artigo: PARTIR DE ONDE ESTAMOS PARA A DIREÇÃO QUE QUEREMOS TOMAR*

*trecho extraído do texto Lutando no Brasil – sobre grandes mobilizações e o que fazer quando a fumaça se dissipa.

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Velhos programas e identidades: quem são os sujeitos nas ruas?

Além das vias bloqueadas, de viaturas e distritos policiais em chamas, sedes dos governos, bancos e estabelecimentos comerciais depredados e saqueados como em inúmeras cidades nos cinco continentes numa escala provavelmente inédita, os levantes que presenciamos também tem oferecido muito mais linhas de fuga do que adesão a plataformas ou programas. A negação de toda forma de autoridade, identidades fixas, ordem e controle parece ser o maior ponto em comum. Desde o jargão do “não me representa” até o ataque e tentativa de invasão de prefeituras, assembleias e câmaras municipais nas capitais mais importantes do país, percebemos que o que está sendo questionado é a própria representatividade, ou seja, o modo como somos governadxs na Democracia.

Cada vez mais uma geração se afasta do discurso e do direcionamento de partidos que não querem nada além de um dia poder jogar o jogo de dentro do mecanismo estatal. Trabalhadorxs que querem mudanças reais organizaram greves ilegais e entraram em conflito com a direção de seus sindicados, que se tornam cada vez mais uma ferramenta institucional de centralização e amortecimento das lutas, como foi o caso de garis, rodoviárixs e professorxs nesses últimos dois anos. Fato muito sintomático, principalmente depois que a era Lula trouxe para perto de si e domesticou sua base sindical e popular – tanto que nenhuma greve foi chamada durante todas as semanas de lutas de junho de 2013.

Quem foi o sujeito da Primavera Árabe? Ou da resistência no Parque Gezi? Nas revoltas de junho de 2013 no Brasil ou contra a Copa de 2014? O operariado? Os estudantes? A juventude? A classe trabalhadora precarizada ou camponesa? Quem ousaria demonstrar qualquer certeza sobre isso? Num mundo que pela primeira vez é mais urbano que rural, que caminha para automatização quase total da produção no campo e na cidade, muitas de nós já assumem posições cada vez mais predominantes no Capitalismo do século XXI: nos restam as classes precarizadas, terceirizadas, urbanas, que realizam o trabalho e os serviços que máquinas ainda não podem fazer. Cuidamos, operamos, consertamos e somos a voz que as máquinas não podem ter ainda. Limpamos balcões, abrimos portas, digitamos no computador, atendemos telefone em uma economia que aumenta cada dia sua produção imaterial e simbólica. Isso sem falar em todo o trabalho sexual, o capitalismo ilegal, o tráfico, e todas as pessoas excluídas de qualquer trabalho ou em situação de rua que não são citadas nas estatísticas.

Ao longo da história, definir a priori um sujeito unicamente responsável ou legítimo pelas mudanças e pelos conflitos necessários se mostrou um engano tolo, quando não serviu a estratégias que culminaram em traições de classe para manter a centralidade de vanguardas ou governos “legítimos”. Não havia apenas um sujeito, setor ou categoria marchando nas ruas, ocupando praças ou derrubando presidentes nos últimos grandes episódios de lutas sociais. Foi compartilhando o espaço para caminhar, para montar acampamentos ou defender nossa posição atrás de barricadas em chamas que começamos a construir relações e compartilhar valores. Nossa realidade não é tão uniforme a ponto de podermos definir com certeza onde cada uma de nós está. Não foram pessoas específicas que produziram as revoltas, mas sim as revoltas que estão produzindo novos tipos de pessoas.

