósito, devo salientar que minhas declarações de inocência – nunca dirigidas às autoridades, somente à mídia – apenas apareceram depois de 2004 na França, e isso para forçar o Estado italiano a admitir o uso desviante da Justiça nos julgamentos da luta armada. Antes disso, e depois, eu nunca havia negado minha filiação ao PAC, assumindo as responsabilidades políticas. A responsabilidade criminal deveria ter sido provada primeiro no tribunal, antes de emitir sentenças de prisão perpétua e esperar por confissões tardias. Portanto, deve ficar claro que os países que aceitaram meu pedido de refúgio nunca o fizeram, e não poderiam tê-lo feito, com base a uma suposta declaração de inocência – como falsamente declarado pelo oportunista Lula – mas exclusivamente por causa da natureza política do crime.

Pensei seriamente em uma solução coletiva dos nossos anos 70. O clima político na Itália não era o ideal, mas eu sabia da existência de personalidades e tendências dentro do mundo judiciário que, tendo lutado na linha de frente na guerra contra o “terrorismo” – como dizem hoje em dia – conheciam bem o assunto e não tinham interesse em recorrer à propaganda obscurantista para entender a realidade dos fatos. Certas pistas me disseram que estas pessoas, ou correntes de pensamento, ainda esperavam que um dia pudéssemos virar estas tristes páginas da história com dignidade e respeito pela memória nacional. Posso citar a este respeito o pensamento do magistrado emérito Giuliano Turone, juiz examinador do julgamento sobre os PAC, que em seu livro “O caso Battisti” afirma mais ou menos nestes termos: “Paradoxalmente, aceitando suas responsabilidades políticas e penais, poderia ser apenas Cesare Battisti a tornar possível finalmente rever e encerrar este capítulo da história”. As palavras podem não ser as mesmas, mas o sentido é este. Movido por este sentimento, alimentado pela esperança de que 40 anos eram já muito tempo e que a democracia italiana tinha que ter amadurecido e que o Estado também era um administrador forte e responsável, decidi confiar na justiça e chamei o promotor de Milão. Aquela minha deposição em 23 de março de 2019 foi uma escolha dolorosa. Estava longe da Itália desde 1981, e meus contatos com o belpaese eram reduzidos a poucos membros da família e ao editor. Não podia imaginar que, além da histeria da mídia, eu ainda pudesse despertar a vingança do Estado. Com a enorme dificuldade de ter que voltar a um julgamento que havia sido arquivado por décadas, sem nenhum fato novo para contribuir, exceto pelas ressalvas agora impossíveis sobre minhas próprias responsabilidades. Não me restava nada para fazer a não ser tomar o pacote completo, porém, criminalmente, não teria peso. Diante da escolha de enfrentar um julgamento histórico, e eu não fui o único a acreditar nisso, que sentido teria em mergulhar no código penal 40 anos depois?

Fui condenado a duas penas perpétuas e seis meses de prisão solitária por ter sido considerado culpado de praticamente todos os crimes cometidos pelo PAC, incluindo quatro atentados mortais. Onde a minha presença física no local do crime não podia ser provada, fui considerado o instigador. Devo talvez ressaltar que em tal conflito, os instigadores não existem e, se existissem, teríamos que procurá-los entre o povo? Em qualquer caso, certamente não poderia ter sido eu.

Eu admiti tudo. Reiterei minha autocrítica pela escolha de ter participado da luta armada, porque foi política e humanamente desastrosa. Mas eu não o tinha dito mil vezes ao longo de todos estes anos? Não tinha nada a arrepender-me porque, errado ou não, não se pode mudar com uma visão a posteriori o significado de eventos historicamente definidos por um contexto social específico. Seria absurdo dizer que não poderia ter sido evitado, mas sei que o movimento revolucionário não se esquivou de assumir suas responsabilidades. Não podemos dizer o mesmo por parte do Estado. Também não tinha nada a pedir em troca de minha confissão. Não teria sido legalmente exigido e bastava para mim que tivesse sido aplicada a lei, como para qualquer outro condenado sem o terrível “impedimento”, para ter acesso a algum benefício futuro reservado a todos.

Em resumo, é como dizer, tudo bem, vocês ganharam e eu estou aqui para testemunhar os cantos de vitória imerecida. Mas, uma vez terminada a festa, caro Estado democrático, vamos todos nos comprometer a reabilitar a história violada, enquanto eu cumpro minha sentença, de acordo com os termos das leis nacionais e das regras internacionais da humanidade como qualquer outro condenado? Pura ilusão. Depois de ter ostentado para o mundo inteiro o fruto de uma caçada suja, cantado uma vitória obtida por engano sobre o sangue das vítimas e a honra barrada da História, o Estado dos remendos não se contradiz e mostra sua verdadeira face. Ela se entrega aos bócios da forca, cavalga a onda populista, sacrifica até mesmo a palavra das autoridades que a serviram, mesmo quando não a mereciam.

Este é o sentimento que me acompanhou de Oristano a Guantanamo Calabro, à mercê do ISIS e submetido a um tratamento digno de uma ditadura militar. Mas não perdi a esperança e estou certo de que a justiça e a verdade prevalecerão.

1 No texto original é ergastolo ostativo, que poderia ser traduzido com “prisão perpétua hostil”. É a exceção à regra na medida em que não permite qualquer tipo de benefício ou recompensa para a pessoa condenada. A prisão perpétua hostil é infligida a indivíduos altamente perigosos que cometeram certos crimes (por exemplo, seqüestro com o propósito de extorsão ou associação mafiosa) e é o que é conhecido como o “fim da sentença nunca”.

DAS BARRICADAS #2: Entrevista Sobre as Lutas na Colômbia – com Unión Libertaria Estudiantil y del Trabajo

Esta é a segunda parte de uma série de entrevistas com individualidades, coletivos e organizações anárquicas de diferentes regiões do território dominado pelo estado colombiano.

Dessa vez com a Unión Libertaria Estudiantil y del Trabajo.


As notícias que nos chegam aqui indicam que a insurreição que tomou as ruas se iniciou com uma luta contra a reforma tributária que o governo de Ivan Duque tentou implementar. Todavia, consideramos interessante levar em conta o contexto das lutas recentes nos territórios em que as insurreições acontecem, principalmente porque há menos de 2 anos as cidades colombianas já haviam sido local de manifestações multitudinárias e intensas. Sendo assim, gostaríamos que vocês comentassem um pouco sobre o processo de lutas que está ocorrendo no momento no território dominado pelo Estado colombiano e qual a relação com as lutas que antecederam esse momento.