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Não se trata de esquecer uma perspectiva classista da luta ou negar que ainda há fábricas e lavouras triturando nossos corpos e nossas vidas para que alguém saia lucrando. Mas sim compreender que o tecido social está se tornando muito mais complexo, assim como o modo de produção e acúmulo de capital está tomando novas formas – e nomes e conceitos que usamos desde o início da industrialização talvez não sejam o suficiente. Operariado e camponeses apenas compõem os 99% subjugados ao lado de precarizadxs das cidades, ambulantes, desempregadxs, excluídxs ou em situação de rua, trabalhadorxs de escritórios e cafés, profissionais do sexo, mas também profissionais liberais que se acham verdadeirxs detentorxs de um espírito empreendedor atrás de seu computador. Há tanta gente trabalhando na produção de coisas totalmente fúteis ou imateriais, como um telemarketing, um website ou um cappuccino gourmet, que auto-gerir seu trabalho junto a sua “classe” seria impossível sem manter em torno de si uma cadeia competitiva de demanda e consumo capitalistas. Não considerar essas mudanças no cenário e insistir em velhas teses e jargões ideológicos só vai nos jogar para o mesmo limbo onde estão os partidos e os sindicatos. Para estar na rua é preciso saber o que ela está dizendo e como está dizendo. Num país onde 2 milhões de jovens trabalham operando telemarketing, sugerir que a sua única saída é que tomem a gestão da produção do seu trabalho das mãos do seu patrão parece uma piada de muito mal gosto.

“Quando uma greve começa, o sujeito provavelmente é o operariadx. Quando vias são bloqueadas ou um espaço urbano é ocupado, o sujeito é quem quer que se oponha à forma como nosso mundo vem sendo organizado”. Se tomamos as ruas, se tomamos as praças, compartilhamos barracas, comidas, pedras ou primeiros-socorros, é porque demandamos estar no espaço nos relacionando de uma outra forma. O caráter de ocupar uma parte da cidade e torná-la aberta a quem quer que seja para se juntar e construir em conjunto novas relações com as pessoas e o espaço tem sido fundamental para dissociar a ação política e o “protagonismo” de uma identidade engessada, como “trabalhadores” ou “estudantes” – categorias identitárias simplesmente inacessíveis para crescente parcela da população no novo capitalismo – e abrir espaço para ação e a livre associação rebelde independentes do seu papel na máquina capitalista.

O Estado não esconde sua prioridade em articular operações de contra-insurgência para neutralizar a resistência popular. Bilhões de reais são investidos em armamentos, treinamento e tecnologia para conter protestos e rebeliões. Parte da esquerda tenta tomar a frente dos protestos e vender seus programas em meio às revoltas mais ingovernáveis de nossos tempos. É preciso entender o que as ruas dizem para não cair em nenhum dos dois engôdos que tentam conter ou direcionar nossa indignação com base em noções do que é legítimo ou não-legítimo na hora de agir. A polícia e a mídia caminham juntas em suas operações por diferenciar “cidadãos de bem” e “vândalxos”, “manifestantes legítimos” e a “minoria infiltrada”. Essa operação tem como objetivo criar um discurso para conter a contaminação das ações radicais, que se espalharam como fogo em mato seco e, em seguida, isolar as alas mais radicais para serem esmagadas sem apoio ou visibilidade. Mas não muito distante disso é o efeito (mesmo que involuntário) da estratégia discursiva de quem ainda pretende diferenciar quem é o “sujeito” das revoltas, quem tem a legitimidade para conduzir sua revolução de quem tem o perfil “jovem”, “aventureiro”, desmiolado e pode ir para a cadeia desde que não atrapalhe o movimento. Ao criar uma noção de sujeito pré-determinado ideologicamente e um discurso de legitimidade para a luta, entre o que é crime ou não, o que é constitucional ou não, quem é “trabalhador”, “estudante” ou “juventude”, a esquerda tenta erguer uma blindagem para sua ação que deixa quem não cabe em seus quadros cair na vala comum do “crime”, do “vandalismo”, do “espontâneo” e das “minorias infiltradas”. Categorias que serão úteis para Estado e para suas operações de intimidação, com punições exemplares, montagens, leis e penas aplicadas por acusações de “terrorismo” e “formação de quadrilha” – ou simplesmente com base em termos genéricos como propagar a “desordem”. Pessoas excluídas ou que escolheram não participar de certos papeis no Capitalismo também não serão convidadas a participar de movimentos ou de uma revolução com papéis claros e de limites bem determinados. O destino é o mesmo: prisão, silenciamento, inviabilização e morte.

Não queremos apenas tomar o meio de produção burguesa e sua ideologia de fé no progresso, na ciência e na razão de uma forma mais “humanizada” ou “igualitária”, mas sim tomar o espaço e construir outras formas de se relacionar e produzir o que queremos e o que desejamos nos territórios que liberarmos do Capitalismo. Essas experiências e aprendizados talvez sejam a herança de nossa época para os próximos levantes. E talvez a única coisa concreta que podemos oferecer sejam soluções e saídas libertárias para os problemas que estão surgindo agora, impostos pela vida no Capitalismo. Seja durante os momentos de mobilização e conflitos sociais ou fora deles. Soluções que sejam fáceis de se apropriar e difundir em qualquer luta de resistência. E não programas fechados ou pacotes de soluções hipotéticas para problemas que ainda não estão em pauta. No entanto, não deixa de ser fundamental também debater os valores e perspectivas que vamos cultivar até que chegue o momento de solucionar os problemas bem maiores que ainda virão com a falência total desse sistema.

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E se não demandarmos nada? (ou danem-se os 20 centavos!)

Dentro dos movimentos autônomos, no qual estão inseridos o MPL e as frentes de luta contra o aumento em diversas cidades, uma narrativa vem ganhando espaço: a ideia de que todo movimento precisa “encontrar seus 20 centavos”. Ou seja, apresentar uma pauta concreta, uma demanda “única e clara” que seja possível de ser alcançada num curto prazo deve ser o foco de qualquer movimento que queira obter resultados concretos. Essa narrativa se baseia na experiência da luta contra o aumento que saiu vitoriosa em 2013, para dizer que “política é medida por resultados” e que “nossa força está em encontrar os 20 centavos” de cada luta que travamos.

Porém, declarar nossa “demanda única” contra o aumento de 50 centavos de 2015, não bastaram para atrair força para a luta, sobrepor o silenciamento da mídia ou mesmo arrancar alguma declaração dos governantes. Uma grande derrota apenas um ano e meio depois da maior vitória do movimento que nos leva a perguntar: o quanto podemos confiar que encontrar uma demanda única e possível vai nos garantir uma conquista duradoura? Ou como fazer com que uma vitória específica em um ano gere outras conquistas e avanços num futuro próximo, rumo a uma verdadeira mudança social? Como fazer para que nossas conquistas não caiam em reformas que apenas aliviam tensões e adaptam o Capitalismo aos novos tempos e que não passam de versões do que demandávamos, elaboradas pelos próprios governantes?

Quando falamos de movimentos sociais que tratam de questões materiais específicas e urgentes, como moradia, saúde, acesso a terras, impactos ambientas, etc, talvez a narrativa dos “20 centavos” seja útil ou estratégica para se manter o foco e uma luta que não pode esperar. No entanto, quando falamos em uma transformação social radical, um caminho que iremos traçar a longo prazo, talvez seja necessário outras formas de pensar nossa luta.

Esse sistema criou empregos para que não trabalhássemos juntxs. Escolas para que não nos educássemos. Hospitais para nos alienar de nossa própria saúde e auto-cuidado. Criou a polícia, os tribunais e as prisões para que não soubéssemos solucionar nossos conflitos ou que aprendêssemos com nossos erros. Criou governos para que não tomássemos decisões por nós mesmxs. Nos livrar de todas essas amarras será um processo geracional, assim como foi a criação desse sistema. A ordem burguesa do mundo moderno não foi criada da noite para o dia por uma dúzia de revolucionários.

Se temos como objetivo o fim do Estado e do Capitalismo, a última coisa que podemos esperar é que as demandas pontuais que fazemos e pedimos educadamente aos seus próprios líderes vão nos levar a esse objetivo. Uma ação política de demandas tem sua importância imediata, mas também seus limites e deixar que uma postura de apenas apresentar pautas únicas e “possíveis” nos coloca em uma posição de desvantagem ao reafirmar o poder nas mãos do Estado. Afinal, qualquer mudança só se torna real quando ele dá a palavra final.

Não só se organizando em torno de uma demanda única que vamos ter coerência e laços para lutar. Valores, objetivos complexos e visões de mundo são pontos em comum o suficiente para agir e cooperar pelo fim do Capitalismo. Pedir só vai nos ensinar a pedir. Se queremos algo, devemos também aprender a nos organizar para tomar. Quando encontramos pela frente um sistema tirano e autoritário, podemos escolher entre pedir pela sua saía ou organizar sua queda.