As lutas de cada território estão sujeitas ao contexto, aos costumes e às necessidades de cada lugar, já que isso influência no pensamento e na posição política de cada habitante. O entorno de rebeldia que estamos vivendo desde 28 de abril deste ano se dá pela acumulação de exigências e demandas que foram feitas nos anos anteriores em cada uma das regiões. As demandas dos trabalhadores, estudantes, camponeses, indígenas, mulheres e dissidências sexuais seguem sendo as mesmas que há 20 anos. As pessoas viram ser traída a sua confiança não apenas no governo de Ivan Duque, esse é um problema de tempos atrás, com a diferença de que no período do atual presidente a violência estatal aumentou, a precarização do trabalho está mais vigente que nunca.

A confiança traída pela burocracia sindical nas manifestações anteriores tem sido o detonador para que a população colombiana inicie sua organização mediante assembleias, que apensar de não serem reconhecidas como um instrumento legítimo dentro da estrutura política do país, é sim um instrumento no qual o povo se sente representado.

O território conhecido como América do Sul possui um histórico bastante intenso de revoltas. Na última década, foram várias… podemos lembrar, por exemplo, da insurreição que tomou as ruas das cidades brasileiras em junho de 2013 ou do estallido social que se evidenciou no território chileno em outubro de 2019. Apesar de suas diferenças entre as forças envolvidas e dos efeitos produzidos, em geral diziam respeito a uma luta contra o aumento no custo de vida, o que significa diretamente uma luta pela vida e contra a miséria produzida pelo capitalismo e pelo Estado. E nos parece que a revolta que está ocorrendo no momento no território colombiano tem algumas características em comum. Como vocês analisam essa relação?

Os povos do mundo inteiro têm uma luta em comum, cujo horizonte é a liberdade e a dignidade. No caso da América do Sul temos em comum, além dos aspectos já mencionados, a invasão europeia disfarçada de descobrimento, que levou ao quase extermínio total das populações indígenas que habitavam esta parte do mundo. O ar de luta que se respira no sul do continente é parte de um exercício de memória das novas gerações e a luta contra o silêncio que no qual os mais velhos tiveram que padecer. A luta é pela liberação do continente invadido por europeus e pelas políticas inumadas do Estado norte-americano.

Por outro lado, as redes sociais têm nos permitido conhecer táticas de luta e organização utilizadas em outros países, o que levou à criação das chamadas primeiras, segundas, terceiras e quartas linhas de defesa e luta durante as manifestações.

A pandemia do Covid-19 tem afetado sobretudo as classes populares tanto em relação a morte por contágio quanto pelo aumento da miséria e piora nas condições de vida. Ao mesmo tempo, em algumas regiões a pandemia e o risco de infecção tem esvaziado as ruas e, de certo modo, funcionado como uma barreira para as mobilizações de rua multitudinárias. Como vocês analisam essa relação, já que a reforma tributária de Duque, por exemplo, afetaria diretamente o sistema de saúde colombiano?

Embora seja verdade que Covid-19 é um vírus que se tornou uma pandemia, não devemos desconhecer o uso que o Estado tem dado a ele como mecanismo de controle da população. Devo esclarecer que o sistema de saúde colombiano sempre foi uma miséria, os trabalhadores da saúde não tem condições laborais dignas. Somado a isso, monopólios burgueses fizeram da saúde do povo colombiano um negócio, portanto as classes populares tiveram de escolher entre a morte por Covid ou a morte por fome, sendo obrigadas a sair para trabalhar de maneira informal e expor suas vidas.

Quero informar com grande alegria que a reforma de saúde que o governo pretendia implantar foi derrubada graças às manifestações que, em muitos casos, as pessoas deram suas vidas nas ruas.

Nos chegam vários vídeos e imagens do terrorismo de Estado com assassinatos, torturas e outras formas de agressão por parte da polícia colombiana. Sabemos que isso não é um fato isolado, pois esta é uma ação regular de todos os Estados, sobretudo quando uma mobilização ataca a ordem e a paz dos ricos. Como se estrutura a policia colombiana e como tem sido o histórico de repressão policial às manifestações?

A polícia colombiana está configurada de maneira hierárquica. No escalão mais alto se encontram os oficiais, seguido de suboficiais e por último ficam os agentes e soldados de patrulha dessa instituição. O corpo armado segue as indicações do Ministério da Defesa.

As manifestações são reprimidas principalmente por um setor da polícia chamado ESMAD (Escuadrón Móvil Anti Disturbios), armado com trajes blindados, escudos, capacetes e armas letais. Apesar de o Ministério da Defesa afirmar que a polícia atua sob todos os protocolos estabelecidos, nas manifestações temos companheiras e companheiros assassinados por esse esquadrão, com ações que vão desde armas de fogo até morte por espancamento. O ESMAD foi implementado na prefeitura de Andrés Pastrana em Bogotá como uma medida temporária, isso já faz 22 anos. Ao que parece, não foi nada temporário.

A maior parte da repressão foi vivida pelo movimento estudantil, desde aproximadamente os anos 60 do século passado se registram mortes em manifestações. Cabe ressaltar que os policiais contam com grande impunidade e encobrimento do Estado.

Existe algum debate sobre a autodefesa nas ruas? Existe algum debate dos movimentos e coletivos em relação a abolição da policia, por exemplo?

O debate geralmente se dá entre a autodefesa popular e as classes altas que sempre vem com maus olhos quando o silêncio da miséria é interrompido nas ruas. Nos bairros populares sempre se sofreu o abuso policial, portanto a defesa dos manifestantes frente aos corpos policiais sempre é justificada e aprovada pelos manifestantes, ainda que as vezes haja certas discordâncias. A ação direta das pessoas se dá como resposta à repressão policial.

A reforma policial sempre é um perigo nas petições das assembleias, até agora temos 52 pessoas mortas nas ruas, esperamos desta vez conseguir se não a abolição desse corpo de assassinos, ao menos levar a cabo uma reforma. Devemos isso às pessoas que já não estão mais entre nós.

Por fim, nos interessa muito as diferentes expressões do anarquismo na região conhecida como América do Sul. Portanto, gostaríamos que vocês falassem um pouco sobre as forças envolvidas nas lutas anárquicas da região colombiana.

A anarquia na Colômbia tem uma grande história, mas foi apagada pelas versões oficiais, incluindo a do Partido Comunista. A Greve das Bananeiras, Ferroviários e o Grêmio Petroleiro do século passado foi movida por anarquistas. O pensamento libertário é muito comum entre a juventude colombiana, ainda que se deva reconhecer que existem algumas carências de organização. Isso tem mudado nas manifestações atuais, o povo responde com uma estrutura horizontal, dada de maneira espontânea e instintiva.

Enquanto ULET, estamos influenciados sobretudo pelo anarcossindicalismo de origem espanhola, mas não desconhecemos que estamos em um contexto totalmente diferente e que nossa prática deve estar de acordo com o território em que vivemos e lutamos.

Não é equivocado dizer que as manifestações que se vivem na atualidade aqui na Colômbia sejam de caráter anarquista, mesmo que não recebam tal etiqueta. O clamor popular se acumula por meio de assembleias e horizontalidade nos diferentes espaços.

PARA SABER MAIS:

DAS BARRICADAS #1: MUROS QUE GRITAM, PEDRAS QUE VOAM – entrevista com Taller la Parresia sobre a insurreição na região colombiana

Colômbia Perdeu o Medo – A Revolta Segue em Todo o País Enfrentando a Violência de Estado

Video: Revolta e repressão na Colombia, por coletivos Antimídia e Submedia


Abajo, la versión original de la entrevisa en español.

Las noticias que nos llegan indican que la insurrección que tomó las calles comenzó con una lucha contra la reforma tributaria que el gobierno de Iván Duque intentó aplicar . Sin embargo, nos parece interesante tener en cuenta el contexto de las recientes luchas en los territorios donde se producen las insurrecciones, sobre todo porque hace menos de dos años las ciudades colombianas ya habían sido escenario de masivas e intensas manifestaciones. Por lo tanto, nos gustaría que comentaras un poco sobre el proceso de luchas que se está dando actualmente en el territorio dominado por el Estado colombiano y cuál es la relación con las luchas que precedieron a este momento.

Las luchas de cada territorio están sujetas al contexto, costumbres y necesidades de cada lugar, ya que esto influye en el pensamiento y posición política de cada habitante. El entorno de rebeldía que estamos viviendo desde el 28 de abril del presente año se da por la acumulación de exigencias y peticiones que se habían dado en años anteriores en cada una de las regiones. Las demandas de los obreros, estudiantes, campesinos, indígenas, mujeres y disidencias sexuales siguen siendo las mismas que hace mas de 20 años. Las personas han visto traicionada su confianza no solo en el gobierno de Ivan Duque, este es un problemas de tiempo atrás, con la diferencia en que en el periodo del actual presidente la violencia Estatal ha crecido, la precarización laboral esta más vigente que nunca.

La confianza traicionada por la burocracia estatal en anteriores protestas ha sido el detonante para que la población colombiana inicie su organización mediante asambleas, que si bien no son reconocidas como un instrumento legitimo dentro de la estructura política que tiene el país si es una instrumento en el que el pueblo se siente representado.

El territorio conocido como Sudamérica tiene una historia muy intensa de revueltas. En la última década ha habido varias… podemos recordar, por ejemplo, la insurrección que tomó las calles de las ciudades brasileñas en junio de 2013 o el llamado estallido social que se hizo evidente en territorio chileno en octubre de 2019. A pesar de sus diferencias entre las fuerzas implicadas y los efectos producidos, en general se trataba de una lucha contra el aumento del coste de la vida, lo que significa directamente una lucha por la vida y contra la miseria producida por el capitalismo y el Estado. Y nos parece que la revuelta que se está ocurriendo actualmente en territorio colombiano tiene algunas características en común. ¿Cómo analizan esta relación?

Los pueblos del mundo entero tienen una lucha en común, cuyo horizonte es la libertad y la dignidad. En el caso de Sudamérica tenemos en común además de los dos aspectos anteriormente mencionados, la invasión europea disfrazada de descubrimiento que lleva a casi el total exterminio de las poblaciones indígenas que habitante para aquella época esta parte del mundo. El aire de lucha que se respira en el sur del continente es parte de un ejercicio de memoria de las nuevas generaciones y la lucha contra el silencia que tuvieron que padecer los mayores. La lucha es por la liberación del continente invadido por europeos y víctima de políticas inhumanas del Estado Norteamericana.

Por otro lado, las redes sociales nos han permitido conocer tácticas de luchas y organización empleadas en otros países, lo que ha llevado a la creación de las primeras, segunda, tercera y cuarta línea de defensa y luchas durante las manifestaciones.

La pandemia de Covid-19 ha afectado, sobre todo, a las clases populares tanto por el número de muertes como por el aumento de la miseria y el empeoramiento de las condiciones de vida. Al mismo tiempo, el riesgo de infección ha vaciado las calles en algunas regiones y ha actuado como una barrera para las grandes movilizaciones callejeras. ¿Cómo analiza esta relación, ya que una de las reformas que Duque pretende implementar afectaría directamente al sistema de salud colombiano?

Si bien es cierto que el COVID-19 es un virus hecho pandemia, no debemos desconocer el uso que el Estado ha dado a este como mecanismo de control de la población. Debo aclarar que el sistema de salud colombiano siempre ha sido una miseria, el personal medico no tiene condiciones laborales dignas. Adicional a esto, monopolios burgueses han hecho de la salud del pueblo colombiano un negocio, por lo anterior las clases populares han tenido que escoger entre la muerte por covid o la muerte por hambre, viéndose obligados a salir a trabajar de manera informal exponiendo sus vidas.

Quiero informarles con gran alegría que la reforma a la salud que pretendía implantar el gobierno ha sido tumbada gracias a las manifestaciones, que en muchos casos han puesto su vida en las calles.

Hemos recibido varios videos e imágenes de terrorismo de Estado con asesinatos, torturas y otras formas de agresión por parte de la policía colombiana. Sabemos que no se trata de un hecho aislado, ya que es una acción habitual de todos los Estados, especialmente cuando una movilización ataca el orden y la paz de los ricos. ¿Cómo está estructurada la policía colombiana y cuál ha sido la historia de la represión policial contra las manifestaciones?

La policía colombiana, esta conformada de manera jerárquica en el escalón mas alto se encuentran oficiales, seguido de suboficiales y por último quedan los agentes y patrulleros de dicha institución. Este cuerpo armada sigue las indicaciones del ministerio de defensa.

Las manifestaciones se ven reprimidas principalmente por una dependencia de la policía llamada ESMAD (Escuadrón móvil Anti Disturbios), armados con trajes blindados, escudos, cascos y armas letales. Aunque según el Ministerio de Defensa el cuerpo policial actúa bajo todos los protocolos establecidos, en las manifestaciones tenemos compañeros y compañeras asesinados por este escuadrón con acciones que van desde arma de fuego hasta muerte a golpes por parte de los uniformados. El ESMAD fue implementado en la Alcaldía de Andrés Pastrana en Bogotá como una medida temporal, esto hace 22 años. Al parecer no fue temporal.

La mayor parte de la represión la ha vivido el movimiento estudiantil, desde aproximadamente los años 60 del siglo pasado se registran muertes en manifestaciones. Cabe aclarar que la policías cuenta con gran impunidad y encubrimiento del Estado.

¿Hay algún debate sobre la autodefensa en las calles? ¿Hay algún debate por parte de los movimientos y colectivos sobre la abolición de la policía, por ejemplo?