Não apresentar uma pauta clara e única não pode ser sinônimo de imaturidade ou desorganização. Como reduzir uma revolução anarquista em passos gradativos que vamos pedir e governantes vão nos dar de bom grado? Paralelamente às lutas por questões materiais urgentes podemos ir construindo relações, espaços, ferramentas e conhecimentos que vão aumentar nosso poder coletivo. Não devemos esperar permissão da lei ou apenas as vias constitucionais para isso ou qualquer outra ação direta que retome o controle de nossas vidas.

O MPL é um movimento de causa específica e clara: “transporte público gratuito, de qualidade e gerido pelxs trabalhadorxs”. Interessante, mas não é o suficiente para compor um horizonte político. Mesmo sendo um movimento que traz a bagagem de lutas anti-capitalistas, sua reforma, caso algum dia venha a acontecer, poderá ser útil a uma tendência do Capitalismo de adequar e até “humanizar” uma cidade. E talvez a reforma não seja o foco principal de movimentos como os que lutam pelo transporte. Talvez o ponto seja conduzir uma luta de forma autônoma e horizontal, servindo de referência para outros movimentos sociais no país, como é o de moradia e o de luta pela terra, para que um dia esse movimentos também se livrem de suas amarras verticalizadoras e autoritárias. Valorizar o processo de luta torna-se tão importante quanto o objetivo final, pois se buscamos uma sociedade libertária, temos que chegar lá por meios libertários. Mas muitas vezes “valorizar o processo” se torna “valorizar apenas o processo”. E esperar por esse momento em que outros movimentos radicalizem suas críticas e adotam os mesmo preceitos horizontais e autônomos em seus métodos não parece ser uma opção para muitas pessoas. Nem mesmo parece desejável apenas lutar para que um dia possamos ir da casa para o trabalho ou escola em um transporte “gratuito, de qualidade e gerido pelxs trabalhadorxs.

Se temos uma crítica radical ao Capital, temos uma crítica às cidades – que não passam de uma materialização da lógica capitalista e o palco principal para as relações de lucro e exploração. Pensar uma vida fora do Capitalismo é pensar o fim das cidade como conhecemos hoje. E isso inclui desenvolver habilidades e estruturas paralelas para resistir e enfrentar o Estado e a corporações enquanto suprimos por nós mesmxs nossas necessidades. Além disso, não é qualquer pessoa que tem os recursos e o tempo livre para ser “militante” em tempo quase integral, e especialista em causas extremamente específicas e reformistas, como é o caso do transporte coletivo urbano.

Não seria o caso também de opor a organização dos movimentos de massa, ou de uma divisão de quadros – organização e base – e da ação anarquista de livre associação de pequenos grupos em rede, como se devêssemos escolher entre um e outro. Tal oposição não leva a uma saída fácil e ignora que cada momento, pessoa, contexto e cada luta precisa de uma forma de organização e ação. Não é o caso também de recusar uma avaliação crítica que nos leve a escolher a forma de ação mais adequada ou desejada para nossos contextos.
Quanto aos movimentos sociais populares, como os de moradia ou por causas específicas, a participação anarquista ainda é muito reduzida se comparada aos movimentos ligados à partidos, à esquerda clássica ou marxista. A aproximação feita nos tempos de AGP ainda se mantém e o próprio MPL é um dos muitos grupos autônomos que, após mais de uma década, promoveram o diálogo e a articulação com movimentos de tradição mais verticalizada e autoritária mas que lutam por questões básicas e materiais que não podem esperar. Mas nem sempre essa troca é tão efetiva devido à própria rigidez hierárquica desses movimentos de massa e também de uma acomodação dos grupos conhecidos como “novos movimentos sociais”. Esses grupos, mesmo tendo uma herança dos movimentos anti-capitalistas autônomos e horizontais, como o MPL, não conseguem escapar da tradicional divisão de quadros políticos, organização e base social, típica da esquerda que já dá sinais de saturação e dificulta a aproximação de novos grupos ou indivíduos.