El debate generalmente se da entre la autodefensa popular y las clases altas que siempre ven con malos ojos cuando el silencio de la miseria se interrumpe en las calles. En los barrios popular siempre se ha sufrido el abuso policial por lo tanto la defensa de los manifestantes frente a los cuerpos policiales siempre es justificado y aprobada por los manifestantes, aunque a veces se dan discrepancias. La acción directa de los manifestantes se da como respuesta a la represión policial.

La reforma policial siempre es un pliego en las peticiones de las asambleas, a la fecha llevamos 52 muertos en las calles, esperamos esta vez lograr si no la abolición de este cuerpo de asesinos si llevar a cabo una reforma. Se lo debemos a los que ya no están.

Por último, nos interesan mucho las diferentes expresiones del anarquismo en la región conocida como Sudamérica. Así que nos gustaría que hablaras un poco sobre las fuerzas involucradas en las luchas anárquicas en la región colombiana.

La anarquía en Colombia tiene gran historia, pero ha sido borrada por las versiones oficiales e incluso del Partido Comunista. La huelga de las bananeras, ferroviarios y gremio petrolero del siglo pasado fue movida por anarquistas. El pensamiento libertario es muy común en la juventud colombiana, aunque se debe reconocer que se ha caracterizado por la carencia de organización. Esto ha cambiado en las actuales manifestaciones el pueblo responde a una estructura horizontal, dada de manera espontánea e instintiva.

En cuanto a la ULET, estamos influenciados principalmente por el Anarcosindicalismo de origen español, pero no desconocemos que estamos en un contexto totalmente diferente y que nuestra practica debe ser acorde en el territorio en el que vivimos y luchamos.
No es desacertado decir que las manifestaciones que se viven en la actualidad en Colombia son de carácter anarquista, aunque no reciban dicha etiqueta. El clamor popular se recoge mediante asambleas y horizontalidad en los diferentes espacios.

DAS BARRICADAS #1: MUROS QUE GRITAM, PEDRAS QUE VOAM – entrevista com Taller la Parresia sobre o levante na Colômbia

Há semanas as ruas do território dominado pelo Estado colombiano estão em efervescência, com paralisação total dos serviços, manifestações de rua, piquetes e barricadas. Uma insurreição tomou a região após o governo de Ivan Duque tentar implementar reformas, sobretudo a tributária, que aumentariam ainda mais a miséria e afetariam sobretudo as classes populares.

Como forma de solidariedade às companheiras e companheiros que estão em luta nas ruas neste momento, enfrentando a polícia e o risco de contágio por COVID-19 para afirmar seu direito à vida, publicamos hoje a primeira parte de “DAS BARRICADAS”, uma série de entrevistas realizadas com individualidades, coletivos e organizações anárquicas de diferentes partes da região colombiana.

Consideramos necessário difundir as análises das próprias pessoas envolvidas na insurreição, não apenas sobre a luta destas últimas semanas, mas levando em conta as recentes lutas dos últimos anos, a configuração das forças envolvidas, o histórico de resistência e da repressão que tenta sufocar as múltiplas formas de vida e de luta.

A seguinte entrevista foi realizada com o Taller la Parresia, compas que partem do uso do grafismo produzido em várias regiões sulamericanas como forma de ação direta e intervenção nos muros da cidade de Medelín, segunda maior cidade ocupada pelo Estado colombiano e localizada no Vale de Aburrá.

Abajo, la versión original de la entrevisa en español.

Taller Parresía em intervenção nas ruas colombianas.

PORTUGUÊS

As notícias que nos chegam aqui indicam que a insurreição que tomou as ruas se iniciou com uma luta contra a reforma tributária que o governo de Ivan Duque tentou implementar. Todavia, consideramos interessante levar em conta o contexto das lutas recentes nos territórios em que as insurreições acontecem, principalmente porque há menos de 2 anos as cidades colombianas já haviam sido local de manifestações multitudinárias e intensas. Sendo assim, gostaríamos que vocês comentassem um pouco sobre o processo de lutas que está ocorrendo no momento no território dominado pelo Estado colombiano e qual a relação com as lutas que antecederam esse momento.

Sim, como vocês comentaram, é um acumulado e não só nosso, mas de todo o povo e de nossxs amigxs na América latina. Vivemos o 2013 no Rio de Janeiro, seguimos as jornadas de nossxs amigxs em Santiago e Valparaíso, estivemos atentxs ao que acontecia em La Paz e em Quito. Tudo isso nos deixou em choque em cada momento.

Além disso, a execução de Marielle Franco, a de Santiago Maldonado, Bertha Cáceres, os 43 de Ayotzinapa e tantxs ex-combatentes que apostaram no processo de paz colombiano, xs líderes sociais, xs milhares de detidxs e desaparecidxs políticos e a todas as pessoas que sofrem o drama do deslocamento/migração venezuelana e mesoamericana.

Porem, para nós tudo se torna mais intenso com a necropolítica do Estado. Seguimos o caso das execuções extrajudiciais, chamados falsos positivos, jovens passados como guerrilheiros mortos em um combate que causou milhares de desaparecidos e execuções seletivas por parte dos militares para dar conta ao financiamento dos EUA. Também o desastre da represa que sequestrou o rio Cauca e a inundação das terras do cânion com centenas de fossas comuns, chamada Hidroituango.

Tudo tem sido muito intenso já há alguns anos, pois o Estado colombiano é uma máfia e se organiza como tal para exterminar seu povo e toda forma de organização e de vida. Além de ter super organizado suas frentes paramilitares e todo o assunto da produção e circulação de cocaína que agora se sabe que está a mando dos cartéis mexicanos.

Em novembro de 2019 nos somamos às jornadas de luta no Chile, em La Paz e Quito, e estranhamos que vocês, em suas cidades, não tenham feito isso. Nos moveu muito essas barricadas que apareceram nas cidades andinas e mesmo em Medelín, onde quase os Andes terminam ou entre os Andes.
Fomos documentando todo o processo insurrecional – o mapeamos e o narramos – porque pensamos que as lutas e nossas ações vão mais além do que esta prisão chamada pátria. Essa foi uma resenha das jornadas de novembro e dezembro de 2019 em Medelín e esta é a forma de confronto que se apresenta com o esquadrão de choque. Outra coisa a comentar é que igual a vocês [no Brasil], nós vivemos uma ocupação militar do território e isso nos expõe muito e faz que a luta seja muito complicada pelo medo e pela capacidade do Estado de exterminar as pessoas que se envolvem nesse processo.

“Governo de Parasitas”

O território conhecido como América do Sul possui um histórico bastante intenso de revoltas. Na última década, foram várias… podemos lembrar, por exemplo, da insurreição que tomou as ruas das cidades brasileiras em junho de 2013 ou do “estallido social” que se evidenciou no território chileno em outubro de 2019. Apesar de suas diferenças entre as forças envolvidas e dos efeitos produzidos, em geral diziam respeito a uma luta contra o aumento no custo de vida, o que significa diretamente uma luta pela vida e contra a miséria produzida pelo capitalismo e pelo Estado. E nos parece que a revolta que esta ocorrendo no momento no território colombiano tem algumas características em comum. Como vocês analisam essa relação?

Sim, há muita fome, muita miséria descarada e as pessoas já não aguentam mais isso. Isso fez com que muita gente se somasse ao trabalho de denúncia, que outros colocassem o corpo para enfrentar o esquadrão anti-distúrbios e a polícia. E as comunidades indígenas, camponesas e negras enfrentassem os militares. Por isso nos dedicamos a analisar o processo de insurreição confrontando com o processo de devastação da América Latina para entender essas táticas, as formas de permanência no espaço urbano e as formas de fazer as denúncias, não apenas localizadas, mas falando axs companheirxs latinoamericanxs.

Muitas causas e questões comuns nos atravessam, a migração/deslocamento, os massacres, o processo de devastação e o extrativismo, as gentrificações, por alguma razão nos separaram, mas nessas mesmas fissuras conseguimos nos conectar, nos conhecer e nos afetar por tudo aquilo que sentimos ser parte de nossa aposta de permanência no território e sobretudo na rua.

Vivemos a intensidade das jornadas de junho no Rio de Janeiro em 2013, voltamos para as olimpíadas e descemos por Montevidéu e Buenos Aires, conhecendo tudo o que estava passando. Quando voltamos para a Colômbia vimos como se negava a possibilidade das pessoas envolvidas na guerrilha de entrarem em um processo de paz e como se tomava de assalto o Estado brasileiro e colombiano. Toda essa experiência nestes acontecimentos nos levou a compreender as coisas de uma forma diferente e que nos mantivéssemos atentos ao que ocorre.

Tudo isso nos levou a buscar no gráfico latino-americano um lugar para narrar e apresentar as denúncias nas ruas e assim temos feito desde 2019 e isso tem servido para nos organizarmos, termos uma disciplina e criar certas formas de consensos para permanecermos juntxs.

A pandemia do Covid-19 tem afetado sobretudo as classes populares tanto em relação a morte por contágio quanto pelo aumento da miséria e piora nas condições de vida. Ao mesmo tempo, em algumas regiões a pandemia e o risco de infecção tem esvaziado as ruas e, de certo modo, funcionado como uma barreira para as mobilizações de rua multitudinárias. Como vocês analisam essa relação, já que a reforma tributária de Duque, por exemplo, afetaria diretamente o sistema de saúde colombiano?

Isso é brutal, como a pandemia tirou tudo que estava escondido e por fim as pessoas sentiram na verdade o que estava acontecendo. Agora não penso tanto no vírus, ainda que siga aí e os contágios e as mortes aumentem, basta ver o que passa com vocês, essa aparição das covas em São Paulo e em Manaus.

E sim, a rua se esvaziou, mas aqui em Medellín foi por uns 3 meses, depois vieram manifestações contra a brutalidade policial que nunca tinham sido vistas antes, o centro era uma barricada e lembrava quando muitos jovens saiam dos quebradas como quando desciam da Rocinha ou das manifestações na Avenida Presidente Vargas, o Rio de Janeiro.

Barricadas em Bogotá

Quando a saúde é um negócio. As vacinas, os tratamentos, as formas de hospitalização, é tudo brutal. Por outro lado tem se explorado o cuidado coletivo e as formas de nos mantermos fortes quanto ao que acontece e afeta nosso corpo.

Agora o Estado colombiano está tirando a saúde pública das classes populares e vão deixá-las sem o serviço de saúde. Está sendo gerado um processo de eugenia e somente sobreviverão aqueles que sejam mais conscientes de seu corpo e tenham a possibilidade de se cuidar.

Este processo de desmonte da saúde pública e da educação está deixando para todas as pessoas problemas muito grandes e muito urgentes de serem atendidos. Por um lado, me parece importante que tenhamos em conta esses processos e os atendamos por conta própria, mas pensando nas classes populares é interessante como têm se voltado para as formas comunitárias de como começaram os bairros; os cultivos, as autoconstruções, as formas de encontro na rua, isso parecia ter sido exterminado, mas começamos a ver que a memória retorna.

Nos chegam vários vídeos e imagens do terrorismo de Estado com assassinatos, torturas e outras formas de agressão por parte da polícia colombiana. Sabemos que isso não é um fato isolado, pois esta é uma ação regular de todos os Estados, sobretudo quando uma mobilização ataca a ordem e a paz dos ricos. Como se estrutura a policia colombiana e como tem sido o histórico de repressão policial às manifestações?

O Esquadrão Antidistúrbios (ESMAD) é uma coisa brutal. Estão muito mais equipado que o choque de ordem, que a Gendarmeria e os Carabineiros. É uma mistura de robocop e batman, e tem uma letalidade brutal. O enfrentamento com eles é quase impossível, mas quando se vê os jovens parados frente a eles, se pensa muito no que se tornou esta luta, uma coisa de desespero absoluto. Além disso, agora com os tanques que os acompanham e foram comprados durante a pandemia, se chamam de Venom e tem um disparador de mais de 24 tiros de todos os tipos de balas recalsadas, granadas de atordoamento (N.T.: conhecidas no Brasil como bombas de efeito moral) e cargas tanto dissuasivas (armamento menos letal) quanto letais.

A polícia está formada por vários organismos, a SIJIN (Seccional de Investigación Judicial) – que são verdadeiros assassinos muitas vezes a paisana, devem estar agora montando uma tremenda perseguição; a polícia de verde; e outra que apoia os antidistúrbios. Isso é algo muito brutal, apoiando as frentes paramilitares fortemente armados, como se pode ver na cidade de Cali há alguns dias.

Já levamos mais de 20 anos com a ESMAD e temos exigido seu desmonte. Somente após 16 anos, agora, condenam um deles por assassinar Nicolas Neira, um jovem anarquista de 15 anos morto em Bogotá.

No momento se conta mais de 40 mortos nesta jornada, alguns assassinados pela ESMAD, outros por paramilitares e policiais. E algo do que não se tem falado é das pessoas desaparecidas, já são mais de 1000 e isso frente ao acumulado da guerra na Colômbia, na qual chegam a milhares. Medelín e Antioquia são as mais afetadas por esse flagelo.

Existe algum debate sobre a autodefesa nas ruas? Existe algum debate dos movimentos e coletivos em relação a abolição da policia, por exemplo?

A palavra autodefesa não é utilizada porque para nosso contexto é parte do que propõem os grupos paramilitares de organização e enfrentamento às guerrilhas e ao povo organizado. Não saberia dizer qual é o tipo de debate, se fala muito dos cuidados e da organização em Minga, que propõem os indígenas de Cauca, que envolve trabalho coletivo e organização horizontal e proteção.