Essa forte presença e mobilização de movimentos sociais de massa é um elemento que diferencia o contexto brasileiro da maioria dos movimentos anarquistas dos países ricos. Movimentos sociais que envolvem milhões de pessoas em luta por recursos fundamentais negados pelo Estado e pelo Mercado são típicos de países pobres ou em desenvolvimento. Construir em conjunto soluções e métodos realmente libertários e não-autoritários para esse problemas, sem agir de forma paternalista e assumindo seu lugar de fala, ainda é um grande desafio para anarquistas que estão se organizando junto ou de dentro de ocupações urbanas, que desenvolvem projetos sociais nas favelas, periferias, no campo ou em comunidades indígenas do Brasil.

O fato de que diferentes tipos pessoas e grupos, de várias classes ou posições, se juntaram aos protestos desde 2013, se organizaram para avançar suas lutas ou criar novos grupos e movimentações tendo como referências coletivos anarquistas existentes já é um sinal de que novas formas de se organizar se apontam no horizonte. A partir desse interesse pode ser possível desenvolver projetos e formas de se organizar que tem ainda pouca visibilidade e difusão.  Não é o caso de se afastar dos movimentos de massa ou negar o bom trabalho que anarquistas executam dentro deles. Mas sim de consolidar estratégias e conquistas alinhadas com nossas perspectivas anarquistas que vão para além da centralidade e verticalização dos movimentos tradicionais de base – ou dos movimentos autônomos que reproduzem essa lógica. Muitas das pessoas que se juntaram às lutas nas ruas desde às Jornadas de Junho parecem mais interessadas em agir por si mesmas em conjunto e não apenas ser a base seguindo uma organização.

Para além dos movimentos sociais já consolidados, anarquistas também se organizam para construir as bases materiais de uma nova forma de vida. Espaços autônomos, okupas, redes de cooperativas e trabalhadorxs auto-geridxs, eventos, cursos e redes de apoio-mútuo vem sendo construídos para atender essa necessidade de se articular e se organizar fora dos protestos e ações nas ruas. Essas iniciativas são importantes para organizar a mudança que queremos, compartilhar habilidades e experiências, mas também para que possamos construir, tomar, roubar o que precisamos para viver ao invés de apenas pedir ou pressionar governantes e patrões para que cedam a nossas demandas.

Muitos desses coletivos ou espaços físicos surgiram após o refluxo dos movimentos anti-globalização ou vieram logo depois sob a influência desses acúmulos. E os que seguem até hoje sentiram a procura e o interesse das novas gerações após as ondas de mobilizações recentes. Esses espaços são ainda muito escassos, mas oferecem uma rica experiência a ser transmitida. Não é coincidência que as regiões ou sociedades que possuem uma grande tradição anarquistas são também as regiões que mais contam espaços autônomos e centros culturais radicais.

Caminhar sozinhxs, individualmente, como prega a ideologia burguesa e liberal, não vai nos levar a um confronto direto com a regras desse sistema. Nem mesmo irá enfraquecê-lo, minando seus recursos ou incitando outras pessoas a desertarem também. Precisamos nos encontrar, nos organizar, coletivizar e comunizar ferramentas para lutar e parar nutrir nossas necessidades vitais. Talvez anarquistas não consigam tão cedo fazer exatamente o que os grandes movimentos de esquerda fazem junto às camadas populares no Brasil. Mesmo assim, depender da participação ou da inserção do movimentos sociais clássicos para “legitimar” todas as formas e atuação e organização é confiar e esperar demais de uma forma de organização rígida e hierárquica que já se mostra insuficiente para tanta demanda por autonomia, participação e horizontalidade desde já.

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Nenhuma Paz Vai nos Proteger [Zine]

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Texto extraído do livro Balaklava e transformado em zine para maior difusão:

“O problema fundamental da não-violência vem quando ela atinge o status de um valor inegociável que, em tese, deve ser aplicado em qualquer lugar ou situação, por qualquer grupo, em qualquer contexto, simplesmente por ser a única forma correta de ação. No entanto, sabemos que defender a não-violência como princípio para todas as ações políticas de resistência simplesmente mascara e tenta preservar privilégios de classe, gênero e cor. É uma forma de agir ineficiente, mas também classista, racista e patriarcal. O pior preço pago pelo pacifismo talvez seja jogar a violência cada vez mais sobre as minorias e desempoderá-las quando mais precisam reagir para defender sua própria existência.”

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