E sim, sobre o assunto policial/militar há muito debate há muitos anos. A campanha pelo desmonte da ESMAD e tantas outras contra o terror de Estado. De fato tudo isso junto com a JEP ( J_uridisccion Especial de Paz_) e a comissão da verdade que foram abertas com o processo de paz. Agora, como o que muda na situação atual? Que a guerra entrou nas cidades entrou nas cidades, querem nos levar a um cenário de guerra civil.

Há muitos anos trabalhamos em questões antimilitaristas, contra a ocupação militar, então tudo isso que vimos nos Estados Unidos com George Floyd, o que passa no México com os desaparecidos e os narcotraficantes, no Brasil com as milícias e as chacinas, nos atravessa por aqui e nos toca…

Cartazes colados por Taller Parresía

Por fim, nos interessa muito as diferentes expressões do anarquismo na região conhecida como América do Sul. Portanto, gostaríamos que vocês falassem um pouco sobre as forças envolvidas nas lutas anárquicas da região colombiana.

O anarquismo já nos acompanha há alguns anos e cada vez mais surgem pessoas afins à causa anárquica. É muito bonito ver isso na Colômbia, pois não temos uma tradição de anarquistas. Também temos mudado muito por conta da guerra, então cada vez mais nos inteiramos do que passa com nossxs irmãxs, estar como no meio do caminho entre São Paulo e São Francisco, na Califórnia, nos permite um intercâmbio muito interessante. Bogotá é uma cidade que tem uma expansão do anarquismo muito interessante de acompanhar. De qual forças se poderia falar? A feminista é muito forte, também a luta ecológica tem tomado muita força. E bem… vemos que proliferam muito agora as ações diretas de arte urbana, um movimento muito ativo de denúncia, além dos indígenas de Cauca e os processos de liberação da mãe terra, as organizações negras e camponesas. Em todo o que temos semeado com todxs xs companheirxs que passaram por aqui e se solidarizaram com as comunidades e coletivos neste território. A luta anárquica pode se encontrar de muitas maneiras muito bonitas de experimentar.

Agora sobre as armas? Para nós isso é muito complicado de abordar. Recentemente um amigx da Flor do Asfalto, uma ocupação na região portuária do Rio de Janeiro onde conhecemos nossxs companheirxs, me falava do cenário de guerra civil que está ocorrendo agora na Birmânia e isso já acontece com nós em apenas 15 dias do último levante.

Por outro lado, essas gerações se formaram com a resiliência – e como analisa o Núcleo de Sociabilidade Libertária (NUSOL) em São Paulo, isso pode ser uma deriva ao fascismo –, outros como nós nas lutas antimilitaristas e na resistência cultural, onde aprendemos e não tenderíamos como nos posicionar de outro modo. Penso que temos vindo fazendo já ha muitos anos. Vamos ver como se desencadeiam os acontecimentos. Por agora se está vendo muito apoio internacionalista, também muitos migrantes colombianos agitando e denunciando, então o importante é não ficarmos sozinhxs.
Há dois dias estava ocorrendo um bloqueio de uma via nacional, chegavam gente de todos os povos do oriente, de Antioquia, do departamento de Medelín… e houve shows, queima de pneus, cozinha comunitária e montamos uma oficina de serigrafia. Então algo passou para que a gente consiga fazer isso, amanhã voltam as manifestações e assim estamos…

“Estado Assassino” – Grafite nas ruas de Medelín denunciando o terrorismo de estado.

PARA SABER MAIS:

Colômbia Perdeu o Medo – A Revolta Segue em Todo o País Enfrentando a Violência de Estado

Video: Revolta e repressão na Colombia, por coletivos Antimídia e Submedia


EN ESPAÑOL

Las noticias que nos llegan indican que la insurrección que tomó las calles comenzó con una lucha contra la reforma tributaria que el gobierno de Iván Duque intentó aplicar . Sin embargo, nos parece interesante tener en cuenta el contexto de las recientes luchas en los territorios donde se producen las insurrecciones, sobre todo porque hace menos de dos años las ciudades colombianas ya habían sido escenario de masivas e intensas manifestaciones. Por lo tanto, nos gustaría que comentaras un poco sobre el proceso de luchas que se está dando actualmente en el territorio dominado por el Estado colombiano y cuál es la relación con las luchas que precedieron a este momento.

Si como comenta ustedes es un acumulado, y no solo nuestro sino con todo el pueblo y nuestrxs amigxs en america latina, vivimos el 2013 en Rio de Janeiro, seguimxs las jornadas de nuestrxs amigxs en chile y valparaiso, estubimos al tanto de lo que acontecia en el alto en la paz, y en quito. todo nos puso en schock en cada momento.

Ademas la ejecucion de Marielle, la de Santiago, Bertha, los 43 de ayotzinapa y tantos excombatientes que le apostaron al proceso de paz en colombia, los lideres sociales, a los miles de detenidos y desaparecidos politicos y a todos que han sufrido el drama del desplazamiento/migracion venezolana y la mesoamericana.

Pero para nosotros todo se vuelve mas intenso con la necropolitica de este estado, hemos seguido el caso de las ejecuciones extrajuciales, llamados falsos positivos, jovenes pasados como guerrilleros muertos en combate que causo miles de desaparecidos y ejecuciones selectivas por parte de los militares para rendirles cuentas al financiamiento de EEUU. Ademas el desastre de la represa que secuestro del rio cauca y en su llenado cubrio las tierras del cañon con cientos de fosas comunes, llamada hidroituango.

Todo ha sido muy intenso de hace unos dos años para la fecha, pues el estado colombiano es una mafia y se organiza como tal para exterminar al pueblo, y toda forma de organizacion y de vida. Ademas de tener super organizado sus frentes paramilitares y todo el asunto del la produccion y circulacion de la cocaina que ahora se sabe que esta al mando de los carteles mexicanos.

En 2019 en noviembre nos sumamos y extrañamos que ustedes en sus ciudades no, a las jornadas en chile, la paz y quito, nos movio mucho estas barricadas que aparecian en las ciudades andinas, y mismo desde medellin, casi donde terminan los andes o entre los andes.

Fuimos documentando todo este proceso insurrecional :: y lo mapeamos y lo narramos :: porque pensamos que que las luchas nuestras acciones van mas alla de esta carcel q nos montaron como la patria.

Esta fue una reseña de las jornadas de noviembre y diciembre del 2019 en Medellin ::  y esta la forma de confrontacion que se presenta con el escuadron antidisturbios;

Algo a reseñar es que igual que ustedes vivimos una ocupacion militar del territorio y esto nos expone demasiado y hace que la lucha muy complicada de llevar, por el miedo y la capacidad del estado de exterminar a los que involucran en este proceso.

El territorio conocido como Sudamérica tiene una historia muy intensa de revueltas. En la última década ha habido varias… podemos recordar, por ejemplo, la insurrección que tomó las calles de las ciudades brasileñas en junio de 2013 o el llamado estallido social que se hizo evidente en territorio chileno en octubre de 2019. A pesar de sus diferencias entre las fuerzas implicadas y los efectos producidos, en general se trataba de una lucha contra el aumento del coste de la vida, lo que significa directamente una lucha por la vida y contra la miseria producida por el capitalismo y el Estado. Y nos parece que la revuelta que se está ocurriendo actualmente en territorio colombiano tiene algunas características en común. ¿Cómo analizan esta relación?

Si, hay mucha hambre, mucha miseria asi descarada y la gente no aguanta mas esto, esto ha hecho que mucha gente se sume al trabajo de denuncia, otros pongan el cuerpo para enfrentar al escuadron antidisturbios, y a la policia. y las comunidades indigenas, campesinas, y negras a los militares. por eso nos hemos dedicado a analizar el proceso de insurreccion confrontado con el proceso de devastación de america latina para entender las tacticas, las formas de permanencia en el espacio urbano y las formas de hacer las denuncias, no solo localizadas sino hablandole a los compañerxs latinoamericanxs.

Nos atraviesan muchas causas y cuestiones comunes, la migracion/Desplazamiento, las masacres, el proceso de devastacion y el extractivismo, las gentrificaciones, por alguna razon nos han separado pero en esas mismas fisuras hemos logrado conectarnos, conocernos y afectarnos por todo aquello que sentimos que es parte de nuestra apuesta de permanencia en el territorio y sobre todo la calle.

Vivimos la intencidad de las jornadas de junio en Rio en 2013, volvimos para las olimpiadas, y bajamos por montevideo y buenos aires, conociendo todo lo que estaba pasando, cuando volvimos a colombia vimos como se le negaba la posibilidad a los guerrilleros de entrar en un proceso de paz, y como se tomaba por asalto el estado brasilero y el colombiano, toda esta experiencia en estos acontecimientos ha llevado a que nos comprendamos de una forma diferente y que nos mantengamos atentos a lo que acontece.

Todo esto nos llevo a buscar en la grafica latinoamericana un lugar comun para narrar y presentar las denuncias en la calle, y asi lo hemos venido haciendo desde el 2019 :: https://caosdisfuncional.medium.com/del-miedo-en-el-meme-al-cartel-en-la-calle-un-virus-que-expande-en-el-valle-de-aburr%C3%A1-9b822626ec11 y esto nos ha servido para organizarnos, tener una disciplina y a crear cierta forma de consensos para permanecer juntxs. https://www.instagram.com/tallerlaparresia/

La pandemia de Covid-19 ha afectado, sobre todo, a las clases populares tanto por el número de muertes como por el aumento de la miseria y el empeoramiento de las condiciones de vida. Al mismo tiempo, el riesgo de infección ha vaciado las calles en algunas regiones y ha actuado como una barrera para las grandes movilizaciones callejeras. ¿Cómo analiza esta relación, ya que una de las reformas que Duque pretende implementar afectaría directamente al sistema de salud colombiano?

Eso es brutal, como la pandemia saco todo lo que estaba escondido y porfin la gente sintio en verdad que estaba aconteciendo. Ahora no pienso tanto en el virus, aunque sigue ahi y los contagios y las muertes aumentan, solo es ver lo que les pasa a ustedes, esa aparicion de las fosas en SP y en Manaus.
y si la calle se vació, mas aca en medellin fue por unos 3 meses, despues vinieron unas protestas contra la brutalidad policial para septiembre del 2020 que nunca antes se habia visto, el centro era una barricada, y recordaba mucho los jovenes saliendo de los barrios como cuando bajaban de la Rocinha o las manifestaciones en la avenida presidente Vargas en Rio.

En cuanto a la salud, es un negocio, las vacunas, los tratamientos, las formas de hospitalizacion. es brutal todo esto. por otro lado se ha explorado el cuidado colectivo, y las formas de mantenernos fuertes en lo q acontece y nos afecta al cuerpo; https://caosdisfuncional.hotglue.me/
Ahora el estado colombiano esta sacando la salud publica a las clases popularles, y los va dejar sin el servicio de salud, se esta generando todo un proceso de eugenesia, y solo sobreviveran aquellos que sean mas concientes de su cuerpo y tengan la posibilidad de cuidarlo.

Este proceso de desmantelamiento de la salud publica y la educacion esta dejando para todos unos problemas muy grandes y muy urgentes de atender, por un lado se me hace importante que tomemos estos procesos y los atendamos por cuenta propia, mas pensando en las clases populares es interesante como se han vuelto a las formas comunitarias de como empezaron los barrios; los cultivos, las autoconstrucciones, las formas de encuentro en la calle, esto parecia exterminado, mas empezamos a ver que esta memoria vuelve.

Hemos recibido varios videos e imágenes de terrorismo de Estado con asesinatos, torturas y otras formas de agresión por parte de la policía colombiana. Sabemos que no se trata de un hecho aislado, ya que es una acción habitual de todos los Estados, especialmente cuando una movilización ataca el orden y la paz de los ricos. ¿Cómo está estructurada la policía colombiana y cuál ha sido la historia de la represión policial contra las manifestaciones?

El escuadron antidisturbios ESMAD es una cosa brutal, estan mucho mas equipados que el choque de ordem, que la guendarmeria y los carabineros, es una mezcla de robocop y batman, y tienen una letalidad brutal, el enfrentamiento con ellos es casi imposible mas cuando uno ve a los jovenes parados frente a ellos piensa mucho en lo que se ha vuelto esta lucha, una cosa ya desesperacion absoluta. Ademas ahora con las tanquetas que los acompañan y que fueron adquiridas en pandemia, se llaman las Venom y tienen un disparador de mas de 24 tiros de todo tipo de balas recalsadas, aturdidoras, y cargas tanto disuasivas y letales.

La policia, esta formada por varios organismos, la sijin que son unos asesinos muchas veces de civil esos deben ahora estar montando tremenda persecusion, la policia de verde, y otra que apoya a los antidistubios, eso es algo muy brutal, apoyando a los frentes paramilitares fuertemente armados, como se puedo ver en la ciudad de cali hace dos dias.

Ya llevamos mas de 20 años con el ESMAD y hemos exgidio su desmonte, apenas ahora 16 años despues condenan a uno de ellos por asesinar a Nicolas Neira un joven anarquista de 15 años en bogota.

Ahora se cuenta mas de 40 muertos en estas jornadas, unos por el ESMAD, otros por paramilitares y policiales. y algo de lo que no hemos hablado es los desaparecidos, ya van llegando a los 1000, y esto frente al acumulado de la guerra en colombia que se cuentan por miles. Medellin y antioquia son los mas afectados por este flajelo (https://caosdisfuncional.medium.com/desaparici%C3%B3n-forzada-en-antioquia-colombia-6a457f765b23).

¿Hay algún debate sobre la autodefensa en las calles? ¿Hay algún debate por parte de los movimientos y colectivos sobre la abolición de la policía, por ejemplo?

La palabra autodefensa no se emplea por que para nuestro contexto es parte de lo que proponen los grupos paramilitares de organizacion y enfrentamiento a las guerrillas y al pueblo organizado. No sabria decir cual es el tipo de debate, se habla mucho de los cuidados y de la organiacion en Minga que proponen los indigenas del Cauca, que involucra trabajo colectivo y organizacion horizontal y proteccion.

y si, acerca del asunto policial/militar si hay mucho debate hace muchos años, la campaña por el desmonte del esmad, y tantas otras contra el terror de estado, de hecho todo esto junto con la JEP, juridisccion especial de paz, y la comision de la verdad que se abrieron del proceso de paz, aunque esto puede fracasar como la experiencia de ustedes con la comision de la verdad, se ha logrado exponer con claridad como es el terror de esta guerra, ahora que cambia la situacion actual? que la guerra entro a la ciudades, nos quieren llevar a un escenario de guerra civil.

Ya hace muchos años trabajamos en las cuestion antimilitarista, en contra de la ocupacion militar, entonces todo esto que vimos en estados unidos con George Floyd, lo que pasa en mexico con los desaparecidos y los narcos, con brasil con las milicias, las chacinas pasa por nosotros aca y nos toca…

Por último, nos interesan mucho las diferentes expresiones del anarquismo en la región conocida como Sudamérica. Así que nos gustaría que hablaras un poco sobre las fuerzas involucradas en las luchas anárquicas en la región colombiana.

El anarquismo ya viene desde hace unos años con nosotrxs, y cada vez mas, muchas gente a fin a la causa anarquica, es muy bonito ver eso en colombia, por que no tenemos una tradicion de anarquistas, tambien hemxs migrado mucho por la guerra, entonces cada vez mas nos enteramxs que pasa con nuestros hermanxs, estar como en la mitad entre san pablo y san francisco en california nos permite un intercambio muy interesante, Bogotá es una ciudad que ha tenido una expancion del anarquismo muy intersante de seguir. De que fuerzas se podrian hablar? la feminista esta muy fuerte, tambien la ecopolitica pienso ha tomado mucha fuerza, y bueno vemos que proliferan mucho ahora las acciones directas del arte urbano, un movimiento de denuncia muy activo, ademas los indigenas del cauca y los procesos de liberacion de la madre tierra, y las mismas organizaciones negras, hasta las campesinas. En todo lo que hemxs sembrado con todxs los compañerxs que han pasado por él y se han solidarizado con las comunidades y colectivos en este territorio. La causa anarquica puede encontrarse de muchas maneras muy bonitas de experimentar.

Ahora acerca de las armas? eso es muy complicado de abordar para nosotrxs. Ahora un amigxs de la flor do asfalto aquella ocupacion en la zona portuaria de Rio donde conocimos a nuestros compañeros, me hablaba del escenario en Birmania de guerra civil como esta acontenciado ahora, y esto ya acontece con nostrxs en apenas casi 15 dias de el ultimo levantamiento.

Por otro lado estas generaciones se formaron con la resiliciencia y como analiza el NuSol en SP esto puede ser una deriva al fascismo, otros como nosotrxs en las causas antimilitaristas y en la resistencia cultural, de ahi aprendimos y no tendriamos otra que posicionar esto, y pienso que lo hemxs venido haciendo hace ya muchos años. Vamos a ver como desencadenan estos acontecimientos, por ahora se esta viendo mucho apoyo internacionalista, tambien muchos colombianos migrantes agitando y denunciando, entonces lo importante es no quedarnos solxs.

Hace dos dias estaba en un bloqueo de via nacional, llegaba gente de todos los pueblos del oriente de antioquia, el departamento de medellin, y hubo concierto, quema de llantas, olla comunitaria, y montamos el taller de serigrafia, Entonces algo ha pasado para podamos hacer todo esto, mañana vuelven las movilizaciones, y asi estamxs…

Solidariedade à Greve de Fome nas Prisões Chilenas – vídeo por Antimídia e Insurrectas

 


Desde o dia 22 de março 2021, um grupo de pessoas subversivas e anarquistas, presas em 4 cárceres chilenas, está fazendo uma greve de fome contra as medidas repressivas realizadas pelo Estado do Chile. A reivindicação central é a Revogação das últimas modificações feitasna lei 321, que desde 1925 regulamenta o acesso à chamada liberdade condicional no território dominado pelo estado chileno.

Em linhas gerais, com essas modificações, a liberdade condicional, que antes era um direito de todas as pessoas presas, se transformou em um benefício. Os critérios para esse acesso foram ainda mais endurecidos, incluindo a exigência de uma ótima conduta da pessoa presa, avaliada pelos próprios agentes do Estado, e o aumento para a necessidade de ser cumprir 2/3 da pena atrás da grades e não mais metade do tempo, como era antes. Como se não bastasse, as alterações na lei foram aprovadas de forma retroativa, ou seja, todas as pessoas condenadas antes mesmo de sua aprovação passam a ser submetidas a ela.

Como a liberdade condicional deixa de ser um direito e se torna um benefício, como um ato de graça e benevolência da autoridade, isso cria, na prática, um tipo de prisão perpétua encoberta, que atingirá principalmente  as pessoas presas no contexto da guerra social e da insurreição permanente.

A mobilização e a greve de fome também têm como outra reivindicação a liberdade imediata para Marcelo Villaroel, companheiro subversivo que já soma mais de 25 anos atrás das grades. Antes, ele poderia ter acessado à liberdade condicional em 2019, mas com a alteração no decreto de lei 321 a data foi alterada para 2036. Soma-se a isso o fato de que ele é atualmente o único prisioneiro mantido atrás das grades que foi condenado pela justiça militar.

CUMPLICIDADE E SOLIDARIEDADE IRRESTRITA COM COMPAS EM GREVE DE FOME NAS PRISÕES CHILENAS!

PELA REVOGAÇÃO DAS ÚLTIMAS MODIFICAÇÕES NO DECRETO DE LEI 321!

LIBERDADE IMEDIATA PARA MARCELO VILLAROEL!

QUE A SOLIDARIEDADE ATRAVESSE AS FRONTEIRAS DOS ESTADOS E OS MUROS DAS PRISÕES!
NINGUÉM FICA PRA TRÁS!


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